SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) - A Copa Africana de Nações começa neste sábado (13), com o duelo entre a anfitriã Costa do Marfim e Guiné-Bissau. Quando a bola rolar, a 34ª edição do torneio mostrará duas características marcantes: o equilíbrio entre as principais seleções, e o abismo financeiro que separa superestrelas de jogadores semi-profissionais.
Nas últimas sete edições da competição, sete países distintos ficaram com o título: Egito (2010), Zâmbia (2012), Nigéria (2013), Costa do Marfim (2015), Camarões (2017), Argélia (2019) e Senegal (2021).
A edição que começa neste sábado poderia aumentar a sequência para oito: Marrocos, que jamais conquistou o título, é o país africano melhor classificado no ranking da Fifa, na 13ª posição. Mas, na Copa Africana de Nações, nem sempre os favoritos vencem.
"Embora seja um campeonato realizado a cada dois anos, as seleções mudam muito, e de forma muito rápida. De uma edição para outra, sempre vemos renovação, vários jogadores jovens. Dependendo da geração de cada país, o equilíbrio de forças muda", afirma ao UOL o ex-volante Juvenal Edjogo, que disputou as edições de 2012 e 2015 pela seleção de Guiné Equatorial.
Para Edjogo, o torneio que começa neste sábado não está imune às surpresas: "Há equipes que não têm tantos nomes famosos, mas que podem competir em alto nível e chegar longe", avalia, citando a sua Guiné Equatorial, Angola, Botswana e Gâmbia como equipes pouco conhecidas que poderiam se destacar.
As cotações de favoritos em casas de apostas mostra o equilíbrio da Copa Africana de Nações: não há uma barbada, com Marrocos, Senegal, Costa do Marfim, Argélia, Egito e Nigéria apontados como vencedores mais prováveis.
ESTRELAS E SEMI-PROFISSIONAIS
Além do equilíbrio e da imprevisibilidade, a CAN também é conhecida como um dos torneios mais desiguais do planeta. Afinal, o continente que exporta jogadores para a Premier League, a Liga Espanhola ou o Campeonato Italiano também abriga algumas das ligas nacionais mais precárias do mundo.
Em números, o abismo fica ainda mais evidente. Sadio Mané, estrela de Senegal, tem um salário anual de 40 milhões de euros (R$ 210 milhões) no Al-Nassr, da bilionária Liga Saudita; Mohammed Salah, principal nome do Liverpool, ganha pouco mais da metade para ser uma das estrelas da Premier League.
Enquanto isso, o salário médio das ligas de países como Mauritânia, Gâmbia ou Tanzânia não chega aos R$ 20 mil reais anuais. Jogadores destas ligas que chegam à seleção recebem um pouco mais -- por volta de R$ 60 mil por ano --, para jogar contra adversários semi-profissionais, em gramados de péssima qualidade e estádios sem qualquer glamour.
Além dos jogadores que militam nas ligas africanas, há os que disputam campeonatos de divisões inferiores na Europa. É o caso, por exemplo, de Emilio Nsue, capitão de Guiné Equatorial. O atacante, de 34 anos, joga no Intercity, que disputa a terceira divisão da Espanha; o salário mais alto do elenco é de 22 mil euros anuais (R$ 117 mil), uma fração do que ganham os astros da Nigéria, a rival da partida de estreia: Victor Osimhen, estrela do Napoli, tem salário anual de 10 milhões de euros (R$ 53 milhões).
Apesar do abismo muito maior do que acontece na Copa América ou na Eurocopa, quem já esteve em campo na competição afirma que a diferença financeira não tem influência na forma como os jogadores encaram o evento.
"A Copa Africana talvez seja a competição em que mais existe esse abismo de qualidade de jogadores e dos salários. Isso chama a atenção, mas os jogadores vivem esse tipo de torneio de uma forma muito coletiva, de unidade, de representar o país. Há um espírito de que todos são iguais na seleção", explica Edjogo.
"Essa maneira de pensar, de que todos são importantes, muitas vezes faz com o que o gol de uma vitória importante, ou até do título, saia dos pés de um jogador de terceira divisão de um país europeu", conclui o capitão de Guiné Equatorial na edição de 2015.
Naquela Copa Africana, os guinéus equatorianos chegaram à semifinal, mesmo sem grandes estrelas no elenco.
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