SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Para quem já gravou videoparts nos melhores picos da Califórnia, um breve vídeo com um kickflip pulando a mureta e kickflip nosegrind 180º no caixote poderia ser algo corriqueiro. Mas Lucas Rabelo tem muitos motivos para comemorar a postagem que fez no começo do mês. Depois de seis meses sem nem remar um skate, o cearense está de volta aos treinos.
Lucas, de 23 anos, sofreu uma grave lesão quando vivia o auge da carreira. Havia sido vice-campeão de 2021 do Super Crown da Street League Skateboarding (SLS), evento que é reconhecido no meio como um Campeonato Mundial, e queria arrebentar em 2022, furar a bolha do skate.
Ainda em maio, antes do início da temporada, rompeu o ligamento cruzado anterior (LCA) do joelho esquerdo gravando exatamente uma videopart. A lesão é a mais grave entre as que são frequentes no esporte, e obrigou Lucas a não só passar por cirurgia, mas a ficar proibido até de subir no skate.
"Foi irritante, difícil de aceitar, porque eu estava sentindo que eu estava indo tão bem, podia melhorar muito, estava necessitando dessa melhora, e estava muito confortável com meu skate, com a minha pessoa. Era o ano que eu ia vir mais forte, estava me sentindo muito melhor, foi frustrante. Mas não foi algo que me fez ficar mais forte psicologicamente, mais preparado para as coisas que estão por vir", disse Lucas à reportagem.
Diferente de outros brasileiros que recentemente tiveram bons resultados na SLS, como Pamela Rosa, Letícia Buffoni, Rayssa Leal e Kelvin Hoefler, e que já furaram a bolha do skate, Lucas é um nome pouco conhecido fora da modalidade. Mesmo tendo sido vice-campeão mundial, sequer tem um perfil na Wikipedia, por exemplo.
ENTRANDO NO EIXO
Lucas é cearense de Fortaleza, de onde saiu aos 13 anos para morar no Rio Grande do Sul, convidado pelo empresário Rafael Xavier, o Rafinha, que prometeu aos avós do garoto que cuidaria dele como se fosse seu filho ?e assim o fez. "A gente tem uma relação de pai e filho. Eu sinto que ele é mais minha família do que a função profissional, de ser meu empresário".
Desde que se lesionou em maio, está morando com Rafinha, ainda que seu lar há algum tempo seja Long Beach, na Califórnia. Foi lá que ele se profissionalizou em 2020, depois de alguns anos já vivendo do skate. "Eu queria ser profissional nos EUA, sabia que precisava trabalhar um pouco mais, treinar, filmar videoparts. Me preparei não me preparando ao mesmo tempo. Andava pra buscar minha evolução, competia os campeonatos, para que acontecesse quando tivesse que acontecer".
E a verdade é que demorou um pouco. No mesmo ano que vem viria a ser vice da SLS, Lucas foi 41º no Dew Tour e 33º no Campeonato Mundial, no primeiro semestre. Na segunda metade de 2021, ele enfim deslanchou.
"É muito da cabeça. Acredito que manobra todo mundo tem, tem potencial de chegar, mas cabeça é muito importante. Quando tá com a cabeça em dia, se dedicando ao máximo, não só deixar a vida levar, quando você tem um propósito, as coisas começam a acontecer. Não que eu não fizesse por onde, mas tem a imaturidade, tive lesões... Uma hora vi que dava para chegar."
Quando chegou, Lucas se impôs. Foi quarto no Tampa Pro 2021, venceu o Last Chance (última seletiva para o Super Crown), ganhou o Pan Júnior e ficou em quarto nos X-Games 2022. Em maio, veio a lesão, que o fez passar a acompanhar o circuito só pelo streaming.
"As pistas pareciam perfeitas para mim, é o tipo de pista que eu gosto, com corrimão grande, amo andar em corrimão. Eu olhava e pensava: eu podia estar dando essa manobra aí. Mas ao mesmo tempo pensava que estou machucado, fazendo fisioterapia duas vezes ao dia, mas ia voltar em breve. Seja naquela pista ou em qualquer outra, vou estar dando minhas manobras".
QUASE LÁ
Lucas deve voltar a competir no Campeonato Mundial de Skate Street, marcado para acontecer a partir do dia 29 de janeiro nos Emirados Árabes Unidos. Provavelmente ainda não estará 100%, mas não irá perder a oportunidade de pontuar para o ranking olímpico.
A recuperação, porém, vai muito bem. "Até comentei com meu fisio que não sei o que eles fizeram, mas quando eu subo no skate parece que eu só fiquei uma semana off. Sinto como se nunca tivesse parado de andar", afirma.
Para a carreira, o objetivo é o mesmo. Fazer com que os já oito meses longe das pistas pareçam só uma semana. "Quero seguir melhor que 2021, que foi onde eu parei. Vejo que nada é impossível. Vou focar muito, quero ganhar uma etapa da SLS, ganhar etapa do World Skate, quero poder ganhar tudo. Esse ano vai ser o ano que eu estou de volta para fazer o que eu mais amo fazer, então vou me dedicar ao máximo"
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