SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Hoje com 37 anos, cinco vezes eleito o melhor jogador do mundo e prestes a disputar sua quinta Copa do Mundo, o português Cristiano Ronaldo cogitou desistir de ser jogador de futebol no final do século passado.

Descoberto pelo Sporting na ilha da Madeira, onde nasceu, ele foi levado a Lisboa para dar continuidade aos estudos e treinar nas categorias de base do clube da capital de Portugal.

E a adaptação foi dificílima, se é que se pode dizer que tenha existido.

Cristiano Ronaldo, então com 12 anos, sofreu com bullying de colegas de colégio, devido ao sotaque que tinha, originário de sua terra natal. E isso o tornava agressivo.

Também sentia muita saudade da família e dos amigos que deixara para trás, a uma distância de 860 km, ao se propor o desafio de tentar ser um jogador profissional.

Sentindo-se sozinho e afrontado, Cristiano Ronaldo chorava constantemente, e a situação o fez pensar em abdicar do seu sonho.

O relato das dificuldades do CR7 para seguir no futebol está, segundo o tabloide The Sun, no recém-lançado livro "Messi vs. Ronaldo: One Rivalry, Two GOATs, and the Era That Remade the World's Game" (Messi contra Ronaldo: uma rivalidade, dois GOATs e a era que refez o jogo no mundo), dos jornalistas Joshua Robinson e Jonathan Clegg.

GOAT é a sigla de "greatest of all time", ou "o melhor de todos os tempos" ?no caso, o melhor jogador da história do futebol.

De acordo com a obra, as constantes provocações relacionadas ao seu sotaque enervavam Cristiano Ronaldo a ponto de ele discutir asperamente e entrar em brigas na escola.

Em um episódio, no qual considerou que um professor estava zombando dele, atirou uma cadeira na direção do docente.

A situação conturbada estendeu-se, e o Sporting achou por bem, em vez de mandar Cristiano Ronaldo de volta para a Madeira, desmatriculá-lo, direcionando-o apenas ao que ele fazia de melhor: treinar e jogar futebol.

A atitude é contestável para qualquer um que valorize a importância da educação estudantil, porém não para o futuro craque, que vivia faltando às aulas e tirava notas péssimas.

O jornal inglês publicou que posteriormente o famoso camisa 7 declarou que tinha aversão aos livros. "Sempre senti que não era talhado para a escola. Então estudar para quê?"

Com 14 anos, Cristiano Ronaldo só se preocupava em correr atrás da bola. Não houve registro de novos problemas com seu sotaque, mas uma outra questão veio à tona.

O adolescente já sentia necessidade, para que pudesse ter vantagem no corpo a corpo nos jogos, de trabalhar intensamente a parte física ?os músculos bem definidos e a gordura corporal mínima são marcas do jogador?, só que o clube não permitia.

O acesso à academia, para musculação, seja em aparelhos específicos, seja com halteres, era restrito e feito somente com acompanhamento de especialistas.

O que fazia então Cristiano Ronaldo, que morava nas instalações de treinamento do Sporting?

À noite, quando todos dormiam, deixava o alojamento e entrava na sala de exercícios ?a conclusão é a de que ela não ficava trancada e que não havia vigias no local? para malhar.

Só que ele acabou descoberto por funcionários do clube e, além de ser repreendido, não pôde mais, pois o local ganhou um cadeado, dar continuidade ao seu plano de ganhar massa muscular.

Ao menos não ali. Pois ele não desistiu. Pegava baldes, enchia-os de água no vestiário e usava-os como se fossem pesos para desenvolver os bíceps.

Tinha mais: para apurar a parte técnica, levava laranjas do refeitório para, quando não estava em horário de treino, fazer embaixadinhas com elas, o que lhe trazia retorno no controle de bola.

Assim, persistindo no que acreditava mesmo enfrentando percalços, Cristiano Ronaldo, estudos à parte, cresceu no Sporting. Destacou-se na base e obteve espaço no time principal, pelo qual estreou em 2002, aos 17 anos.

O resto ?a ida para o Manchester United, para o Real Madrid, para a Juventus e a volta para o Manchester United?, é história conhecida, repleta de gols (mais de 800), que inclui a conquista da Eurocopa de 2016 com Portugal.


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