SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O técnico vencedor de duas das últimas quatro edições do Super Bowl já teve fama de pé-frio. Na terminologia usada nos espotes dos Estados Unidos, ele seria um "perdedor".
Andy Reid, 64, levou o Kansas City Chiefs ao título da NFL, a liga profissional de futebol americano, com a vitória por 38 a 35 sobre o Philadelphia Eagles no último domingo (12). Isso ocorreu mesmo com o seu principal jogador, o quarterback Patrick Mahomes, sentindo dores no tornozelo. Houve também a ajuda de uma contestada falta marcada nos segundos finais.
Foi a segunda conquista de Reid em Kansas. Ele já havia levantado o troféu na temporada de 2019.
As contestações surgiram porque ele foi o treinador dos mesmos Eagles que agora ajudou a bater. Comandou a equipe de 1999 a 2012 sem obter a vitória final. Entre 2001 e 2004, quatro vezes chegou à decisão de conferência. Perdeu três. Na única vez em que avançou ao Super Bowl, em 2004, caiu diante do New England Patriots.
No sistema de disputa da NFL, as 32 equipes estão divididas em duas conferências: a AFC (American Football Conference) e a NFC (National Football Conference). Os vencedores de cada uma se enfrentam no Super Bowl, o maior evento esportivo dos Estados Unidos.
Apesar de ter chegado a acumular cargos de "head coach" (o principal técnico) e "general manager" (dirigente que planeja a montagem da equipe e decide trocas, dispensas e contratações), Reid não conseguiu levar Philadelphia à conquista mais almejada.
Isso fez com que as piadas cercassem sua carreira. Elas variaram entre a sua capacidade de comandar, o conhecimento tático e até a afirmação de que sempre achava um jeito de perder as partidas importantes. Principalmente o revés para os Patriots de Tom Brady, por três pontos, no último lance da partida, castigou-o na imprensa e entre os torcedores.
"Quando as coisas começaram a dar errado, todo o mundo apontou o dedo para Andy. Isso foi errado. Andy aceitou aquilo e levantou a cabeça. Não acho que aquilo o aborreça, mas a mim, sim", disse o quarterback Donovan McNabb, que atuou nos Eagles sob comando do técnico e foi selecionado por ele no "draft", o sistema de escolhas dos jogadores que saem das universidades.
Reid está acostumado a deixar passar essa e outras críticas, mesmo as que venham como brincadeiras de gosto duvidoso.
O ex-quarterback Terry Bradshaw, vencedor de Super Bowl e hoje comentarista da Fox, queria entrevistar Reid no meio da comemoração do título de domingo dos Chiefs.
Ao pedir para o treinador se aproximar, usou gíria que indica o caminhar do pato, a balançar o corpo de um lado para o outro. "Coma um cheeseburguer por mim", pediria depois Bradshaw, fazendo referência ao peso do entrevistado.
O ex-jogador foi imediatamente atacado nas redes sociais. Reid não disse nada.
Nem sobre o futuro Reid quis falar. No que pode ser o melhor momento de sua carreira, deixou no ar a possibilidade de se aposentar, mas ninguém o levou muito a sério.
"Eu me olho no espelho e estou velho. Mas meu coração é jovem. Eu ainda tenho um quarterback jovem e tenho uma decisão a tomar. Ainda gosto do que faço", afirmou.
O "quaterback jovem" é Patrick Mahomes, 27, atleta que ele selecionou no "draft" de 2017. Os Chiefs cederam três escolhas futuras (duas delas na primeira rodada) para subir dez posições e conseguir escolher o lançador que se tornou arquiteto das duas vitórias do Kansas City no Super Bowl, a segunda, neste ano, mesmo com a contusão.
Tal qual já havia feito com McNabb, Reid se tornou mentor de mais um jogador de elite. No caso mais recente, o melhor nome atual da liga.
Com seu jeito tranquilo, de quem não se preocupa demais com o que os jogadores fazem, evitando o chamado "micromanagement", ele deixou amigos também dentro dos Eagles, apesar das críticas que apareceram com as derrotas.
"Eu vivi anos incríveis lá. Amei cada muito. É uma grande organização, e sou próximo a pessoas em Filadélfia. É demais ver os garotos que draftamos por lá que agora são veteranos. Antes da final, nós nos abraçamos, e depois cada um seguiu seu caminho", disse Reid.
Entre 2010 e 2012, ele selecionou jogadores que o enfrentaram no último domingo: o defensive end Brandon Graham, o center Jason Kelce e o defensive tackle Fletcher Cox.
A vitória sobre os Eagles fez com que o antigo pé-frio se tornasse o 14º técnico da história a ganhar mais de um Super Bowl e o quarto a obter isso com mais de 200 vitórias na temporada regular (os outros foram Bill Belichick, Tom Landry e Don Shula). Seu retrospecto acumulado nos playoffs, 24 vitórias e 16 derrotas, é o segundo melhor da história NFL, atrás apenas de Belichick com o New England Patriots.
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