SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Chefe da diplomacia da UE (União Europeia), Josep Borrell disse nesta segunda (5) que o bloco precisa redefinir sua política de compras militares porque a Guerra da Ucrânia está "esgotando em grande proporção" os arsenais dos países-membros.

Em outro movimento importante, que demonstra os efeitos da invasão russa nos mercados de defesa, o Irã anunciou que pretende comprar 24 caças avançados Su-35 de Moscou. Os modelos haviam sido construídos para o Egito, mas a ameaça dos EUA de aplicar sanções contra o país árabe o fizeram trocar o avião russo pelo americano F-15.

Com isso, os seis meses de guerra que alteraram a geopolítica europeia e afetam o mundo todo por seus efeitos econômicos, como o corte de gás russo para o continente demonstra, vão criando um novo panorama nas relações internacionais.

"Os estoques militares da maior parte dos Estados-membros [da UE] estão, eu não diria exauridos, mas esgotados em uma grande proporção, porque nós estamos provendo muita capacidade para os ucranianos", afirmou Borrell. "Tem de ser reposto, e a melhor maneira de fazer isso é todos juntos. Será mais barato", afirmou.

Até julho, o bloco havia aprovado o envio de EUR 2,5 bilhões (R$ 12,8 bilhões, no câmbio de hoje) em armas e munições para os ucranianos. A conta não inclui transferências individuais de Estados-membro, como no caso francês. O Reino Unido, que não faz mais parte do clube, também enviou vários sistemas de armas.

Mas o maior fornecedor ucraniano é, claro, a maior potência industrial-militar do mundo, os EUA. Washington já se comprometeu a enviar US$ 13,5 bilhões em armamentos, inclusive sistemas avançados antiaéreos e artilharia de longa distância.

Mesmo lá há discussão sobre o ritmo das entregas: o estoque de mísseis antitanque Javelin, vitais na primeira fase da guerra, foi reduzido ao mínimo necessário nos EUA. Foram enviados a Kiev 8.500 desses lançadores.

A guerra fez com que países europeus abrissem o cofre para gastos militares, particularmente aqueles membros da Otan (aliança militar liderada pelos EUA). Os americanos sempre se se queixaram do menor comprometimento continental com defesa, mas agora os países estão correndo para chegar ao menos aos 2% do PIB gasto com defesa, padrão do clube.

A fala de Borrell toca num ponto central: quem tem dinheiro, como a Alemanha, já anunciou um amplo programa de rearmamento, triplicando seu gasto militar neste ano ao abrir um fundo de EUR 100 bilhões (R$ 512 bilhões) para o fim. Quem se de bem, a exemplo do que ocorreu no Egito, foram os americanos, que irão vender caças F-35 a Berlim.

Mas países mais expostos e com menos recursos, como os Estados Bálticos, precisarão de ajuda e transferência por parte de Bruxelas. Hoje, são caças da Otan que patrulham os céus daquela região, já que Estônia, Lituânia e Letônia não têm Força Aérea capaz.

Mas a colocação do diplomata espanhol também indica outra coisa: mais uma frente de desgaste no apoio da Europa a Kiev, já afetado pela crise econômica, inflação e a perspectiva de um inverno de dificuldades.

Apesar das más notícias, além da resiliência em relação às sanções econômicas e o início da guerra do gás com a Europa, Moscou tem colhido algumas boas notícias em negócios militares. Até o conflito, a Rússia era o segundo maior vendedor de armas do mundo.

Além da Índia, parceira tradicional que pode aumentar suas encomendas, o Irã, que negocia um novo acordo de contenção de seu programa nuclear e busca ver sanções ocidentais levantadas, surge como um parceiro importante no Oriente Médio.

Isso já acontecia na associação com os russos e o governo sírio na guerra civil do país árabe. Em janeiro deste ano, Moscou e Teerã assinaram um pacto de cooperação militar que previa a compra de US$ 10 bilhões em armas russas. Especula-se que no pacote estariam os avançados Su-35, sistemas antiaéreos S-400 e até um satélite de espionagem.

Com a derrubada do negócio com o Cairo, os russos ficaram com 24 caças para exportação prontos e sem cliente, abrindo a possibilidade de uma transferência que essencialmente muda o nível da Força Aérea iraniana, que é muito eficaz em termos de drones, mas baseia sua defesa em antigos caças americanos F-14, comprados antes da Revolução Islâmica de 1979.

Segundo o comandante da Força Aérea local, Hamid Vahedi, disse à agência Borna no domingo (4), a aquisição dos Su-35 "está na agenda" e "para breve".

Na mão inversa, Moscou tem incrementado sua deficiente frota de drones com modelos iranianos, particularmente para aplicação como designador de alvos para artilharia na Ucrânia. Relatos dão conta que o primeiro esquadrão com modelos Mohajer-6 e alguns da família Shahed já foram enviados para os russos.


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