MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - O recurso de 20 páginas apresentado nesta segunda (30) pela defesa do jogador Daniel Alves à Justiça espanhola tenta usar as imagens das câmeras da boate Sutton Barcelona -que gravaram os momentos em que o atleta esteve com um trio de garotas na área VIP e, mais tarde, quando entrou no banheiro- para colocar em dúvida o depoimento da denunciante.
Alves, 39, é acusado de estupro por uma das jovens, de 23 anos, na noite de 31 de dezembro do ano passado. O jogador está preso desde o dia 20 de janeiro no centro penitenciário Brians, na região metropolitana de Barcelona.
O recurso pede que ele fique em liberdade enquanto as investigações prosseguem. O jornal catalão El Periódico teve acesso ao documento.
Na visão do advogado Cristóbal Martell Pérez-Alcalde, que assina o despacho, as gravações "desmentem de forma radical" o testemunho da suposta vítima e indicam um clima de confraternização bem oposto ao do terror abusivo descrito. Além disso, mostram que a denunciante entrou sozinha no banheiro, e não levada por Alves.
As informações prestadas no depoimento, diz Pérez-Alcalde -segundo o jornal catalão-, "se revelam inconsistentes porque são imprecisas". O recurso descreve que o vídeo mostra a entrada da denunciante, da prima e de uma amiga na área VIP às 3h20.
Por 20 minutos, vê-se um grupo de cinco pessoas conversando "de forma lúdica e festiva, rodeado de muita gente", alega o documento da defesa. O local é descrito como um espaço aberto, que "está longe de ser um cenário de intimidação" que a jurisprudência considera necessária para "quebrar a capacidade e a autodeterminação da vítima".
Às 3h42, diz o recurso, é possível ver Daniel Alves indo sozinho ao banheiro. Após dois minutos, a jovem, "depois de passar algum tempo conversando com as suas duas amigas e um garçom", dirige-se à mesma porta por onde Alves havia passado, a do banheiro.
Perante a juíza, a suposta vítima declarou que Alves a pediu para o seguir por uma porta que conduzia, sem o seu conhecimento, a um pequeno banheiro.
O documento entregue nesta segunda ressalta que o jogador já se encontrava dentro do lavabo e a moça entra também sozinha, sem que Alves "lhe dê passagem ou abra a porta". Ambos permanecem lá dentro por 16 minutos, fora do alcance das câmeras.
"As imagens falam por si", escreve Pérez-Alcalde. Ele enfatiza que a mulher, em seu testemunho, "descreve como viveu um clima de terror, pavor ou dominação", cenário que, na sua opinião, as imagens "refutam".
As imagens "brigam e entram em conflito e contradição com a descrição feita pela denunciante", diz a defesa. "É aí que a dúvida nos assalta" e "permite questionar razoavelmente" que seu relato sobre o que aconteceu no banheiro possa "também ser adornado com elementos idênticos de distorção narrativa".
No recurso, o advogado também procura justificar por que Alves deu declarações erráticas, primeiro negando que houve sexo, e depois admitindo. "Isso encontra explicação natural e rudimentar na vontade de preservar a mulher e os filhos da conduta" talvez imprópria para uma relação sexual.
Para pedir a liberdade provisória do jogador, o advogado diz que, no dia 20 de janeiro, Alves foi voluntariamente à polícia. Em segundo lugar, que ele é casado e que tem laços familiares e empresariais em Barcelona.
Por fim, propõe que o jogador vá diariamente ao tribunal para assinar presença, que entregue o seu passaporte, que seja estabelecida uma medida cautelar de 500 metros de distância da denunciante e que esteja proibido de se comunicar com ela de qualquer maneira. Oferece-se ainda para depositar a fiança que o tribunal julgar cabível.
Além da contradição de ter dito inicialmente que não conhecia a jovem, Alves tem que enfrentar algumas evidências que vêm sendo coletadas pela polícia, como os fatos de a denunciante ter saído chorando do banheiro, sêmen ter sido coletado no banheiro e a tatuagem na virilha dele descrita por ela.
No dia dos fatos, um protocolo de atendimento rápido a vítima de agressão sexual foi acionado. O documento, desenvolvido em 2018 e chamado "No Callem", detalha como espaços privados devem agir. A polícia foi chamada, ouviu a vítima e a encaminhou ao hospital Clínic, cujo relatório médico apontaria traços condizentes a uma agressão.
A jovem que acusa Daniel Alves rejeitou receber qualquer tipo de indenização do jogador e não quis ter sua identidade revelada. Segundo sua advogada, Ester Garcia López, a mulher só quer a prisão do atleta.
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