SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A fase de classificação da NBA começou e terminou com socos -com alvos como companheiros e uma parede. Agora, chegou o momento de jogar basquete no mais alto nível.
É o clímax de um campeonato que se alimenta do drama, parte vital de sua indústria e ingrediente que não faltou até aqui na disputa de 2022/23.
Antes mesmo de a bola subir na primeira rodada, o Golden State Warriors se viu em uma crise na defesa do título. Draymond Green nocauteou o colega Jordan Poole em um treino da pré-temporada, e o atual campeão cambaleou até avançar ao mata-mata apenas como o sexto colocado da Conferência Oeste.
No Minnesota Timberwolves, os socos foram no 82º e último jogo de sua campanha na chamada "temporada regular". Em uma paralisação da partida por pedido de tempo, Rudy Gobert agrediu o colega Kyle Anderson no peito. Jaden McDaniels, frustrado pelo mau primeiro tempo, esmurrou a parede a caminho do vestiário.
De algum jeito, em meio aos sopapos, a equipe virou o confronto com o Oklahoma City Thunder e conseguiu a oitava colocação do Oeste. Isso lhe deu o direito de enfrentar o Los Angeles Lakers no torneio "play-in", que define as duas últimas vagas de cada conferência nos "playoffs". Gobert, suspenso, não jogou. McDaniels, com a mão fraturada, também não.
Desfalcado, o Minnesota ainda conseguiu forçar a prorrogação, mas não resistiu em Los Angeles, levando 108 a 102. Nesta sexta-feira (14), enfrentará de novo o Thunder, em embate pelo espaço final do Oeste no tradicional mata-mata. No Leste, duelarão Miami Heat e Chicago Bulls.
No caso do Oeste, trata-se do fim de uma disputa acirradíssima pelas oito vagas nos "playoffs" propriamente ditos, que terão início neste sábado (15). Acirradíssima com base na mediocridade, é verdade. Mas acirradíssima.
Com várias equipes de aproveitamento em torno de 50%, houve durante bastante tempo grande equilíbrio da quinta à 13ª posição. A duas semanas do fim da primeira fase, só dois dos 15 times da conferência já não tinham chance de classificação.
Apenas Denver Nuggets e Memphis Grizzlies tiveram índice superior a 60%, com ao menos 50 vitórias na temporada de 82 partidas. Nas 18 edições anteriores do campeonato desde que ele passou a ser disputado por 30 agremiações, o Oeste, mais forte do que o Leste em boa parte do século, teve em média 5,3 representantes nesse clube.
Em 2007/08 e em 2009/10, todos os oito classificados da conferência ao mata-mata atingiram 50 triunfos. Em 2013/14, o Phoenix Suns ficou em nono e foi eliminado com 48 vitórias e 34 derrotas, campanha que lhe valeria o terceiro lugar em 2022/23.
Nesse cenário de equilíbrio na tabela, o primeiro dos concorrentes a ruir foi o Portland Trail Blazers, 13º colocado, sem ajuda de qualidade para o craque Damian Lillard. O Utah Jazz, 12º, foi até longe demais depois de desfazer-se de seus principais jogadores e iniciar processo de reconstrução.
O que chamou a atenção foi o Dallas Mavericks basicamente escolher a 11ª posição. Mesmo contando com as estrelas Luka Doncic e Kyrie Irving, o time texano decidiu que era mais valioso ficar fora da briga pelo título e entrar na loteria do "draft", o sistema de recrutamento de calouros. Lutar pelo décimo lugar -que daria vaga no "play-in"- estava ao alcance, mas a direção resolveu dar descanso a vários atletas, inclusive Irving, e quase deliberadamente perder.
Foi tão caricato que a NBA anunciou uma investigação.
Derrotas de propósito não chegam a ser novidade na liga. No "draft", as equipes com as piores campanhas do campeonato anterior são as primeiras a recrutar os jovens do basquete universitário, em regra que tenta equilibrar a disputa. Porém não havia precedentes de um clube adotar essa estratégia com chances palpáveis de avançar e com dois craques à disposição.
"A organização tomou essa decisão", afirmou um constrangido técnico Jason Kidd. "Talvez seja um passo para trás, mas esperamos que leve a passos para a frente. São decisões tomadas pelos meus chefes. Temos que seguir."
O comportamento dos Mavericks foi questionado especialmente porque o caminho parece aberto no Oeste. Não existe um favorito claro, e o Dallas poderia fazer algum barulho se o recém-chegado Kyrie desenvolvesse entrosamento rápido com Luka.
Nas casas de aposta, boa parte das fichas está jogada em outro recém-chegado, Kevin Durant. O ala de 34 anos foi contratado pelo Phoenix Suns, mas, por problemas de lesão, só disputou oito partidas na formação do Arizona, que conta ainda com Devin Booker, Chris Paul e Deandre Ayton.
Também há problemas de entrosamento no Los Angeles Lakers, outro incluído na lista de favoritos, ou quase isso. O elenco foi praticamente refeito em torno dos astros LeBron James e Anthony Davis na data limite para negociações, em fevereiro. Saiu Russell Westbrook, cujo jogo não se encaixava com o de seus companheiros. Chegaram atletas como D'Angelo Russell, Rui Hachimura e Jarred Vanderbilt, e um grupo desconjuntado de repente se tornou coeso.
Até o fim do prazo para trocas, os Lakers tinham 25 vitórias e 30 derrotas. Depois disso, mesmo com LeBron afastado por lesão durante um mês, o retrospecto é de 19 vitórias e nove derrotas -o terceiro da liga no período.
Outro que se apresenta como candidato é o Denver Nuggets, dono do melhor aproveitamento da conferência, embora a reta final da fase de classificação tenha sido problemática. Os jovens Memphis Grizzlies -do ascendente Ja Morant, que cumpriu suspensão por ter exibido revólver em transmissão no Instagram- e Sacramento Kings tiveram bons números. O Los Angeles Clippers tem Kawhi Leonard. O Golden State Warriors tem Stephen Curry.
O Oeste está aberto.
Na Conferência Leste, parece haver três favoritos mais claros. O Milwaukee Bucks, de Giannis Antetokounmpo, o Boston Celtics, de Jayson Tatum, e o Philadelphia 76ers, de Joel Embiid, são os mais temidos.
Menos temido será o programa da NBA de testes antidoping. Na negociação do novo acordo coletivo entre os times e os jogadores, estes conseguiram tirar a maconha da lista de substâncias proibidas a partir do certame de 2023/24.
A alteração era defendida por nomes proeminentes do esporte, como Kevin Durant, que tem no ramo da Cannabis medicinal um de seus investimentos. "Para mim, [a maconha] limpa as distrações do cérebro. Ela acalma. É como tomar uma taça de vinho", afirmou, no ano passado.
Houve socos, houve negociações, houve derrotas suspeitas. Chegou a hora de jogar para ganhar.
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