DOHA, QATAR (FOLHAPRESS) - Quando a França perdeu N'Golo Kanté e Paul Pogba, ambos fora da Copa do Mundo por causa de lesões, parecia improvável que a chave para reestruturar o meio de campo da equipe estaria nos pés do terceiro maior artilheiro da história da seleção.

Mas poucos jogadores poderiam se adaptar tão bem a uma mudança grande de estilo como Antoine Griezmann, 31.

Autor de 42 gols pela equipe francesa, ele possui técnica, inteligência e ritmo que o tornam capaz de se adaptar a múltiplas funções em campo.

Em cada jogo em que atuou no Qatar, o camisa 7 provou isso. Diante de Marrocos, segundo dados da Fifa tocou na bola em todos os setores do campo. Foram 48 participações, de tentativas de finalização a chutões da defesa. Sem cerimônia.

Eleito o melhor da partida, ele foi peça importante na construção do primeiro gol, anotado por Theo Hernández. E depois ajudou o time a segurar a vantagem com desarmes, dribles e bons passes, até Kolo Muani sacramentar a vitória por 2 a 0.

"Ele tem tanto prazer em desarmar quanto em fazer um passe. Com o pé esquerdo, ele tem a capacidade de iluminar o jogo. Sempre pensou coletivamente, tem uma generosidade acima da média", destacou o técnico Didier Deschamps.

Nas redes sociais, até o próprio Pogba brincou com o amigo. Postou uma foto e na legenda juntou o nome dele com o de seu também companheiro de seleção Kanté: "Griezmannkante", escreveu na legenda.

Com assistências para gols de Mbappé, Giroud e Tchouaméni, Griezmann também lidera o ranking do quesito, empatado com outros quatro jogadores, um deles, o argentino Lionel Messi.

"É muito libertador estar presente na relação entre defesa e ataque, ligado defensivamente e ajudando meus companheiros de equipe ofensivamente", afirmou Griezmann.

A polivalência dele será novamente fundamental para a França neste domingo (18), na final contra a Argentina, às 12h (de Brasília), em Lusail.

Será também a derradeira oportunidade de ele marcar um gol nesta Copa. Em 2018, ele anotou quatro vezes, incluindo na decisão contra a Croácia, vencida pelos franceses por 4 a 2.

Mbappé também deixou a marca dele no confronto. Os dois, agora, têm a chance de repetir um feito raro em Mundiais.

Em 92 anos de história, somente quatro jogadores marcaram gols em duas finais de Copa do Mundo. E o atacante Vavá, bicampeão do mundo com a seleção brasileira (1958 e 1962), foi o único que marcou em duas edições consecutivas.

Pelé também marcou em 1958, mas passou em branco na decisão de 1962 e só voltou a marcar na decisão em 1970. Depois foi a vez do alemão Breitner, com gols nas finais de 1974 e 1982. O mais recente a entrar para esse grupo foi justamente um francês, Zinédine Zidane, com gols em 1998 e em 2006.

Griezmann, no entanto, não parece se importar com isso. Desde que Deschamps mudou sua função, a maior preocupação é cumprir seu papel à altura.

Para isso, ele nem se importa de pedir conselhos para atletas mais jovens, como Youssouf Fofana, de 23 anos. Jogador do Monaco, o meio-campista tem passado dicas ao companheiro sobre como preencher os espaços sem a bola.

"No lado defensivo, ele [Griezmann] é notável. Ele vai bem no combate, tapa buracos. E, toda vez que toca na bola, tenta iluminar o jogo e faz isso muito bem. Ele é a imagem do time", elogia o lateral Koundé.

As boas críticas que ele tem recebido refletem bem a metamorfose pela qual passou desde que estreou no maior palco do futebol.

Em sua primeira Copa do Mundo, em 2014, ele se destacou atuando pela direita do ataque. Quatro anos depois, foi peça-chave na campanha do título jogando do outro lado. Desta vez, o lugar mais comum de encontrá-lo são nas zonas mais centrais do campo.

"Sem uma boa defesa não se ganham as grandes competições. Estamos todos focados nisso, mesmo que tenhamos jogadores de ataque [ajudando na defesa]", diz o camisa 7.

A leitura que ele faz do jogo também mostra um importante traço de sua personalidade. Ele não tem a vaidade que demonstra, por exemplo, Mbappé. Também não chega a ser um líder como o goleiro e capitão Lloris, 35, mas se apresenta justamente como alguém capaz de unir um grupo formado por diferentes personalidades.

A imprensa francesa costuma dizer que é o famoso "bon-vivant". Ele se dá bem com os companheiros e faz sucesso com a torcida.

Único jogador que esteve em campo em todas as partidas da França nas últimas três Copas do Mundo, ele terá mais uma vez neste domingo a chance de aumentar o carinho que já conquistou.


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