SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Seria o clássico entre Corinthians e São Paulo uma representação fiel de um duelo entre o povo e a elite ou há mais folclore do que fatos que justifiquem o estereótipo tão frequentemente associado aos torcedores alvinegros e tricolores?
A busca pela resposta dessa pergunta fez parte do trabalho de apuração do historiador e jornalista Gabriel Cardoso Pereira Gama, autor de "Majestoso: A histórica rivalidade entre Corinthians e São Paulo" (editora Kotter, 120 páginas, R$ 44,70), livro que será lançado nesta sexta-feira (3), no Museu do Futebol. Haverá um debate sobre a trajetória do clássico.
O trabalho é fruto da monografia de Gama no curso de pós-graduação em jornalismo, sob a orientação de Celso Unzelte, mas carrega também os anos de experiência do autor em redações como das revistas Veja e Placar.
"Quando eu ingressei na Veja, em 2012, trabalhei na função de checagem. Costumo dizer que fazer esse trabalho foi a minha verdadeira faculdade de jornalismo antes de fazer a pós", conta Gabriel. "Para o livro, isso foi importante, porque eu faço um retrato década por década dos principais confrontos do clássico."
Em 119 páginas, o jornalista resgata alguns dos confrontos históricos entre corintianos e são-paulinos e apresenta o contexto histórico em que as equipes e suas torcidas foram formadas.
De acordo com o livro, o São Paulo Futebol Clube, como herdeiro da estrutura de dois clubes tradicionais, a Associação Atlética das Palmeiras e Club Athletico Paulistano, atraiu em seus primórdios "admiradores de futebol que antes torciam pelas agremiações."
Dessa forma, diz a obra, "os torcedores dos times rivais passaram a perceber os torcedores do novo clube como integrantes da elite paulista."
Entre esses torcedores rivais estavam os corintianos. No livro, Gama usa uma citação do também historiador João Paulo França Streapco, autor de "Cego é Aquele que só vê a Bola: o Futebol Paulistano e a Formação de Corinthians, Palmeiras e São Paulo", para descrever como o Corinthians, desde sua origem, ganhou o rótulo de time das classes mais pobres da sociedade.
"Por ser o maior time da cidade sem vínculo com a comunidade ítalo-paulista ou com o consulado italiano, além de, por algum tempo, ter contado com dirigentes de origem espanhola ou suíça, [...] que não lograram construir uma equipe de colônia [...], o time conseguiu estabelecer uma identificação mais fácil com essas parcelas da população", diz a citação.
É por isso, segundo Gabriel, que a torcida corintiana resolveu abraçar o rótulo de "time do povo". Por outro lado, a marca atribuída aos torcedores são-paulinos nem sempre é bem vista pelos próprios.
"O São Paulo não pode ser considerado somente como o time da elite porque, desde seu início, demonstrou ser democrático ao aceitar de modo irrestrito jogadores de qualquer etnia, classe social ou origem", diz.
Além de trazer ao debate os rótulos atribuídos às torcidas corintiana e são-paulina, o trabalho de Gama se propõe a fazer um resgate de confrontos importantes entre os dois clubes ao longo da história, como a final do Campeonato Brasileira de 1990, vencida pelo Corinthians, e a decisão do Paulista de 1998, vencida pelo São Paulo.
Um debate que marcará o lançamento do livro contará com as presenças dos jornalistas Juca Kfouri, Celso Unzelte e Fábio Altman, que, respectivamente, assinam a orelha, o prefácio e o posfácio da obra. Eles vão discutir o papel do futebol na sociedade.
"O futebol não é apenas aquilo que acontece no gramado. Tem todo um contexto social envolta, faz parte da cultura e da identificação das pessoas", afirma Gabriel Cardoso.
O evento será gratuito e aberto ao público a partir das 19h no auditório do Museu do Futebol, localizado na Praça Charles Miller, no Pacaembu.
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!