MANAUS, AM (FOLHAPRESS) - Desde a década de 1990, em época de Copa do Mundo, o eletricista Everton Vieira, 40, participa da decoração da rua 3 do bairro Alvorada, na zona oeste de Manaus.

O pai dele, Emídio Lopes, morto no ano passado por problemas cardíacos, foi quem iniciou a tradição na comunidade, com pinturas no asfalto durante o mundial de 1994, que aconteceu nos Estados Unidos.

Mas foi em 2002 que a comunidade começou a enfeitar a rua com bandeirolas, para participar de um concurso entre bairros, que escolhia a rua da Copa mais bonita de Manaus.

"Era tudo muito simples, poucas bandeiras, nada comparado com o que é hoje", relembra o eletricista. Neste ano, há pinturas no chão e 32 mosaicos que homenageiam Brasil, Qatar, o país-sede do Mundial, e o estado do Amazonas.

Além disso, há seis milhões de bandeirolas, amarradas em 30 mil quilômetros de linhas sustentadas por 2.000 metros de cabos de aço, com um custo de R$ 170 mil só de materiais. Para as pinturas, foram usados 300 litros de tinta.

Contando com as despesas do projeto, alimentação, artistas plásticos e seguranças que ficam no local até o final da Copa, o valor chega a R$ 200 mil.

A rua, que vira um ponto turístico neste período, teve destaque nas redes sociais da Fifa na semana passada. No último domingo (20), recebeu a visita de 20 mil pessoas, pelas contas de Vieira, mas em dias de jogos o número triplica.

E quando é a seleção brasileira em campo, a via chega a receber 100 mil pessoas, diz.

"Tanta gente passa por aqui que é necessário controlar a entrada. Essa movimentação toda ajuda muito os comerciantes e moradores, que aproveitam o momento para fazer uma renda extra, seja vendendo bebidas ou comidas", afirma Vieira.

É o caso de Roberval Pereira, 67, morador da rua 3 e dono de um bar na zona leste, do outro lado da cidade. "Nesta época eu dou um tempo no outro estabelecimento e me dedico para a Copa do Mundo aqui na minha rua. Minha casa vira o bar. Coloco uma televisão, umas mesas e cadeiras e os clientes chegam de todo lugar da cidade."

COMUNIDADE UNIDA

Também são os próprios moradores do bairro que trabalham na amarração das bandeirolas. Neste ano, cerca de cem pessoas se voluntariaram.

"Estamos todos com as mãos calejadas, mas ver que no final o trabalho vale a pena nos traz uma satisfação imensa", conta o eletricista.

Além do patrocínio dos comerciantes, um ano antes da Copa os organizadores iniciam a arrecadação de dinheiro com a realização de bingos, feijoadas e venda de camisas personalizadas com o nome "rua 3 do bairro Alvorada".

Em 2022, sabendo que a Copa seria realizada em novembro, o projeto foi apresentado para aprovação da comunidade em julho.

Em agosto foram iniciados os trabalhos sob a coordenação dos artistas plásticos Ricardo Caneiro e Cleudson Rodrigues, que se tornam espécie de funcionários da rua durante todo o período de jogos.

Natural de Parintins, município do Amazonas conhecido pelo festival folclórico dos bois-bumbás, Carneiro é contratado pelos organizadores desde a Copa de 2010, que aconteceu na África do Sul.

Ele conta que já recebeu convite de outros estados para fazer o mesmo trabalho, mas recusou.

"Para mim, é uma emoção muito grande trabalhar neste projeto, no lugar onde moro. Por mais que eu seja de outro município, eu moro em Manaus e neste período toda minha família se envolve neste trabalho", afirma.

Além dos mosaicos da bandeira do Brasil, do Qatar e dos símbolos do Mundial, Carneiro diz que também buscou, neste ano, regionalizar a ornamentação. "Fizemos um portal no início da rua que remete ao Teatro Amazonas. Também colocamos os bois-bumbás Garantido e Caprichoso, símbolos culturais do nosso estado."

Por também ser responsável pela manutenção da ornamentação, o artista praticamente se muda para rua 3 no período do torneio.

"Tenho que ficar até a final, pois pode acontecer de um cabo ou alguma linha arrebentar com algum temporal, como já aconteceu outras vezes, e nós procuramos deixar tudo perfeito durante toda a Copa."

Neste ano, a rua 3 foi uma das cinco de Manaus contempladas pelo edital ruas da Copa 2022, realizado pela prefeitura, com o apoio de som, iluminação, palco, banheiros químicos e telão para a exibição dos jogos da seleção. Segundo os organizadores, este é o único apoio dos órgãos públicos.

"Quem nos ajuda a transformar a rua e realizar este sonho são os moradores e empresários. Quando está tudo lindo e pronto, os políticos vêm nos visitar, mas fazemos tudo sozinhos, com o apoio da comunidade e o resultado encanta a todos. Essa é nossa maior alegria", conclui Vieira.


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