SANTOS, SP (FOLHAPRESS) - Léo Condé, 45, jamais se esqueceu de 3 de maio de 2015. Finalista invicto com a Caldense no Campeonato Mineiro daquele ano, o jovem treinador viu escorrer pelos dedos um título estadual que parecia certo.

E foi amargo: com um gol de Jô, do Atlético-MG, em posição irregular, já nos minutos finais da decisão em Varginha. O lance e a data o marcaram para sempre.

"Estou no 17º clube da minha carreira, mas nunca esqueci [daquele dia]. A forma como perdemos me machucou muito", lembra à reportagem.

Pouco mais de oito anos depois daquele jogo, o treinador mineiro pôde, enfim, fazer o improvável acontecer.

Ele conduziu o Vitória ao inédito título da Série B de 2023 --o primeiro troféu nacional da história de 124 anos do clube, somente um ano após o acesso da Série C.

A conquista alçou o treinador a um dos nomes cotados pela nova diretoria do Santos após o fracasso nas negociações com Thiago Carpini, do Juventude. A investida esbarra na recente renovação de contrato, homologada entre ele e o clube baiano na última semana. O nome preferido do clube paulista é o de Fábio Carille.

"Foi um casamento que deu certo. Depois da Caldense, creio que é o trabalho que pude colocar minha identidade, fazer as pessoas voltarem a me olhar de forma diferente", analisa.

Condé começou 2023 bem diferente da forma como terminou o ano anterior. Na ocasião, ficou três meses sem clube mesmo após campanha sólida com o Sampaio Corrêa, onde terminou a Série B na quinta colocação, a quatro pontos do acesso.

Só assumiu a equipe baiana em fevereiro em um cenário parecido com o do Santos, quase apocalíptico. O time acumulava fracassos em série.

O Vitória foi eliminado nas primeiras fases do Campeonato Baiano, da Copa do Nordeste e da Copa do Brasil. O treinador, por sua vez, não venceu nenhum dos sete primeiros jogos -somou três derrotas e quatro empates.

Ganhou um voto de confiança da diretoria e usou uma "intertemporada" forçada pela falta de competições para ajustar a equipe aos seus moldes. A tática deu certo.

"Cheguei em um momento muito turbulento, com troca de comando [de treinador] e sete jogos em apenas um mês. Tivemos quase 40 dias para nos prepararmos. Aí, sim, fui colocando minhas ideias e remodelei boa parte do time com a chegada de 12 atletas", conta.

O renovado Vitória estreou na Série B vencendo a Ponte Preta por 3 a 0 e embalou uma sequência de cinco triunfos consecutivos na competição.

"Nos reapresentamos jogando bem, em pleno Barradão, e isso foi uma espécie de resgate de confiança. A torcida sentiu que poderia confiar, e as coisas começaram a funcionar", explica Condé.

Apesar do acesso no ano anterior, torcedores rubro-negros acumulavam sofrimento desde a queda da Série A, em 2018. Nos últimos cinco anos, o clube contratou 144 jogadores e teve 17 treinadores, além de três presidentes. Chegou a ficar ameaçado de queda para a Série D.

Condé, além do título inédito, ainda precisava contrariar uma estatística difícil. Desde 2008, com Vagner Mancini, a agremiação não iniciava e terminava uma competição nacional com o mesmo comandante.

"Quando o Vitória me procurou fui procurar o histórico recente e me assustei um pouco. Mas com essa diretoria, nos nove meses de trabalho, jamais houve um só mês de salários atrasados. Sinto um constante desejo de todos em melhorar a estrutura que parou um pouco no tempo", relata.

Após o elogiado trabalho na Caldense, em 2015, o treinador recebeu convites para virar auxiliar permanente de equipes como Atlético-MG e Cruzeiro. Apostou na carreira solo como treinador, mas jamais dirigiu uma equipe na elite.

"Acho que no meu melhor momento faltou chance muito em razão do sucesso do Fábio Carille, no Corinthians, e a tendência dos clubes que apostavam nos auxiliares da casa como Jair Ventura, Thiago Larghi e o Eduardo Barroca", aponta.

Apesar da ausência em clubes da Série A, ele se orgulha de quatro títulos na carreira: duas edições do Campeonato Maranhense, em 2020 e 2022, do Alagoano, em 2017, e do Troféu do Interior, em 2021.

Conquistou ainda dois acessos, com o Botafogo-PB, em 2018, e com o Novorizontino, em 2021. A Série B, agora, o alça novamente entre os treinadores emergentes.

"Percebo técnicos que sempre trabalhavam bem, mas que insistiam em não serem tão bons por não terem títulos de expressão. As conquistas ajudam a te olharem diferente", explica.

Condé cumpriu no Vitória a missão que ficou incompleta na Caldense.

Curiosamente, no penúltimo jogo da competição, o da entrega da taça diante do Sport, com um Barradão lotado, ele reencontrou pela primeira vez com o árbitro assistente Guilherme Dias Camilo, responsável pelo erro que custou o título estadual.

"Ele me deu um abraço, pediu desculpas. Perdoamos, não havia VAR. E está tudo certo mesmo", conclui.

Agora, ele tem tudo para fazer o seu primeiro trabalho na elite nacional. Com o passado plenamente resolvido e em lua de mel com a nova torcida.

Liamara Polli/Gazeta Press - Léo Condé Santos

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