BÚZIOS, RJ (UOL/FOLHAPRESS) - Um despercebido que chegasse à Praça Santos Dumont, no centro de Búzios, poderia pensar que foi parar na Plaza Mayor, em Buenos Aires. Um telão no centro da cidade da Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, levou 3.000 argentinos para assistir uma das maiores decisões da história da Copa do Mundo, que terminou com o tri da Argentina ?em vitória por 4 a 2 nos pênaltis sobre a França (3 a 3 no tempo normal)? e muita festa.
O clima nas principais vias da cidade era de um pedaço de Argentina no Brasil. Camisas de Messi e bandeiras do país eram vistas à profusão, além de cânticos nas praias e muita gente nos bares. Os argentinos representam 20% dos 35 mil da população buziana. "Hoje é Búzios Aires", cravou o argentino Martín Rodríguez, que chegou há cinco anos na região.
Minutos antes de a bola rolar, o fluxo da cidade era todo para a praça ao lado da Rua das Pedras, onde turismo, gastronomia e comércio se fundem à beira-mar e a prefeitura instalou um telão para jogos da Copa do Mundo do Qatar.
Depois do apito inicial, a festa já era grande, com hino acapella, murgas, bandeiras e músicas de torcida para a seleção.
Quando Messi correu para a marca de cal e converteu a cobrança do pênalti sobre Di Maria, Búzios explodiu como em um jogo do Brasil. Gritaria, fogos, cervejas ao alto e muita comemoração para a Argentina, que abrira o placar no Lusail aos 23 minutos de jogo.
A catarse coletiva aumentaria quinze minutos depois, quando o gênio da camisa 10 achou Di Maria em passe magistral para ampliar a vantagem no placar. Uma imagem do Santo Diego Maradona apareceu na primeira fila. "É o nosso Deus", resumiu Miranda Bertolo, de 12 anos.
Durante o intervalo deu tempo até para encontrar uma "Abuela", repetindo a cena que viralizou no Qatar de uma senhora cercada dos hinchas argentinos. Um deles era o estudante Juan Ballestri, que resumiu seu sentimento. "Está sendo muito emocionante viver esse momento. Não consigo me sentir longe de casa com essa festa", afirmou.
Quem também não estava em casa era Diego ?"como Maradona", ele disse. Ele, sua esposa Ohana e seus filhos começaram a viagem na Argentina e irão até o Alasca. A parada para a final da Copa do Mundo foi no Brasil, em Búzios, de propósito: "Temos muitos amigos aqui. Paramos nosso trailer na frente da Prefeitura e viemos para a festa".
Em seus ombros vestindo a 10 de Messi, seu filho Federico, de 5 anos, orquestrava a festa da torcida para o tri da Argentina. Torcedores do Racing, eles agradeceram pelas fotos e carinho. "Você me fez muito feliz ao registrar esse momento, meu amigo", afirmou.
As crianças argentinas eram um assunto à parte em Búzios. Abraçadas aos pais ou pulando em meio às murgas e bandeiras, mostravam uma paixão pelo futebol nos olhares e sorrisos com a festa para o tricampeonato. Messi, para eles, já é uma divindade. "Eu o amo", afirmou Lionel, de três anos, obviamente nomeado em sua homenagem.
O segundo tempo, entretanto, foi um balde de água fria na alegria argentina. Mbappe, o vilão da festa portenha, colocou seu nome na história ao marcar duas vezes e levar o jogo na prorrogação. Mas os deuses reservaram a glória para Messi.
No tempo extra, o camisa 10 fez grande jogada e aproveitou o rebote de MacAllister para recolocar a Argentina na frente em uma das maiores decisões de Copa do Mundo em todos os tempos.
Nos pênaltis, Emiliano Martínez pegou a cobrança de Coman, e Camavinga bateu para fora. Coube a Montiel a cobrança decisiva para dar o tricampeonato à Argentina. De Lusail à Búzios Aires, a festa foi portenha.
MINORIA, FRANCESES EVITAM PRAÇA
Mas não havia só hermanos por lá. Com forte influência francesa desde os piratas na época da colonização até a atriz Brigitte Bardot, figura que colocou Búzios no mapa do turismo mundial e hoje dá nome à principal orla da cidade, alguns corajosos se arriscavam nos bares, mas evitavam o evento da prefeitura com telão.
"Não há um evento para todos os franceses como há o dos argentinos", explicou o empresário francês Daniel, para prosseguir: "Vamos assistir entre amigos, mas não se compara com a quantidade de argentinos. Tomara que eles chorem hoje", projetou, antes do jogo.
Também empresário, Jean-Jacques é buziano e filho de franceses. Depois de morar anos em Biarritz e retornar ao local, lembrou que havia mais compatriotas no passado. "Foram todos para a Bahia. Antes era jogo duro. Hoje somos minoria".
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