BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - Os responsáveis pela construção da Arena MRV, o estádio do Atlético-MG em Belo Horizonte, prometem vida dura para a torcida adversária em partidas contra a equipe mineira.

O projeto acústico da arena, segundo o arquiteto Bernardo Farkasvolgyi, que desenhou o estádio, abafa o grito dos torcedores rivais e ainda faz com que ouçam apenas o grito dos atleticanos.

"A ideia é que a torcida contrária só ouça a do Atlético cantando", disse Farkasvolgyi.

A previsão é que o projeto de lei que possibilitará a inauguração da arena seja votado em segundo turno pela Câmara Municipal na terceira semana de agosto, ou seja, entre os dias 14 e 18.

As partidas do time mineiro em casa em datas próximas a essas são contra o Bahia, no dia 13, e contra o Santos, no dia 26, ambas pelo Campeonato Brasileiro.

Na Copa Libertadores, pelas oitavas de final, o Atlético-MG tentará manter-se na competição na próxima quarta (9), contra o Palmeiras, que jogará em casa. Na última quarta (2), o time alvinegro foi derrotado por 1 a 0 no Mineirão, acumulando a décima partida sem vitória.

Em um evento-teste, internautas apontaram um ponto cego no estádio, o que é negado pelo clube.

A ARENA

O estádio custou R$ 750 milhões. As obras viárias no entorno da arena, também a cargo do Atlético-MG, custaram R$ 250 milhões, totalizando investimento de R$ 1 bilhão (o clube vive uma situação financeira delicada, com dívida de R$ 1,6 bilhão, segundo levantamento do site Goal) . O estádio tem capacidade para 46 mil pessoas e poderá ser usado também para shows.

O gramado, em caso de espetáculos, comporta 20 mil pessoas. Como uma parte das arquibancadas fica atrás do palco, a capacidade total para shows será de aproximadamente 60 mil pessoas.

A arena tem 42 banheiros, todos adaptados para pessoas com deficiência. O estádio tem uma área para autistas com acompanhantes verem os jogos.

Há, ainda, 45 bares e um restaurante. São 2.420 vagas para veículos.

A área externa pode ser utilizada para realização de feiras e eventos similares. Shows, no entanto, não são permitidos nesse espaço.

CALDEIRÃO E MANDINGA

"O que nos foi pedido? Um caldeirão", disse Farkasvolgyi. Para que isso acontecesse, o campo foi colocado o mais próximo possível da torcida, dentro de regras da Fifa (Federação Internacional de Futebol).

A distância entre a arquibancada e o campo nas laterais é de oito metros. Atrás dos gols, sobe para dez metros. "É o mínimo exigido pela Fifa", afirmou o arquiteto.

O projeto acústico do estádio também promete ajudar na pressão contra os adversários. Segundo Farkasvolgyi, na parte da arquibancada que será destinada às torcidas adversárias, foi adotado um sistema que promete minimizar o canto rival.

A explicação é a seguinte: as ondas de som sobem. Os gritos das torcidas, portanto, vão para o teto.

E é aí que, conforme o arquiteto, está o segredo. "Existe uma lã de vidro que, dependendo do volume em que é usada, juntamente com os componentes para a construção do teto, retorna ou segura o som", contou.

Quanto mais lã, menos o som volta.

"Lá [na parte em que ficarão as torcidas adversárias], colocamos muita lã, Aqui [na parte destinada aos atleticanos], menos lã", afirmou Farkasvolgyi. "A ideia é que a torcida adversária só ouça a do Atlético cantando", afirmou o arquiteto, que torce para o time preto e branco.

Ele ainda espera contar com outras forças, principalmente em caso de partidas contra o Cruzeiro, o principal rival do Atlético.

"Enterrei um negócio lá, uns dois metros embaixo do campo. Não posso dizer o que é, mas aqui o Cruzeiro não ganha", disse.

Pelo projeto do estádio, haverá área específica na arquibancada para as torcidas organizadas. Fica na parte inferior da estrutura, exatamente atrás do gol sul.

A decisão de reservar uma área para as organizadas foi para ter melhor controle de acesso e entrada, segundo o clube. Nas catracas eletrônicas do estádio será instalado sistema de reconhecimento facial. "Não tem luxo no estádio, mas é tudo muito confortável", afirmou o CEO do Atlético, Bruno Muzzi.

ESTRUTURA INTERNA

Uma "rua" interna que circunda todo o estádio, sob as arquibancadas, promete facilitar a montagem e desmontagem de palco e equipamentos de som para shows.

A conta dos responsáveis pela obra é que isso possa ser feito em 24 horas, tempo que pode ser alterado conforme o tamanho da estrutura a ser montada e desmontada.

