SANTIAGO, CHILE (UOL/FOLHAPRESS) - Na casa de Geovanna Santos, a ginástica rítmica é o esporte da família inteira. Não foi a primeira opção. Foi por necessidade. Os pais de Jojô ? como é carinhosamente conhecida ? são humildes e só conseguiriam investir em um dos filhos. O irmão João, então, focou nos estudos e passou a se especializar na ginástica. Hoje, ele é o responsável por ajudar a montar as séries e coreografias da atleta.

A mãe Silvana era dona de casa e o pai Amarildo trabalhava com extração de granito. A família vivia em Pinheiros, no Espírito Santo, uma cidade com cerca de 30 mil habitantes. João é o mais velho e foi o primeiro a se interessar pelo esporte até que Geovanna conseguiu uma vaga no Projeto Campeões do Futuro e passou a se destacar entre as ginastas. O irmão, então, abriu mão do sonho de se tornar profissional e apostou na caçulinha.

"A gente saiu do interior e nos mudamos para Vitória porque comecei no alto rendimento. Em Pinheiros tínhamos uma casa própria e fomos morar de aluguel em Vila Velha. Vivemos assim até hoje. Meu pai largou o emprego lá e hoje é pedreiro. Todo mundo saiu, abdicou dos sonhos para realizar o meu. Eu não chegaria onde eu estou sem eles", disse Geovanna, que está competindo nos Jogos Pan-Americanos de Santiago.

"Meu irmão já fez vários esportes, sempre gostou. Logo que a gente se mudou, ele começou a competir no badminton, mas chegou um período que não dava para financiar os dois. Apesar de serem esportes distintos, era muito caro manter. Ele abdicou do sonho de ser atleta para eu poder realizar o meu. Então, o João sempre me deu suporte ao fazer o curso de arbitragem para entender e me ajudar dentro de casa", contou Jojô.

Hoje, João é educador físico e também se formou em árbitro de ginástica rítmica. Ele viaja o mundo inteiro para auxiliar a irmã e, claro, está em Santiago para acompanhar cada movimento de Jojô na competição. Graças a todo o esforço, a caçula consegue ajudar a família financeiramente graças ao esporte.

"Acabei me apaixonando pela modalidade. Comecei a estudar sobre a ginástica e hoje sou árbitro estadual. Depois que ela passou na seletiva, a gente se mudou para ela conseguir se destacar. Eu, além de acompanhar a Geovanna, também atuo em escolinhas com o trabalho como ginástica", contou João.

"A gente vê todo esse esforço e sabemos que tudo valeu a pena. São os primeiros Jogos Pan-Americanos dela e era só o que faltava. Agora, ela participou de todos os principais eventos que a modalidade costuma entrar: Olimpíadas, Mundial e agora o Pan", acrescentou.

Além das coreografias em si, João ajuda Jojô a criar os collants para as competições e pensa nas músicas ideais para as histórias que a irmã caçula pretende contar ao público e jurados quando entra no tablado. É um trabalho em conjunto com a técnica da ginasta.

"Ele entende como é. Sempre falo: 'João, vamos achar algo legal'. A Geovanna é uma ginasta diferente das meninas e sempre procuramos algo para destacá-la, sabe? Cada um dá um pitaco e formamos algo muito legal", comentou Gizela Batista, técnica da Jojô.

"Acho muito legal esse apoio que a família deu. Hoje, ela sustenta a família inteira e é demais, um outro jeito de encarar o esporte. Eles saíram do interior e puderam ver os filhos crescendo, conhecendo tantos países. É emocionante de ver", acrescentou Gizela.

Nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, Jojô, João e Gizela tiveram um desafio maior: construir uma nova série de maças cerca de um mês e ela será apresentada hoje. A sequência, segundo o trio, tem até um toque assustador e impressionante.


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