PORTO ALEGRE, RS (UOL/FOLHAPRESS) - Os clubes argentinos rejeitaram de maneira unânime a implementação das SAFs no futebol local.
Foram 45 votos contra, nenhum a favor e apenas uma abstenção. O pleito foi realizado na Associação de Futebol Argentina (AFA) e participaram os clubes da primeira divisão e da divisão de acesso.
A iniciativa teve origem em declarações do futuro presidente eleito do país, Javier Milei, enquanto ainda candidato.
"Gosto do modelo inglês de sociedades anônimas, elas não vão nada mal, não é? Os ingleses têm um espetáculo lá. Quem financia os clubes na Argentina? Como se financia? Se o Boca for comprado e tiver um dono, você seguirá torcendo para o Boca? Para quem torce não importa quem é o dono desde que você vença o River por 5 a 0. Ou você prefere a miséria que temos aqui hoje? Temos o futebol cada vez de pior qualidade. Você prefere perder de 4 a 0 para o Milan e dizer: 'mas meu clube é nacional e popular' ou ganhar o Mundial de 5 a 0?", disse Milei.
Por que clubes recusaram?
A primeira razão está na legislação. Não há uma regulamentação clara sobre o tema e muitas equipes precisariam mudar seus estatutos até sua adaptação.
Motivações políticas também pesaram. O Sindicato dos Atletas e a AFA, entidades muito fortes no país, eram opositores a Milei e apoiavam o candidato derrotado, Sergio Massa, nas eleições nacionais.
Participação dos sócios dos clubes nos processos. Clubes temem "tirar a relevância" de seus associados caso o modelo seja alterado.
Estrutura dos clubes sociais também é preservada. Muitas equipes possuem atividades diversas, como outros esportes, escolas, piscinas, locais de encontro dos associados, além de eleições para escolher seus dirigentes, como ocorre na maioria dos clubes brasileiros. O sentimento de pertencimento ao 'clube do seu bairro' poderia ser abalada com a chegada de um investidor externo.
Dirigentes não querem perder poder. Nos bastidores, há uma avaliação de que os atuais mandatários dos clubes não querem abrir mão da influência que possuem para abrirem espaço para as SAFs.
Qual impacto disso no futebol?
Rejeição coloca o futebol argentino em posição diferente dos principais concorrentes sul-americanos. Brasil, Uruguai, Chile e Colômbia são alguns dos países que aderiram ao modelo, cada um com suas peculiaridades.
Paraguai segue o modelo adotado na Argentina. A federação de futebol do país divulgou recentemente uma nota assinada pelos 12 clubes da primeira divisão informando que eles não acompanham o projeto de lei para criação de sociedades anônimas no país.
Para especialistas no tema, a decisão coletiva dos clubes do país de Messi não é boa para concorrências no mercado da bola.
"Sobretudo quando analisamos o contexto vivido por lá de hiperinflação, dólar nas alturas, falta de recursos para investimento, empobrecimento contínuo da população, entre outros fatores negativos que também impactam no futebol e tornam quase que impossível colocar em prática um crescimento orgânico e sustentável das receitas, sem depender de capital externo", disse Eduardo Carlezzo, advogado especializado em direito desportivo.
"Não resta dúvida que a geração de novas receitas está deixando o futebol argentino e de outros países do continente para trás em relação ao Brasil. Ainda vamos ver as principais potências como Boca e River chegando, mas temos acompanhado que tem sido menos constante, e apesar de não ser apenas isso, um dos fatores deste atraso passa sim pela demora no processo da constituição da SAF. Ao mesmo tempo, ainda não vejo o futebol argentino com a mesma estrutura em relação ao Brasil quando falamos da conclusão deste projeto, devendo passar pelos mesmos processos que levaram muitos clubes grandes brasileiros a introduzirem a SAF no país", diz Fernando Paz, diretor comercial da agência de marketing esportivo Absolut Sport.
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