BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Não houve espaço para outra coisa neste domingo (18) na capital argentina, Buenos Aires. A manhã ensolarada foi usada para se locomover até um telão público (o principal, em Palermo), um bar ou casa de amigos.
Grupos de jovens caminhavam aos gritos e saltos pelas ruas, enquanto turistas de meia-idade preferiam o ar-condicionado nos bares.
Do lado de fora, disputava-se até um espaço para colocar a cara no vidro e acompanhar a partida pelo telão dos estabelecimentos.
O ambiente era tenso até Messi abrir o marcador com o gol de pênalti. Já no segundo tento, só se escutavam as canções do Mundial. O otimismo tomou conta do ambiente. Até que o silêncio se restabeleceu na cidade novamente quando a França empatou a partida.
Nas ruas da Recoleta, o terceiro gol da Argentina, já na prorrogação, levou os moradores em peso para os terraços, gritando "Messi! Ar-gen-ti-na". Quando a França empatou novamente, levando a partida para os pênaltis, ouviam-se palavrões e evocações a Diego Maradona.
"Em 2014 [na final contra a Alemanha] eu não estava tão confiante. Hoje é tudo diferente para mim, desde o começo acho que estamos com pinta de campeões, mesmo nas vezes em que a França empatou", dizia Iñaki Romeo, 26.
Outros estavam mais nervosos. As amigas Suzana e Madalena não aguentaram assistir aos pênaltis, que deram a vitória à alviceleste. "Agora pode olhar", festejou a segunda, quando a disputa terminou.
"Foi uma final de infarto", disse Giuliano Castro, 62, festejando sem camisa e abraçado a uma bandeira argentina. "Messi merece!"
Na Fan Fest, espaço armado em Palermo com telão que ficou lotado em todos os jogos da Argentina, houve correria no fim das cobranças. A multidão partiu a pé ou de carro para o Obelisco, onde se realizam as principais comemorações na cidade.
Os últimos dias foram vertiginosos para os torcedores argentinos que, sem ter podido ir ao Qatar, inventavam seus modos de torcer e alentar a seus compatriotas de alguma maneira.
Cafés e restaurantes tradicionais foram decorados com uniformes e elementos da seleção nacional. As crianças mais humildes, que não tinham dinheiro para comprar uma camisa da seleção, pintavam uma branca ou azul à canetinha com o nome de Messi e o número 10 e assim jogavam futebol na rua.
Houve quem visse imagens comoventes como essas nas redes ou na TV e organizasse vaquinhas para comprar os uniformes oficiais do ídolo para as crianças.
Quando se fala em futebol argentino se deve mencionar dois conceitos, a "mufa" e a "cábala".
Mufa é tudo o que você não pode fazer por achar que dá azar ou porque, da última vez que fez, seu time ou a seleção perderam. Ou mesmo porque acha que pode dar errado.
Nestes dias, fui buscar algo na farmácia. Um homem do meu lado pedia um antialérgico da prateleira. A atendente pegou um, e ele se irritou e disse "não, não, não, o do lado, esse está de ponta-cabeça". Ao perceber que eu o olhava atônita, me disse, sorrindo: "Você sabe, às vezes as coisas se definem por detalhes".
Em sua coluna no jornal El País, a excelente cronista Leila Guerriero contou com maestria como, em partidas da seleção, seu pai está proibido de ver os jogos, que ele nem aparecia, porque se ele bate os olhos na tela, segundo sua família, a Argentina leva gol.
A última vez havia sido quando ele assistia "O Poderoso Chefão". O streaming pifou e seus olhos se cruzaram rapidamente com o que ocorria no jogo. O filho adolescente carregou o pai para fora correndo, para andar com as cachorras até que o jogo acabasse.
A cábala, espécie de ritual de sorte, preferida dos portenhos neste Mundial tem sido rodear senhoras idosas que estejam festejando nas ruas com o novo hit da Copa, "La Abuela La, La, La".
A primeira foi Cristina, 69, habitante de Liniers, que contou sequer ver os jogos, porque não tem paciência, mas ficar tão eufórica que sai às ruas para celebrar com uma bandeira na mão.
Da primeira vez que saiu, foi rodeada por garotos da vizinhança, que na hora "compuseram" a musiquinha. Agora, a mania se repete em vários bairros da Argentina. Levar uma senhora animada para a esquina e cantar em torno dela foi o modo mais recente que inventaram os argentinos para comemorar.
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