SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Ao longo de décadas, a chuteira Puma King foi referência no futebol. O modelo foi calçado por Pelé, Maradona, Cryuff, Matthaus e vários outros do panteão do esporte. No começo do mês, depois de décadas, foi aposentado na sua versão clássica. O motivo, não dito, é salvar (literalmente) a pele dos cangurus.
Se no mundo da moda grandes marcas como Hugo Boss, Gucci e Chanel abandonaram o uso de pele de animais exóticos como crocodilos, cobras e coelhos ainda no fim da década passada, no esporte o couro de canguru continuou sendo tratado como produto nobre para a fabricação de chuteiras e patins.
O material é chamado pelas empresas de "k-leather". O "k" vem de "kangaroo" e ajuda a omitir o nome do animal, como se o couro de jacaré fosse chamado só de "couro de j".
Foram anos de pressão de entidades de proteção animal até que, enfim, duas marcas de peso se convencessem a encerrar a produção de calçados com couro de canguru. Primeiro foi a Puma, que soltou comunicado no começo do mês informando que o Puma King passa a ser feito de material sintético.
A partir de agora, o produto vai ser feito com um material chamado K-Better, que a Puma diz ser "completamente novo" e não baseado em animais. A Puma afirmou ainda, em comunicado, que esse couro sintético é melhor que o de canguru em toque, conforto e durabilidade. A empresa não citou a preservação dos cangurus ao justificar a decisão, apenas o suposto ganho de qualidade.
A Nike foi pelo mesmo caminho, duas semanas depois, informando que vai substituir o k-leather por um couro sintético criado por ela. Em seu comunicado, a empresa também não citou a preservação dos animais típicos da Austrália.
PRESSÃO PELOS CANGURUS
A decisão, porém, veio depois de uma campanha internacional denominada "cangurus não são sapatos" (Kangaroos Are Not Shoes) e que a discussão chegou às casas legislativas dos Estados Unidos. O couro de canguru já é proibido na Califórnia e projetos semelhantes foram apresentados tanto na Câmara federal quanto em estados como o Oregon, sede da Nike.
O canguru é o animal típico da Austrália, onde eles existem em número maior (30 milhões) do que a população humana (26 milhões). A legislação local não permite a criação de cangurus, mas autoriza a caça, permitindo a matança de até 15% deles por ano, para comercialização de sua carne e sua pele. A regra é que a morte aconteça por tiro na cabeça, tanto das mães (antes) quanto dos filhotes (depois).
Quem defende a caça diz que os períodos de seca na Austrália acabam por matar muito mais e que, entre morrer de fome ou sede e de tiro, é preferível a segunda opção, uma ideia que ONGs como a Proteção Animal Mundial contestam.
"A Proteção Animal Mundial reforça a importância de a indústria oferecer produtos mais éticos e sustentáveis e destaca que os anúncios marcam o avanço na redução da exploração comercial de animais, seres sencientes e que devem ter direito a uma vida livre e digna", comentou a entidade internacional.
A organização disse esperar que esses movimentos inspirem outras empresas do setor de materiais esportivos, como adidas e Mizuno, de vestuário, e do mundo da moda de forma geral.
No caso da adidas, a chuteira mais conhecida da empresa, a Copa Mundial, preta com listras brancas, e já usada por craques como Kaká, é feita de couro de canguru. Ao Washington Post, a adidas disse que o material "desempenha um papel menor" na linha de produção, mas não respondeu se pretende abandonar a pele animal.
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