MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - Mary Elizabeth Truss será a nova primeira-ministra do Reino Unido. Com 57,4% dos votos válidos, ela bateu seu rival Rishi Sunak, que teve 42,6% em eleição na qual votaram apenas os cerca de 160 mil membros do Partido Conservador, que tem maioria no Parlamento. Na teoria, Truss foi eleita a nova líder do partido e, na prática, para comandar o Reino Unido em um momento de grave crise econômica.
A posse formal será realizada nesta terça-feira (6), quando a rainha Elizabeth 2ª anunciará seu nome em evento tradicional da política britânica ?um pouco menos tradicional desta vez, já que a rainha estará na Escócia, onde passa o verão, e não no Palácio de Buckingham, como é usual. Após a posse, a nova líder deverá anunciar os nomes que comporão seu ministério.
A votação de Liz Truss, como é comumente conhecida, não impressionou. Ela era a favorita, de acordo com as pesquisas de intenção de voto, mas dos quatro conservadores eleitos no século 21 apenas pelos filiados do partido, ela foi a única que não alcançou a marca de 60%.
Ao ser anunciada como primeira-ministra, às 12h40 desta segunda (8h40 no horário de Brasília), ela fez uma série de agradecimentos, inclusive a Sunak, seu adversário, e a seu antecessor e antigo chefe, Boris Johnson. O controverso premiê agora deixa o cargo, após cair em desgraça por frequentar eventos irregulares durante o lockdown em 2020 e enfrentar escândalos com seus principais auxiliares.
"Obrigado por depositarem sua fé em mim para liderar o maior partido político da Terra", disse Truss, no breve discurso de agradecimento. "Durante essa campanha, eu atuei como conservadora e governarei como conservadora. Vou entregar um plano ousado para diminuir impostos e fazer crescer nossa economia. Vou trabalhar na crise de energia, lidar com a conta de luz das pessoas, mas também lidar com as questões de longo prazo que temos no fornecimento de energia", tocando em um dos pontos mais sensíveis do momento atual da política britânica.
Truss também prometeu "entregar uma grande vitória" ao Partido Conservador em 2024, quando o Reino Unido vai às urnas em eleições gerais e, mais uma vez, a legenda será julgada pelo voto dos britânicos.
Sunak, o candidato derrotado, foi um dos primeiros a parabenizar a colega-rival por meio das redes sociais. "Obrigado a todos que votaram em mim. Eu já disse antes que os conservadores são uma única família. Vamos nos unir agora para apoiar a nova primeira-ministra, Liz Truss, enquanto ela conduz o país nesses tempos difíceis."
Boris também se manifestou: "Eu sei que ela tem o plano certo para enfrentar a crise do custo de vida, unir nosso partido e continuar o ótimo trabalho de unir e subir de nível nosso país. Agora é hora para que todos os conservadores a apoiem 100%", disse o futuro ex-premiê, depois de meses protagonizando crises internas que levaram seus correligionários a pedir reiteradamente sua renúncia.
Poucas horas após o anúncio da vitória, porém, duas secretárias renunciaram a seus postos no governo: Priti Patel, do Interior, e Nadine Dorries, da Cultura. Patel parabenizou a eleita no Twitter.
Já Keir Starmer, líder da principal legenda da oposição, o Partido Trabalhista, alfinetou. "Quero parabenizar nossa próxima primeira-ministra enquanto ela prepara seu ministério. Mas após 12 anos de governo conservador, tudo o que temos para mostrar são baixos salários, preços altos e um custo de vida digno de um conservador. Só o Partido Trabalhista pode entregar o novo começo que nosso país precisa", escreveu.
Ela ainda recebeu mensagens do francês Emmanuel Macron ?com quem Boris chegou a trocar farpas envolvendo a crise migratória no Canal da Mancha? e do ucraniano Volodimir Zelenski. Segundo este último, Truss sempre esteve "no lado iluminado" da política europeia. O governo Boris tem sido forte aliado de Kiev, e pouco antes de a guerra no Leste Europeu estourar, ela teve destaque ao ser alvo de uma pegadinha do chanceler russo Serguei Lavrov.
Truss é a terceira mulher ?e a terceira conservadora? na posição, tendo sido precedida por Theresa May (2016-2019), e Margaret Thatcher (1979-1990). Antes de se tornar primeira-ministra, ela passou por diversos cargos nos governos recentes de seus colegas de partido.
Com Boris Johnson (2019-2022) foi secretária do Comércio Internacional e, desde o ano passado, atuava como secretária das Relações Exteriores. Com May no poder, Truss chefiou as pastas da Justiça e do Tesouro e com David Cameron (2010-2016) esteve à frente do Ambiente. Neste último cargo, ela contrastou com seu antecessor ao dizer que acreditava na mudança climática sobre a qual os cientistas alertam e também que a humanidade estava contribuindo para o aquecimento.
Aos 47 anos, Truss inicia seu governo às vésperas da "catástrofe de inverno", que é como os britânicos estão chamando as consequências da crise de energia ocasionada pela Guerra da Ucrânia. Espera-se que contas de luz que custavam uma média anual de £ 2.000 (R$ 12 mil) pulem para £ 3.600 (R$ 21,5 mil). O aumento de 80%, aliado à inflação, pode causar mortes e sofrimento no segundo semestre, com famílias sendo obrigadas a escolher entre cozinhar ou aquecer a casa, em temperaturas médias entre 4°C e 9°C.
Truss foi severamente criticada durante a recente campanha por não se aprofundar sobre o tema, dizendo vagamente que não acreditava em fazer doações ?em referência à possibilidade de o governo oferecer benefícios em assistência às famílias. Membros de seu próprio partido vieram a público para criticá-la.
Nesta segunda, o jornal Telegraph noticiou que ela estuda congelar o valor da conta de energia até a próxima eleição.
Em junho, a atual inflação do Reino Unido ultrapassou a média anual de 10% pela primeira vez desde 1982, quando os países eram governados por Thatcher . Sempre comparada à antiga primeira-ministra, Truss já rebateu as comparações. "Margaret Thatcher foi há muito tempo. Temos novas batalhas para vencer. Minha filosofia pessoal é dar às pessoas a oportunidade de tomarem suas próprias decisões."
Outra cobrança comumente feita a Truss é a mudança de posição em relação ao brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, oficializada por Boris em janeiro de 2020. Quando as pesquisas indicavam apoio da população à manutenção do Reino Unido no bloco, ela atuou a favor disso, mas mudou de ideia justamente quando as pesquisas tenderam à saída.
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