DOHA, QATAR (UOL/FOLHAPRESS) - Uma escalada de conflitos internos e tensão no Qatar nos dias anteriores levou à proibição de cerveja no entorno dos estádios da Copa. O governo do país decidiu-se pelo veto a apenas dois dias do Mundial. A medida pegou a Fifa de surpresa e descumpriu acordos previstos para o torneio, embora o presidente da entidade, Gianni Infantino, diga que foi uma definição em comum acordo.
O Qatar fez concessões durante o período de preparação para o Mundial em relação às leis do país. Foi dada a permissão de venda de álcool nas Fan Fest. Ao mesmo tempo, foram dadas instruções para que não fosse incomodado quem fizesse protestos por direitos humanos ou da comunidade LGBTQIA+.
As medidas foram insuficientes para amenizar as críticas da imprensa mundial, principalmente a europeia. Os temas das condições de trabalho de imigrantes no Qatar e do respeito à orientação sexual continuaram a pautar boa parte da cobertura prévia à Copa.
Com as críticas, houve um acirramento por parte de membros do governo do Qatar em contra-ataque à mídia europeia. O ministro do trabalho qatari, Ali Din Smaikh Al Marri, afirmou que não aceitaria discurso de ódio e racismo contra o Qatar em novembro. Outro ministro de Relações Exteriores, Mohammed Bin Abdulrahmabi Jassim Al Thani, rebateu o que seria arrogância dos países europeus.
Há a informação na Fifa de que, em paralelo, houve uma disputa entre conservadores e mais progressistas dentro das autoridades qataris em relação às medidas pré-Copa. A pressão interna cresceu por reduzir as concessões feitas à Fifa. O Emir Tamim Bin Hamad Al Thani optou por vetar a venda de bebidas que seria feita horas antes do jogo.
Nos dias anteriores, já havia outros sinais de uma escalada das tensões do Qatar. Jornalistas que filmaram imagens nas ruas ?algo que estava autorizado? foram abordados por seguranças e orientados a apagar as imagens em diferentes pontos de Doha.
A Fifa foi pega de surpresa. Tanto que organizadores do Mundial tiveram de correr para mudar a programação a dois dias da estreia do Mundial. A patrocinadora Budweiser, prejudicada, colocou mensagem no Twitter chamando a medida de embaraçosa e, em seguida, a retirou.
Alinhado com o governo do Qatar, onde mora atualmente, Infantino logo minimizou o problema. Afirmou que a medida foi tomada de comum acordo entre a Fifa e o país e alegou problemas com o fluxo de torcedores só em uma cidade em Doha.
"Se essa é a única questão para Copa, eu vou assinar e ir para a praia. É uma decisão que foi tomada de forma conjunta entre Fifa e Qatar (o veto ao álcool). Toda decisão foi discutida. Haverá espaços Fan Fest onde podem comprar álcool, [com capacidade para] até 100 mil pessoas. Acho que, pessoalmente, se por três horas no dia você não pode beber, você vai sobreviver. Nós tentamos ver se era possível", disse Infantino. "Quando você tem planos, e olha o fluxo das pessoas, a segurança, essa Copa é diferente. Tem quatro jogos no mesmo dia. Temos que garantir que haverá fluxo. Por isso, tivemos que tomar essa decisão."
Foi uma entrevista marcada pelo discurso de uma hora do presidente da Fifa em que repetiu o mantra dos governantes do país-sede de atribuir as críticas ao país a ataques de europeus. Infantino, que é suíço, chama de hipócritas os europeus que fazem denúncias contra o Qatar. Não soou bem à imprensa europeia, mas certamente gerou sorrisos entre os qatari.
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