DOHA (QATAR (FOLHAPRESS) - Tite precisou ser convencido por sua comissão técnica a dar uma chance a Raphinha na seleção. Quando o nome do jogador foi sugerido ao técnico, ele não se empolgou.

"Primeiro ele deu aquela resmungada. Depois, ainda questionou: 'mas a gente já tem um monte dessa posição'", conta à Folha Matheus Bacchi, filho e um dos auxiliares do treinador.

Todos da comissão técnica brasileira já tinham observado o atacante, à época no Leeds, da Inglaterra. Em, geral, antes de qualquer atleta ser apresentado ao treinador, o nome dele tem de passar por esse filtro.

"Eu não tenho tempo hábil e nem energia para fazer tudo. Então há um tempo hábil nessa prospecção de atletas", explicou Tite.

No caso de Raphinha, essa tarefa ainda acabou prejudicada pela pandemia de Covid-19. A crise sanitária impossibilitou os profissionais da seleção de fazerem um acompanhamento presencial como é de praxe.

"Dificilmente a gente convoca um atleta sem ter acompanhado ele ao vivo", explica Matheus. "Então, teve essa dificuldade [com o Raphinha] e a gente buscou o máximo de informações possíveis."

Segundo ele, o nome do atacante já estava no radar dos auxiliares desde a formação da lista para a Copa América de 2021, mas acabou não sendo chamado à época. A indicação de Matheus foi o que mobilizou o restante da comissão, como César Sampaio, responsável por buscar o histórico comportamental dele.

Eles não eram os únicos interessados no atleta nascido em Porto Alegre. Logo após os primeiros meses dele no futebol inglês, alguns dos maiores times europeus, como Chelsea, Bayern de Munique e Barcelona, também passaram a monitorá-lo.

Já os clubes brasileiros deixaram a joia passar. Revelado no Avaí, em 2015, equipe pela qual nem chegou a jogar como profissional, o garoto deixou o país rumo a Portugal, para jogar pelo Vitória de Guimarães, onde se profissionalizou.

Na Europa, ele teve uma rápida ascensão. Ainda em Portugal, passou pelo Sporting, à época comandado por Jorge Jesus, depois jogou por uma temporada no Rennes, da França, até chegar à Premier League, em 2020.

Sob a tutela do argentino Marcelo Bielsa, rapidamente virou titular e despontou como um dos principais jogadores na Premier League.

Mesmo assim, ele ainda era um desconhecido para o público brasileiro quando foi convocado por Tite pela primeira vez, em setembro de 2021. Sem nenhum clamor popular em torno de seu nome, ele foi escolhido para o lugar de Éverton Cebolinha, antigo xodó da equipe.

Em um ano com a camisa do Brasil, contudo, afastou qualquer desconfiança sob seu futebol. Logo em sua estreia, contra a Venezuela, em Caracas, foi o responsável por levar o time brasileiro à virada, com assistências para Marquinhos e Antony, em confronto pelas Eliminatórias.

Na terceira partida pela seleção, ganhou a chance de ser titular e aproveitou para conquistar também a confiança do torcedor brasileiro. Contra o Uruguai, teve uma atuação de gala e fez dois gols na vitória por 4 a 1, novamente pelo classificatório.

"Essa noite não precisava acabar nunca", disse na ocasião.

Foi o suficiente para ganhar a concorrência de atletas que já faziam parte do elenco de Tite há bem mais tempo para ser peça chave da equipe canarinho que seria levada para a Copa do Mundo no Qatar.

Fora da seleção, a carreira dele também estava prestes a mudar. Em julho deste ano, o Barcelona venceu a concorrência de outros times e tirou o brasileiro da Inglaterra. O clube levou uma vantagem emocional na disputa, já que Raphinha queria seguir os passos de Ronaldinho Gaúcho.

Quando o negócio foi fechado, o atacante recebeu uma ligação do ídolo. "O Ronaldo me mandou vídeo, ligou para o meu pai e me deu parabéns. Fiquei mais feliz do que já estava", disse.

Ele também ficou mais tranquilo após as mensagens do ex-camisa 10. O jovem estava com receio de ir para o Barcelona às vésperas do Mundial e, durante o período de adaptação, não ter muitos jogos como titular.

"Sabendo que faltam menos de seis meses para Copa, tem que estar em atividade nos clubes, isso pesa na decisão, mas confio no meu potencial", disse antes de estrear pelo Barça.

Bastaram alguns meses, no entanto, para ele também conquistar a comissão do clube. Xavi, técnico do Barcelona, passou a ver no atacante características semelhantes às de Neymar e de Rivaldo. "Ele tem o perfil de um ponta puro, então, acaba se parecendo mais com o Neymar, mas chuta a gol como Rivaldo."

O gaúcho acumula, por enquanto, 18 jogos pelo clube, dois gols e quatro assistências em jogos oficiais.

Mesmo com as oscilações da equipe catalã nesta temporada, em que pelo segunda vez seguida acabou eliminada da Champions League na fase de grupos, Raphinha conseguiu se destacar no time, com boas atuações que carimbaram o passaporte dele para a Copa do Mundo.

Este é o décimo de uma série de dez textos sobre jogadores que podem surpreender na Copa do Mundo de 2022. Eles são publicados às terças-feiras.


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