SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com a liberdade de quem não tinha nada a perder, o técnico francês Reynald Pedros deu de ombros com a pergunta de como encararia o desafio de se classificar no Mundial feminino.
"Você sempre tem de levar em conta a possibilidade de uma mágica na Copa", respondeu.
O Marrocos, sua equipe, estreante no torneio, havia perdido por 6 a 0 na primeira rodada diante da bicampeã Alemanha, uma das favoritas a um novo título.
Pouco mais de uma semana depois, as marroquinas se classificaram para as oitavas de final, nesta quinta-feira (3), ao derrotar a Colômbia por 1 a 0. As alemãs, por empatarem em 1 a 1 com a Coreia do Sul, ficaram pelo caminho.
Poucos minutos após a eliminação brasileira contra a Jamaica, Marta constatou que há uma nova ordem no futebol feminino.
"As coisas não acontecem de um dia para o outro. A gente está vendo aqui seleções que vinham para a Copa do Mundo e tomavam de sete, oito, dez, hoje jogam igual para igual com as grandes. Isso mostra que o futebol feminino está crescendo, isso mostra que o futebol feminino é um produto que dá lucro, que dá prazer de assistir", discursou a camisa 10 que, aos 37 anos, disputou seu último Mundial.
O torneio sediado por Austrália e Nova Zelândia está aberto a surpresas. Na final está garantida uma equipe que jamais chegou tão longe.
Na configuração das fases eliminatórias, todas as seleções campeãs no passado estão em um lado da chave: Japão (vencedor em 2011) enfrenta a Noruega (1995). Quem passar, vai pegar nas quartas Estados Unidos (1991, 1999, 2015 e 2019) ou Suécia (segunda em 2003).
A partida entre norueguesas e japonesas será a segunda vez que duas ex-ganhadoras jogam na primeira fase eliminatória do torneio. Não acontece desde 2003, quando a mesma Noruega teve pela frente os Estados Unidos.
Entre os times que no passado chegaram à decisão, a Holanda (vice em 2019) terá pela frente a África do Sul. O adversário seguinte será Espanha ou Suíça.
É oportunidade para Inglaterra, Nigéria, Austrália, Dinamarca, França, Marrocos, Colômbia e Jamaica, que estão do outro lado da chave e nunca foram finalistas.
"Em 2019 [quando disputaram a primeira vez o torneio], não esperávamos estar na Copa do Mundo. A seleção era nova e foi um susto chegar lá. Éramos muito jovens e estávamos felizes. Agora não pensamos que íamos apenas vir aqui e tudo bem. Desde o primeiro dia o pensamento era a classificação no grupo, por mais que nos dissessem ser impossível", discursou Lorne Donaldson, treinador da Jamaica.
A seleção, que conta com vaquinhas virtuais para preencher lacunas deixadas pela falta de apoio da federação do país, não sofreu gol em nenhuma das três partidas da fase de grupos. O empate em 0 a 0 com o Brasil o levou para o mata-mata em sua segunda participação na competição.
A Jamaica passou de perder seus três jogos em 2019 a ser uma das surpresas do Mundial.
Em uma Copa que muda o cenário do futebol feminino, as três equipes africanas se classificaram. Entre as sul-americanas, Brasil e Argentina (as únicas a terem conquistado título da Copa América) voltaram para casa mais cedo. Apenas a Colômbia obteve a vaga.
"Elas já mostraram que nada pode detê-las se colocarem na cabeça que é possível e jogarem umas pelas outras", disse a técnica sul-africana Desire Ellis diante da perspectiva de jogar contra a Holanda.
As zebras foram às oitavas deixando para trás adversárias que, antes de chegarem à Austrália e Nova Zelândia, estavam entre as candidatas a ficarem com o troféu ou eram consideradas mais tradicionais. A Nigéria avançou e eliminou o Canadá, campeão olímpico em 2021. A Jamaica fez o Brasil deixar a competição. Marrocos ficou à frente da Alemanha, e a África do Sul eliminou a Itália.
Mesmo algumas que não passaram pela fase inicial tiveram muito o que celebrar. O Panamá, que jamais havia atuado no Mundial mas marcou três gols na França.
"Eu queria que minha mãe estivesse aqui porque o maior sonho dela era ver a filha jogando uma Copa do Mundo", disse a meia panamenha Marta Cox, autora de um golaço de falta contra as europeias.
Assim como aconteceu com o masculino, o feminino também viu aumento no número de seleções. No primeiro torneio, em 1991, foram 12. Neste ano, pela primeira vez são 32.
Há 22 anos, 62% das equipes que foram às fases eliminatória (na época, as quartas de final), eram europeias. Neste ano, com 16 classificadas para as oitavas, 50% são do Velho Continente.
A porcentagem por região não mudou de maneira significativa em relação às últimas Copas a não ser nos africanos, que jamais haviam colocado três seleções no mata-mata (veja lista abaixo). A relação de forças sofreu alteração nos países que avançaram.
Quando a América do Sul, por exemplo, teve seleções nas fases eliminatória, quase nunca foi mais de uma (a exceção aconteceu em 2015) e sempre era o Brasil. Isso mudou agora. Quem avançou foi a Colômbia.
Desde a expansão no número de times e a criação das oitavas de final, em 2015, a Concacaf (que reúne América do Norte, Central e Caribe) teve duas classificadas. Costumavam ser Estados Unidos e Canadá. Desta vez as jamaicanas se juntam às norte-americanas.
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CLASSIFICADAS PARA AS FASES ELIMINATÓRIAS DA COPA POR CONTINENTE
1991 ? 8 países
Europa: 5
Ásia: 2
Concacaf: 1
1995 - 8
Europa: 5
Ásia: 2
Concacaf: 1
1999 ? 8
Europa: 4
Ásia: 1
América do Sul: 1
África: 1
Concacaf: 1
2003 - 8
Europa: 4
Concacaf: 2
Ásia: 1
América do Sul: 1
2007 - 8
Europa: 3
Ásia: 2
América do Sul: 1
América do Norte/Central: 1
Oceania: 1
2011 - 8
Europa: 4
Ásia: 1
América do Sul: 1
Concacaf : 1
Oceania: 1
2015 - 16 seleções
Europa: 7
Ásia: 3
América do Sul: 2
Concacaf: 2
África: 1
Oceania: 1
2019 - 16
Europa: 8
Ásia: 2
África: 2
Concacaf: 2
América do Sul: 1
Oceania: 1
2023 - 16
Europa: 8
África: 3
Ásia: 1
Concacaf: 2
América do Sul: 1
Oceania: 1
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