"Essa rua é uma invenção nossa. Existem ainda quatro bocas gigantes no estádio", afirmou Farkasvolgyi, referindo-se aos quatro pontos de acesso da "rua interna" para o campo. O arquiteto afirma ter visitado 21 estádios na Europa antes de desenhar a Arena MRV.

GRAMADO

Menos tempo para montar e desmontar estruturas para shows significa menos tempo de gramado tampado. O campo, quando não exposto ao ar, pode se deteriorar. Ainda não há data prevista, mas o clube vai adotar o gramado sintético na arena. Em um primeiro momento, será grama natural.

VESTIÁRIOS

Foram construídos ambientes com pequenas arquibancadas na área destinada ao aquecimento dos jogadores. A estrutura pode ser usada, por exemplo, por familiares dos atletas ou para programas de visita de sócios para ampliação de receita.

O PONTO CEGO

O Atlético nega a existência no estádio de um ponto cego, conforme apontaram internautas em julho depois de um evento-teste na arena. Torcedores que ficaram na parte superior atrás do gol sul não conseguiam ver parte do campo.

Segundo Farkasvolgyi, outros torcedores ficaram de pé no guarda-corpo e impediram a visão de quem estava atrás, mais para cima. "Não é ponto cego. É o conceito do projeto. Foi feito dessa forma. Se alguém fica ali, está ferindo o que foi pensado", disse.

O clube vai colocar seguranças para impedir torcedores de ficar no local e vai passar orientações no telão para que as pessoas não fiquem de pé no setor. "Vamos ter que trabalhar em um primeiro momento na educação", declarou o CEO do time.

EXPECTATIVA DE FATURAMENTO

O Atlético-MG espera um faturamento de R$ 80 milhões por ano com bilheteria de partidas de futebol na Arena MRV. Caso atinja a cifra, isso representará 29% a mais que os R$ 62 milhões esperados de faturamento pela mesma fonte de receita em 2023.

A carteira de sócios-torcedores, avalia Muzzi, tende a crescer a partir do estádio. O representante do clube espera que a inauguração da arena ocorra ainda este mês. Ao longo da construção, o clube já conseguiu receita via concessão de "naming rights", venda de cadeiras cativas e camarotes.

O estádio mantém também programa de visitas guiadas pela arena, com pagamento de R$ 80 por pessoa.

POLÍTICA E FUTEBOL

Como não raro, política e futebol também se misturaram na construção da Arena MRV. O estádio será inaugurado por força de um projeto de lei a ser analisado já em segundo turno pela Câmara de Vereadores da capital.

O texto autoriza a arena a funcionar sem o cumprimento integral de contrapartidas exigidas ao clube para construção do estádio. São, basicamente, obras de acesso no entorno da arena.

O estádio ficou pronto, mas as obras, não, o que impede, pelas regras atuais, a concessão da licença de operação.

O clube tenta evitar polêmica. "É um processo longo, complexo. É licenciamento para uma obra de grande impacto. A gente gastou muito tempo, e hoje em dia o diálogo com a prefeitura está super em linha. O que atrasou foi lá de trás para o processo todo andar", afirmou Muzzi.

A maior parte da tramitação do licenciamento para a construção da arena ocorreu sob a administração municipal de Alexandre Kalil (PSD), que deixou a prefeitura no ano passado para se candidatar ao governo do estado, sendo derrotado por Romeu Zema (Novo).

Kalil e também seu pai, Elias Kalil, foram presidentes do Atlético-MG.

Hoje, o comando do time, que virou SAF (Sociedade Anônima do Futebol, o clube-empresa), é do grupo de empresários conhecidos como 4R, que são Rubens Menin e Rafael Menin, da MRV Construtora, Ricardo Guimarães, do Banco BMG, e Renato Salvador, da rede de hospitais Mater Dei.

Muzzi evita comentar se houve um problema político na construção do estádio. "Não vale a pena entrar nessa discussão", afirmou.

Segundo informações do clube, originalmente a arena seria construída para 60 mil pessoas. Haveria também um shopping. A prefeitura, segundo o Atlético, não quis o projeto. Em nota enviada por sua assessoria, o ex-prefeito Kalil afirmou que quem desistiu do projeto original foi o clube.

Leonardo Castro, secretário de governo da prefeitura, hoje sob o comando de Fuad Nomam (PSD), que assumiu o cargo com a saída de Kalil, apontou que os projetos de contrapartida apresentados à prefeitura em conformidade com a legislação, e também o licenciamento, foram aprovados e estão em execução.

"Não há pendências de avaliação pela BHTrans. Algumas obras já estão em execução. Não há esse descompasso entre as licenças das contrapartidas e as da arena", afirmou o secretário.

Segundo o presidente da Câmara de Belo Horizonte, Gabriel Azevedo (sem partido), o projeto que autoriza o estádio a começar a funcionar sem a entrega das contrapartidas será apreciado ainda em agosto.


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