SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Lewis Hamilton insistia que não era o seu sonho defender a Ferrari, a equipe com a qual acaba de assinar contrato, válido a partir de 2025. Fã ardoroso de Artyon Senna, o inglês disse em junho do ano passado que sempre preferiu a combinação vermelho e branco, que marcou época na McLaren --com a qual o brasileiro alcançou seus três títulos mundiais--, ao vermelhão da escuderia italiana.

"Quando eu era jovem, minha referência era Ayrton Senna. Então, eu estava mais para o vermelho e branco, meu sonho era a McLaren", afirmou o inglês ao Dazn, antes de admitir sua admiração. "Mas eu entendo os pilotos que veem um carro vermelho e dizem: 'É uma equipe icônica'. Por sorte, tenho um carro vermelho em casa. Sim, sou fã da Ferrari."

Se não era propriamente o sonho de Lewis guiar uma Ferrari na F1, por muitos anos foi o de Ayrton. Ao longo de sua trajetória na categoria, o tricampeão namorou diversas vezes com a equipe de Maranello, mas nunca avançou para um casamento.

Luca di Montezemolo, ex-presidente da Ferrari, disse no ano passado que seu grande arrependimento foi não ter contratado Senna. Algo que esteve muito perto em 1994, quando o brasileiro teve seu acidente fatal.

"Ele veio até a minha casa em Bologna, antes do acidente de Ímola, e me disse que queria correr a todo custo conosco e deixar a Williams. Combinamos de nos vermos depois de Ímola, mas depois aconteceu o que aconteceu", contou Montezemolo à Sky Sport.

"Eu ficaria feliz em tê-lo. Teria sido a cereja do bolo, que foi o que aconteceu com Michael Schumacher", acrescentou o italiano.

O alemão Michael Schumacher foi contratado pela Ferrari em 1996 e ficou na equipe até 2006, período no qual ganhou cinco de seus sete títulos mundiais --os dois primeiros ele conquistara pela Benetton.

Hamilton teve uma trajetória semelhante na Mercedes, escuderia para a qual o britânico se transferiu em 2013 e na qual conquistou seis de seus sete campeonatos. O título que o alçou à categoria de campeão mundial ele ganhou pela McLaren, em 2008, quando realizou seu sonho de infância.

Desde o ano passado, quando a renovação de contrato do inglês com a equipe de Toto Wolff ganhou ares de novela, estendendo-se até meados de agosto, rumores apontavam uma negociação com a Ferrari, algo que o piloto negava.

A escuderia italiana também negava a possibilidade. No fim, o inglês acabou estendendo seu vínculo com a Mercedes até o fim de 2025 --com uma cláusula, agora acionada, que permitia o encerramento antecipado, ao final de 2024.

Senna também conviveu com especulações envolvendo seu nome e a escuderia de Maranello. Bem antes da conversa com Montezemolo, teve também encontros com Cesare Fiorio, antigo chefe ferrarista, que desejava unir o brasileiro a John Barnard, projetista responsável pelos carros campeões da McLaren nos anos 1980.

Fiorio apostava alto no talento de Ayrton, coisa que o histórico fundador da Ferrari, Enzo Ferrari, não quis fazer quando o brasileiro tinha 24 anos. Na época, o nome do piloto lhe foi sugerido, mas Enzo o achava muito jovem.

O Commendatore mudou de ideia nos anos seguintes, quando convidou Senna para um encontro em 1986, época em que o contrato do brasileiro com a Lotus estava perto do fim.

A conversa entre eles, porém, não foi frutífera. Pelo contrário, Enzo divulgou uma nota dura, na qual disse que Senna certamente era um grande piloto, mas: "Não tenho tanta certeza sobre o homem".

As portas da Ferrari só voltariam a ficar abertas para o brasileiro após a morte do chefão, em 1988. Em 1989, Fiorio tentou juntar Senna e Prost na equipe italiana, mas conseguiu fechar apenas com o francês para a temporada de 1990.

Na época, os dois pilotos viviam o auge da rivalidade que marcou a trajetória de ambos e que culminaria em mais uma decisão de título polêmica. Em 1990, Senna bateu com sua McLaren na Ferrari de Prost e ganhou o bicampeonato na corrida disputada no Japão.

Era uma revanche pelo que havia ocorrido no mesmo circuito de Suzuka, em 1989, quando Prost, ainda na McLaren, tirou Ayrton da prova com uma batida e ficou com o caneco.

Os episódios nunca afastaram Senna completamente da Ferrari. Em 1994, já na Williams, o brasileiro estava descontente com a equipe e buscou uma nova aproximação com a escuderia italiana.

Segundo Montezemolo, foi nessa época que eles ficaram muito perto de fechar um acordo, uma vez que o tricampeão estava disposto a romper seu contrato com Williams, que ia até o fim de 1995.

A negociação não foi concretizada, e, em 1996, Michael Schumacher foi quem assumiu a missão que seria de Senna. Coube a ele tirar a Ferrari da fila, conquistando o título em 2000, 21 anos após o triunfo anterior alcançado pelos italianos.

Outros quatro canecos vieram na sequência, fazendo do alemão o primeiro heptacampeão mundial, feito depois igualado por Lewis Hamilton. Que agora vai vestir o macacão desejado por Senna e com o qual Schumacher eternizou seu nome na F1.


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