RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) - Na quinta-feira (26), Camila, 33, amamentou o filho pela primeira vez desde que o bebê foi levado para um abrigo dias após ela dar à luz em um ônibus no Rio, no dia 16.

A criança foi levada por determinação judicial, baseada em parecer do Conselho Tutelar. Pesou na decisão o fato de os outros três filhos pequenos dela não possuírem documentos, não frequentarem a escola e não terem a vacinação em dia.

"Não tem nem como explicar [como foi rever o bebê], é uma emoção, muito sentimento junto. Parece que vai explodir, não dá para explicar em palavras.", disse a mãe após rever o filho em abrigo.

Segundo Camila, quando as assistentes sociais falaram que iam levar o seu bebê, ela pediu para ir junto com a criança, por que ele mama e tinha acabado de nascer. "Não deixaram nem registrar no meu nome.", disse.

A sua maior preocupação era pelo menos achar ele, saber onde ele está e ver ele, saber que ele estava bem. "Foram noites em claro sem dormir, só pensando naquilo: 'Cadê, cadê, cadê? Será que sumiram com meu filho?'. Foi a primeira impressão que eu tive, porque do jeito que eles fizeram foi surreal.", completa.

Na semana em que ficou sem ver o filho, Camila diz que os seios incharam e ela teve que bombear o leite e jogar fora, no banho, por não poder amamentar a criança.

Depois de uma semana procurando, eles dizem que só conseguiram saber a localização do recém-nascido na quinta-feira (26), após os advogados terem acesso aos autos do processo.

Por que as crianças não foram registradas?

Segundo os pais do bebê, eles moravam em um bairro, mas a casa pegou fogo e tiveram que sair. A sogra de Camila cedeu uma casa a família em num bairro mais distante, mas a vida era foi difícil, com muitas barreiras. "A gente sempre teve que correr atrás do alimento das crianças, sempre deixava para ver [a documentação] mais pra frente.", disse.

Camila também informou que o Conselho Tutelar os procurou em 2019, uma vez, na época do incêndio. Mas depois, não procurou mais.

"As questões financeiras atrapalharam muito a nossa vida, também. A gente sempre se virou sozinho, nunca dependeu dos nossos pais nem das nossas mães. Isso também dificultou, porque a gente mora longe de onde eles moram.", disse o pai do bebê, que completou ainda:

"Eu sustentei a maior parte da vida deles com material reciclável. Eu saía de madrugada, às vezes com 40 kg e andava até 5 km, porque o único ferro-velho aberto durante a noite ficava longe".

O que diz a Secretaria de Assistência Social

Segundo o órgão municipal, a família foi notificada e recebeu todas as orientações, inclusive o encaminhamento para comparecimento ao cartório para fazer a documentação de forma gratuita.

A 3ª Vara da Infância, Juventude e Idoso (VIJI) está atuando junto ao Conselho Tutelar da Taquara, aguardando o cumprimento das medidas protetivas.


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