SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Marta, 37, jogando como meia. Marta na frente como atacante. Marta atuando na ponta. Marta tão na defesa que era quase uma volante.
As imagens de impotência da camisa 10 resumiram o fim do sonho brasileiro na Copa do Mundo feminina. A equipe empatou em 0 a 0 com a Jamaica na manhã desta quarta-feira (2), em Melbourne, na Austrália e foi eliminada na fase de grupos.
A desolação da camisa 10 é porque também foi o seu adeus com a camisa da seleção. A maior jogadora da história do país e eleita seis vezes a melhor do mundo já havia avisado que seria sua última Copa. Ela esperava que fosse algo memorável.
Foi, mas não pelos motivos certos. É a primeira vez que a eliminação acontece desde 1995.
O resultado fez com que o Brasil terminasse em terceiro no grupo F. França e Jamaica avançaram para as oitavas de final.
Antes de entrar em campo nesta quarta, a seleção havia goleado o Panamá por 4 a 0, o que gerou uma falsa sensação de favoritismo, e perdeu para a França por 2 a 1.
O Brasil dominou o primeiro tempo, mas apresentou o mesmo problema mostrado contra as francesas. A deficiência na troca de passes próximos à área da adversária e a excessiva lentidão no ataque. Isso facilitou para a Jamaica, que chegou à rodada decisiva sem ter sofrido gols nesta Copa do Mundo.
Se todos os olhos estavam sobre Marta, ela tentou corresponder, sendo a jogadora mais buscada pelas companheiras, com Debinha caindo mais pela direita. Duas vezes a camisa 10 tentou finalizar nos primeiros 45 minutos, mas sem perigo, por estar cercada de marcadoras.
As melhores opções eram os avanços de Antônia e, principalmente, Tamires pelas laterais. Ela foi protagonista do lance mais perigoso brasileiro no primeiro tempo, com um chute de primeira aos 39.
Para tentar dar maior poder de fogo para a equipe, Pia Sundhage colocou a atacante Bia Zaneratto no lugar da meia Ary Borges no intervalo.
Como precisava do empate, a estratégia da Jamaica era se defender e esporadicamente fazer lançamentos longos para a atacante Khadika Shaw, do Manchester City-ING.
Com a França vencendo com facilidade o Panamá (acabaria goleando por 5 a 3) depois de levar um susto e um gol no primeiro minuto, o Brasil precisava de um gol. E quanto mais o tempo passava no segundo tempo, mais a seleção se enervava em campo. Com isso, jogava ainda pior, com mais erros de passes, apesar de continuar a controlar a posse de bola.
Marta, impotente, pouco era acionada e começou a cada vez mais recuar para buscar a bola e fazer o que fez várias vezes no passado: criar, do nada, um gol salvador.
Ela se despede na única partida desta Copa do Mundo em que foi titular. Havia jogado 15 minutos contra o Panamá e 14 diante da França.
Maior artilheira da história dos Mundiais (masculino e feminino), com 17 gols, ela fez 122 em 189 partidas pela seleção. Despede-se com títulos da Copa América (2003, 2010 e 2018) e medalha de ouro nos Jogos Panamericanos de 2003 e 2007.
O Mundial foi o torneio, apesar do recorde de gols, que mais a maltratou. Foi vice em 2007 e perdeu pênalti na final diante da Alemanha. Em 2019, reclamou da falta de comprometimento de algumas jogadoras após a derrota nas oitavas contra a França. Foi prata nas Olimpíadas de 2004 e 2008.
A 10 minutos do fim, exaurida, ela foi substituída por Andressa.
Do banco, ela não podia fazer nada que não fosse torcer, seu ato final em Copas do Mundo e a despedida do Brasil do torneio na Austrália e Nova Zelândia.
JAMAICA
Spencer; Blackwood, A. Swaby, C. Swaby, Wiltshire; Sampson, Spence, Primus; Brown (Washington), Matthews (Cameron), Shaw. Técnico: Lorne Donaldson
BRASIL
Lelê; Antonia (Geyse), Rafaelle, Kethellen, Tamires; Luana (Duda Sampaio), Keronin, Adriana, Ary Borges (Bia Zaneratto); Debinha e Marta (Andressa Alves). Técnica: Pia Sundhage
Estádio: AAMI Park, em Melbourne (Austrália)
Público: 27.638
Arbitragem: Esther Staubli (Suíça)
Assistentes: Katrin Rafalski (Alemanha) e Susann Küng (Suíça)
Cartões amarelos: Matthews (JAM)
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