SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Ministério das Relações Exteriores da China criticou os EUA nesta segunda-feira (22) por adotarem o que chama de "retórica vazia e lógica hegemônica" em relação a Taiwan, província que Pequim considera parte de seu território. O comunicado responde a uma declaração do embaixador americano, Nicholas Burns, que disse que o regime chinês está agindo com exagero e fabricando uma crise.

Em entrevista à emissora CNN na última sexta-feira (19), Burns afirmou que a gestão do dirigente Xi Jinping precisa convencer o resto do mundo de que não é um "agente de instabilidade" e de que agirá pacificamente no Estreito de Taiwan.

O diplomata, que assumiu o cargo na China há seis meses, defende que a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taipé não desencadeou uma crise entre Washington e Pequim. Desde que a parlamentar pousou na província, no início de agosto, a China respondeu fazendo mobilizações militares recordes no entorno da ilha e suspendendo as principais comunicações diplomáticas com os americanos.

"Não acreditamos que deva haver uma crise nas relações EUA-China sobre a visita -a visita pacífica- da presidente da Câmara dos Deputados a Taiwan. Foi uma crise fabricada pelo governo em Pequim. Foi uma reação exagerada", disse Burns. "Acho que há muita preocupação em todo o mundo de que a China se tornou um agente de instabilidade no Estreito de Taiwan e isso não é do interesse de ninguém".

Nesta segunda, a diplomacia chinesa afirmou que as observações feitas pelo embaixador devem ser vistas como uma "distorção dos fatos", comprovando a "retórica vazia e a lógica hegemônica" das autoridades americanas.

O ministério ainda ressalta que Washington continua aumentando a pressão na região, "jogando lama na China". "O status quo no Estreito de Taiwan está sendo alterado pelos EUA, e não pelo lado chinês", diz o comunicado. "É óbvio que os Estados Unidos foram os primeiros a lançar uma provocação", acrescenta.

Burns disse ter recebido uma convocação para se reunir com o vice-chanceler chinês, Xie Feng, no exato momento em que o avião de Pelosi desembarcou em Taipé. Segundo ele, o encontro foi "bastante contencioso", mas Pequim projetou sua resposta, incluindo o disparo de mísseis, como forma de intimidar Taiwan e conduzir uma campanha global culpando os EUA por minar a estabilidade na região.

As novas acusações entre as autoridades diplomáticas adicionam mais um capítulo às já tensas relações entre Washington e Pequim, que cresceram exponencialmente após a visita de Pelosi.

As rusgas ganharam um novo elemento neste domingo (21), com a chegada do governador de Indiana, Eric Holcomb, a Taipé, exatamente uma semana após a visita de outra delegação formada por cinco congressistas americanos. A visita de Holcomb marca a terceira vez, em 20 dias, que uma autoridade americana vai a Taiwan em desafio à China, que vê os movimentos como violações de sua soberania.

O republicano disse que a viagem seria para fortalecer ainda mais as conexões econômicas, acadêmicas e culturais com Taiwan. A ilha é sede da maior fabricante de chips do mundo, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co Ltd. (TSMC), e tem feito questão de mostrar aos EUA que é confiável no momento em que uma crise global de semicondutores afeta a produção de automóveis e eletrônicos.

Em encontro com Holcomb, a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, afirmou que a província quer garantir que seus parceiros tenham suprimentos confiáveis do que chamou de "chips de democracia", acrescentando que as ameaças da China significam que outras democracias precisam cooperar.

No domingo, após a chegada do governador a Taipé, o Ministério da Defesa de Taiwan afirmou que 12 aeronaves e cinco navios chineses foram detectados próximos à ilha, incluindo cinco aviões que cruzaram a linha do Estreito de Taiwan. Nesta segunda, as autoridades disseram que mais quatro aeronaves chinesas cruzaram a linha novamente.

A chancelaria de Pequim, por sua vez, voltou a dizer que Taiwan é parte inalienável da China e o ponto mais sensível na relação com Washington. "Instamos as partes relevantes nos EUA a cumprirem o princípio de uma só China e a interromperem todas as formas de interações oficiais com a região de Taiwan."


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