SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Liderando a quarta delegação dos EUA a visitar Taiwan neste mês, a senadora republicana Marsha Blackburn se encontrou nesta sexta-feira (26) com a presidente Tsai Ing-wen, a quem ofereceu apoio para que a ilha se torne uma nação independente. A promessa simboliza um desafio direto à China, que considera a província rebelde e parte inalienável de seu território.
A parlamentar, que é uma crítica de longa data de Pequim, integra os comitês de Comércio e Serviços Armados do Senado e afirmou que Washington e Taipé compartilham dos mesmos valores democráticos. "É realmente importante que as nações amantes da liberdade apoiem Taiwan enquanto buscam preservar sua independência e sua liberdade", disse.
A declaração, em certa medida, confronta o próprio posicionamento oficial da Casa Branca em relação à ilha. Embora sejam um forte defensor de Taiwan, os EUA não reconhecem -como a maioria dos países- a província como um Estado independente, ainda que se oponham a qualquer tentativa chinesa de tomada do território à força.
Tanto a viagem quanto a fala da senadora ajudam a adicionar ainda mais tensão à crise aberta em Washington e Pequim após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, no início de agosto. O regime de Xi Jinping vê a ida de autoridades americanas a Taipé como uma violação de sua soberania, e costuma responder ao que considera uma provocação com manobras militares.
Antes de sua viagem, Blackburn disse em comunicado que Taiwan é o parceiro mais forte dos EUA na região do Indo-Pacífico, destacando que visitas regulares de autoridades americanas são uma política de longa data. "Não serei intimidada pela China comunista a dar as costas à ilha", disse.
Nesta sexta, após se encontrar com Tsai, a republicana disse que a ilha estava interessada em negociações militares com Washington. "Eles definitivamente estão procurando mais", afirmou. "E quando se trata de vendas de FMS [vendas militares estrangeiras, na sigla em inglês], eles sentem que isso está se movendo muito devagar. O ritmo precisa acelerar", acrescentou.
Desde 2017, presidentes americanos aprovaram mais de US$ 18 bilhões (R$ 92,1 bilhões) em vendas de armas para Taiwan, sendo que a maior parte desse valor foi destinado na segunda metade do governo de Donald Trump. As novas aprovações diminuíram na gestão de Joe Biden, em meio a atrasos de entrega, gargalos na cadeia de suprimentos e relatos de desacordo entre Washington e Taipé sobre quais itens de defesa a ilha precisa.
Blackburn, que deve ficar em Taiwan até sábado (27), foi uma das senadoras a manifestar apoio à viagem de Pelosi no início de agosto, mesmo sendo de partidos rivais.
Durante o encontro desta sexta em seu gabinete, a presidente de Taiwan afirmou que visitas recentes de convidados americanos são atos calorosos de bondade e firme demonstrações de apoio à determinação da província em se defender.
Na última terça-feira (23), a presidente fez declaração semelhante, ao dizer que Taiwan está determinada a se proteger de inimigos, destacando que potenciais invasores --uma indireta pouco velada à China-- pagarão um "preço alto" caso incorram em ofensivas contra o território.
O governo Biden tem buscado evitar que as tensões entre Washington e Pequim, inflamadas pelas visitas, se transformassem em conflito, reiterando que as viagens são rotineiras. Segundo a Casa Branca, a China usa a viagem de Pelosi como pretexto para intimidar e minar a resistência de Taiwan e alertam para um possível erro de cálculo envolvendo a pressão militar contra a província.
Pequim, por sua vez, acusa os EUA de jogarem lama sobre a China e adotarem o que chama de "retórica vazia e lógica hegemônica" em relação à província.
Nesta quinta, o porta-voz da embaixada da China em Washington, Liu Pengyu, prometeu que Pequim tomaria "contramedidas resolutas" não especificadas em resposta ao que chamou de "provocação" dos EUA.
"A visita mais uma vez prova que os EUA não querem ver estabilidade no Estreito de Taiwan e não pouparam esforços para provocar confrontos entre os dois lados e interferir nos assuntos internos da China", disse em comunicado.
Desde que Pelosi pousou na província, no início do mês, a China respondeu com mobilizações militares recordes no entorno da ilha -que incluíram o disparo de 16 mísseis balísticos em direção a Taiwan-, além da suspensão das comunicações diplomáticas com os EUA.
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