SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A sensação de Felipe Massa foi semelhante a de uma batida forte. "Foi um susto. Eu tomei um tranco", diz o piloto à reportagem sobre o momento em que ele tomou conhecimento das declarações de Bernie Ecclestone.
Foi difícil para o brasileiro ouvir do próprio ex-chefão da F1 que tanto ele quanto Max Mosley, ex-presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), souberam do escândalo no GP de Singapura antes do fim da temporada de 2008 e agiram para abafar o caso sob a desculpa de proteger a imagem do Mundial.
Ecclestone admitiu a conduta em recente entrevista ao site alemão F1 Insider, para o qual afirmou que não considera Lewis Hamilton como heptacampeão porque o título de 2008 teve uma "corrida roubada".
"Isso é muito grave", afirma Massa, que vê na declaração do ex-dirigente um "fato novo" para tentar reabrir o caso na Justiça.
Não há, no entanto, um caminho fácil para fazer isso. O Código Esportivo Internacional da FIA afirma que prazo para contestar um resultado expira 14 dias corridos após uma competição.
"Esse prazo já transcorreu há muitos anos. O automobilista, contudo, pode tentar fazer o questionamento sob o argumento de que os fatos vieram a público recentemente", diz Mariana Chamelette, procuradora do Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol de São Paulo.
Vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo, ela lembra ainda que o sistema judicial da FIA indica como a mais alta autoridade para tomar qualquer decisão um Tribunal Internacional de Apelação independente, o que limita, por exemplo, a atuação da Corte Arbitral do Esporte.
"Uma vez que o estatuto da FIA restringe a atuação do CAS em casos julgados pelo seu comitê disciplinar antidopagem, a Corte Arbitral não possui jurisdição sobre o caso", afirma Chamelette.
Em 2009, quando o caso veio a público, Massa não acionou uma equipe jurídica pessoal e, de acordo com ele, coube aos advogado de sua então equipe, a Ferrari, a tentativa de mudar o resultado do campeonato.
"Eu confiei neles", lembra. Na época, foi informado de que havia uma regra segundo a qual a classificação do mundial era intocável após a cerimônia de premiação da FIA. O evento ocorreu em novembro de 2008.
Agora, o brasileiro espera que a escuderia italiana o ajude novamente em sua busca por uma "reparação" satisfatória, como ser declarado campeão daquele ano ou, ao menos, dividir o título com Hamilton.
"Realmente eu espero apoio da Ferrari nesse caso porque o título é como piloto, mas a Ferrari, a Itália, os fãs, estão todos no mesmo barco", afirma o piloto. Segundo ele, ainda não houve contato com a escuderia.
Por enquanto, ele conta que tem recebido apoio de colegas de profissão. Sem citar nomes, diz que muitos pilotos enviaram mensagens para ele depois das declarações de Ecclestone.
Massa também espera por um respaldo público de figuras importantes do automobilismo brasileiro. E não descarta, inclusive, o apoio do tricampeão Nelson Piquet, pai de Nelsinho Piquet, pivô do escândalo no GP de Singapura.
"Todo apoio é bem-vindo", diz, sem esquecer da mágoa que guarda de Nelsinho. "Teve muita coisa errada do lado do Nelsinho. E só quando ele foi mandado embora [da Renault] ele resolveu falar", lembra.
"Eu fui perguntar para ele, no começo de 2009, se ele tinha feito aquilo por querer, porque já comentavam isso, e ele disse que não", acrescenta.
Em 2008, no entanto, Nelsinho colidiu de forma proposital durante a etapa no circuito de Marina Bay para beneficiar seu então companheiro de equipe, o espanhol Fernando Alonso.
Ao bater no muro, ele seguia ordens de seu chefe na Renault Flavio Briatore e do engenheiro Pat Symonds, conforme disse em seu depoimento à FIA (Federação Internacional de Automobilismo).
Massa liderava a prova no momento da batida e, de forma indireta, acabou prejudicado. Como a direção da corrida acionou a bandeira amarela, a Ferrari o chamou para os boxe, mas o liberou para voltar à pista sem retirar a mangueira de reabastecimento. O brasileiro acabou punido e terminou a corrida em 13º.
Naquele ano, ele disputou o título ponto a ponto com o inglês Lewis Hamilton, então na McLaren. O inglês chegou em terceiro em Singapura e levou o título na última etapa, no Brasil, por uma diferença de apenas um ponto.
Para Massa, há uma relação direta entre a perda daquele campeonato, há 15 anos, com o atual hiato de brasileiros na F1. Desde 2017, quando o próprio paulista deixou a categoria, o Brasil não tem um titular na categoria.
"A gente começa a pensar o que isso representa não só para mim, mas o que representa para o país, para o automobilismo, para a formação de pilotos. A gente sabe o quanto o [Ayrton] Senna foi importante", diz ele. "No final, a gente só se pergunta 'foi justo?'"
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