LONDRES, INGLATERRA (UOL/FOLHAPRESS) - A Championship, segunda divisão do Campeonato Inglês, costuma ser associada ao estilo que caracterizou o futebol britânico nos anos 1980: cruzamento, chutão para frente e correria. Mas no topo da tabela de classificação da temporada 2022-23 há um time que derruba todos esses estereótipos: o Burnley, treinado pelo belga Vincent Kompany.
Ex-zagueiro do Manchester City e capitão da seleção que eliminou o Brasil na Copa do Mundo de 2018, Kompany revolucionou o jogo do clube trocando os tradicionais chutões e passes longos por triangulações, tiki-taka e posse de bola. O "Kompanysmo" deu certo: o time lidera a "Segundona", com 13 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, melhor ataque, defesa menos vazada e apenas duas derrotas em 37 jogos até aqui. O sonho da Premier League se aproxima a cada rodada.
A mudança de estilo e os resultados foram conquistados com uma clara inspiração em Pep Guardiola. Neste sábado (18), os dois se enfrentam pela primeira vez, quando Burnley e Manchester City medem forças pelas quartas de final da Copa da Inglaterra.
Será a maior vitrine de Kompany como treinador até agora. Uma espécie de prova de fogo, de teste de qualidade. Mas, antes mesmo do confronto, o mentor e inspirador do belga já antevê um futuro brilhante para o novo treinador.
"Ele vai voltar ao City mais cedo ou mais tarde. Acho que o destino dele é ser técnico do Manchester City. Está escrito nas estrelas. Não sei quando, mas vai acontecer", disse o catalão há duas semanas, quando o sorteio das quartas de final colocou as duas equipes frente a frente.
A inspiração de Kompany em Guardiola é notória, e o belga não esconde suas intenções de seus jogadores. O lateral-direito Vitinho, revelado pelo Cruzeiro e com passagem pelas seleções de base, é o único brasileiro do elenco do Burnley, e vê muitas semelhanças entre os dois treinadores.
"Eu não falo que ele imita o Guardiola, ou que a gente imita o City, mas é um jogo parecido. A gente quer a bola o tempo inteiro, quando perde, a gente pressiona. A gente quer estar com a bola o jogo inteiro, quer jogar futebol. O nosso time tenta construir desde o goleiro até o gol adversário. É um jogo parecido", disse à reportagem.
Assim como Guardiola, Vitinho prevê um futuro brilhante para o técnico, que antes do Burnley comandou o Anderlecht belga por duas temporadas. "Ele está começando agora como treinador, mas não tenho dúvidas de que vai chegar entre os melhores. É um cara que trabalha, que ensina, que pensa no todo. Ele tem tudo para chegar longe".
A revolução nas estatísticas
Os números mostram que os estilos de Burnley e Manchester City são mesmo parecidos. Começando pela posse de bola, uma das características mais marcantes das equipes de Pep Guardiola: o Burnley tem média de 64,2% e lidera a estatística entre os 24 times da Championship.
A porcentagem de passes certos também é alta (84,5%), a segunda maior do campeonato, atrás apenas do Swansea (86,7%). Também chama a atenção a estatística de chutes recebidos: os rivais chutam 8,8 vezes por jogo contra o Burnley, a menor média de toda a Segundona inglesa ? consequência direta de terem menos posse de bola.
Não por acaso, o Manchester City lidera essas mesmas três estatísticas na Premier League: a equipe comandada por Guardiola tem 64,6% de posse de bola, 88,8% de passes certos, e concede apenas 7,5 chutes por jogo dos rivais.
Os índices do Burnley serem parecidos aos do Manchester City já seriam notícia por si só, mas, conhecendo o contexto do clube, é ainda mais notável que a equipe de Kompany esteja jogando num estilo "Guardiolista". Na temporada passada, antes da chegada do treinador belga, o clube foi rebaixado na Premier League com os piores índices de posse de bola (39,1%) e acerto de passes (69,2%) da competição.
Guardiola e seus discípulos
O duelo entre Kompany e Guardiola marcará a segunda vez em poucas semanas que o catalão enfrenta um treinador que trabalhou diretamente com ele. Em 15 de fevereiro, o Manchester City venceu o Arsenal por 3 a 1, no duelo entre Pep e Mikel Arteta, seu ex-auxiliar técnico.
Apesar da vitória sobre o rival direto na luta pelo título, aquela partida ganhou destaque pelo 36% de posse de bola do Manchester City; foi o pior índice já registrado por uma equipe comandada por Guardiola.
Às vésperas do duelo com o mestre, Kompany preferiu não entrar em polêmicas ou prometer que disputará o domínio da posse de bola com o City. "Eu tenho uma ligação muito forte com o City, ainda assisto aos jogos e chuto todas as bolas. Falei pros meus jogadores ficarem tranquilos e aproveitar essa chance de enfrentá-los, mas eu mesmo não sei como ficar tranquilo", disse.
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