SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na maior cidade da América do Sul, o movimento do trânsito e dos pedestres nesta segunda-feira (28) obedeceu aos horários do Qatar, a quase 8.000 quilômetros de distância.

Enquanto a seleção brasileira punha os pés em campo no estádio 974 para enfrentar a Suíça pela Copa do Mundo, a avenida Paulista, na região central de São Paulo, tinha um dia atípico com trânsito carregado só até as 12h30, tráfego livre por mais de duas horas e uma volta à normalidade cerca de meia hora após o apito final.

No fim da manhã, próximo à estação Trianon-Masp todas as pistas nos dois sentidos estavam tomadas pelos carros, e as calçadas, por quem descia dos escritórios, a maioria a caráter. Um contraste com o cenário de apenas uma hora depois, quando o duelo começava e a via já estava esvaziada.

A redução no trânsito interferiu na tarifa dinâmica de aplicativos de carona, uma oportunidade para quem estava disposto a trabalhar enquanto boa parte da cidade parou. O motorista Antonio Garcez, 43, resolveu continuar com as corridas de Uber durante os jogos da seleção.

Instalou uma TV no painel de seu Toyota Etios para não perder nenhum lance importante. Na estreia da seleção, comemorou o primeiro gol do Brasil na Copa, no triunfo por 2 a 0 sobre a Sérvia, com passageiras dentro do carro. Às 11h40 desta segunda-feira, ele dirigia com um olho na rua da Consolação e outro no confronto entre Gana e Coreia do Sul.

"Uma corrida que normalmente sairia por R$ 20 acaba por R$ 50. A demanda cai um pouco, mas sempre tem alguém querendo ir para algum lugar no meio do jogo", conta o motorista.

Antes que os pedestres da Paulista sumissem, por volta das 12h um grupo com cerca de 20 estudantes do colégio Dante Alighieri passava com gritos ensaiados e tocando cornetas em direção ao edifício Saint Honoré, onde acompanhariam o embate. "Vai ser um jogo diferente da estreia, mas a seleção não vai sentir os desfalques de Danilo e Neymar", arriscou Enrico Toné, 14, citando os atletas afastados por lesão e apostando em um 3 a 0 para o Brasil.

A forte chuva que caiu sobre a capital ajudou a esvaziar as calçadas e atrapalhou os planos de quem saiu atrasado de casa para ver a partida. Segundo comerciantes, a queda no movimento foi semelhante à registrada na primeira participação da seleção no Mundial, na última quinta-feira (24).

A vendedora ambulante Ivanir Vieira da Silva, 60, seguiu o movimento dos clientes e foi para casa mais cedo. Não para torcer, pois Ivanir se decepcionou com as eliminações do Brasil em 2014 e 2018, além de ter se estressado com pedestres que reclamam ao ver a camisa da seleção à venda em sua banca de camelô.

"Vendi poucas coisas da seleção. Hoje, o anel e a pulseira estão tendo muito mais saída", conta a vendedora. "Outro dia veio um cara e ficou dizendo que a camisa é coisa do [presidente Jair] Bolsonaro. Eu perguntei onde que estava escrito o nome dele aqui, porque eu só consigo ler é CBF [Confederação Brasileira de Futebol]."

Ela começou a recolher suas coisas cerca de 15 minutos após o apito inicial e tomou o metrô para casa, na Vila Prudente.

As nuvens carregadas de chuva escureceram a avenida por volta dos 40 minutos do primeiro tempo, quando as calçadas já estavam quase vazias. Enquanto isso, a babá e cuidadora Marlene Barbosa, 50, pediu uma porção de batata frita do lado de fora de uma lanchonete na altura do número 1.471 da Paulista, sem TV à vista. Era uma das poucas pessoas sem interesse no que ocorria no Qatar.

"Estamos num momento tão complicado, tão triste, que fica difícil [torcer]", justificou. "É claro que [a Copa] é importante, mas eu passo nesta avenida todo dia às 6h30 e vejo tanta sujeira, tanta gente morando na rua. Não consigo me empolgar."

O movimento do tráfego se manteve fraco durante os 90 minutos de jogo. Por volta das 14h40, logo após o gol de Casemiro --que definiu o triunfo do Brasil por 1 a 0-- e com a partida já se encaminhando para o final, a pista no sentido Consolação chegava a ficar até 30 segundos sem que um carro cruzasse a esquina com a alameda Casa Branca.

A chuva durante a partida foi tão forte que molhou as mesas e os clientes embaixo da marquise do edifício Conde Andrea Matarazzo, em frente ao principal cartão-postal da avenida, o Masp (Museu de Arte de São Paulo). Os funcionários da lanchonete Charme da Paulista tiveram que colocar uma mesa bem no centro do seu corredor, entre o balcão e as geladeiras, para que algumas pessoas terminassem de almoçar.

Torcedores se acotovelavam dentro da lanchonete para ver uma televisão de 50 polegadas no fundo do salão. A maioria foi embora logo após o fim da partida. O movimento dos carros voltou à normalidade cerca de meia hora depois.


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