SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, afirmou nesta terça-feira (23) que a província está determinada a se defender de inimigos, destacando que potenciais invasores -uma indireta pouco velada à China- pagarão um "preço alto" caso incorram em ofensivas contra o território.

A declaração ocorre em meio à intensificação das manobras militares executadas pela China ao redor da ilha após a viagem da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taipé. Pequim considera Taiwan uma província rebelde e parte inalienável de seu território. A visita de autoridades americanas, nesse contexto, representaria violações da soberania chinesa.

"O que temos que fazer é deixar o inimigo entender que Taiwan tem a determinação e preparação para defender o país, bem como a capacidade de se defender", disse Tsai. "Um alto preço será pago por invadir Taiwan ou tentar invadir Taiwan, e isso será fortemente condenado pela comunidade internacional."

Além do cenário de tensão crescente, a fala da presidente de Taiwan ocorre na data em que a ilha comemora o 64º aniversário de um confronto conhecido como "bombardeio 823". Na ocasião, em 1958, forças taiwanesas repeliram um ataque da artilharia chinesa às ilhas Kinmen e Matsu, perto da costa continental -uma vitória que simboliza a resistência da província ao poderio militar de Pequim.

Reunindo-se com oficiais militares, Tsai exaltou o espírito de defesa de Taiwan. Naquele ano, a China disparou 470 mil projéteis em direção às ilhas, num ataque que durou 44 dias e matou 618 pessoas.

"Aquela batalha para proteger nosso território mostrou ao mundo que nenhuma ameaça diminui a determinação da população de Taiwan de defender sua nação, nem no passado, nem no presente, nem no futuro", disse Tsai.

No início do dia, a presidente esteve com uma delegação de acadêmicos dos EUA, incluindo Matt Pottinger, que foi vice-conselheiro de segurança nacional durante o governo de Donald Trump. Durante o encontro, Tsai disse que a batalha de 1958 abriu o caminho para o que a província é hoje. "Sessenta e quatro anos atrás, durante a batalha de 23 de agosto, nossos soldados e civis operaram em solidariedade e protegeram Taiwan, de modo que temos a Taiwan democrática hoje", disse.

Durante os confrontos, Taiwan lutou com o apoio dos Estados Unidos, que enviaram equipamentos militares, incluindo avançados mísseis antiaéreos que deram à ilha uma vantagem tecnológica.

Muitas vezes chamada de Segunda Crise do Estreito de Taiwan, 1958 foi a última vez em que as forças taiwanesas entraram em confronto com a China em grande escala.

Embora tenham abandonado relações diplomáticas formais com Taipé em 1979, os EUA continuam sendo a fonte de armas mais importante de Taiwan. Inclusive, a aproximação entre Washington e a província tem incomodado Pequim, que considera este o ponto mais sensível na relação entre os dois países.

As rusgas se intensificaram com a visita de Pelosi, o que desencadeou exercícios militares recordes. No entanto, a tensão ganhou novo elemento no último domingo (21), com a chegada do governador de Indiana, Eric Holcomb, a Taipé, uma semana após a visita de outra delegação de cinco congressistas americanos. A visita de Holcomb marca a terceira vez, em 20 dias, que uma autoridade americana vai a Taiwan.

Os EUA acusam a China de usar a viagem de Pelosi como pretexto para intimidar e minar a resistência de Taiwan, e alertam para um possível erro de cálculo envolvendo a pressão militar contra a província.

Nesta segunda (22), a diplomacia chinesa criticou Washington por adotar o que chama de "retórica vazia e lógica hegemônica" em relação a Taiwan, argumentando que os EUA aumentam a pressão na região e "jogam lama na China".

O governo de Taiwan argumenta que, como a República Popular da China nunca governou a ilha, não tem o direito de reivindicá-la ou decidir seu futuro, que só pode ser definido pelos 23 milhões de habitantes de Taiwan.


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