SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A contraofensiva da Ucrânia contra as forças de ocupação russas na região de Kharkiv se mostrou, ao menos inicialmente, uma "vitória substancial" para Kiev.

A rara admissão foi feita nesta sexta (9) por um dos administradores indicados pelo Kremlin para aquela área do nordeste ucraniano, Vitali Gantchev, em um ambiente ainda mais inusitado: a TV estatal russa, que geralmente apresenta uma versão edulcorada do que é chamado de "operação militar especial".

"O próprio fato de que nossas defesas foram violadas é uma vitória substancial para as Forças Armadas da Ucrânia", disse o colaborador ucraniano, natural de Kharkiv, capital da província homônima que havia sido parcialmente ocupada pelos russos desde abril.

Ele afirmou que reforços russos já chegaram à área, que será palco de "batalhas duras". O Ministério da Defesa da Rússia divulgou vídeo com caminhões e blindados rumando à frente, vindos das regiões vizinhas de Belgorodo e Kursk.

Desde o começo da semana, surgiram relatos de que Kiev estava pressionando Moscou com a abertura de uma frente no norte do país, enquanto sua contraofensiva em Kherson (sul) enfrentava grande resistência. Eles foram confirmados pelo presidente Volodimir Zelenski na quarta (7), e na quinta o líder disse que 1.000 km² haviam sido recapturados.

Não é possível saber se há o usual exagero na afirmação, mas a reação estranhamente franca dos russos sugere que desta vez Zelenski não está só posando para as câmeras. Analistas e blogueiros militares em Moscou dizem que o rompimento da frente foi grande, mas que Kiev pode não ter reservas suficientes para sustentar o avanço inicial.

Resta saber se os russos, que já tinham desviado forças para conter o ataque em Kherson, têm de onde tirar homens para proteger as áreas ocupadas de Kharkiv, cuja capital não chegaram a tomar, apesar de intensos ataques à cidade, segunda maior da Ucrânia. A falta de recursos humanos, decorrente do fato de não haver uma mobilização geral por motivos políticos, tem afetado toda a campanha russa.

Segundo as Forças Armadas de Kiev, o avanço já chegou a 50 km, e vídeos em redes sociais mostram o que seriam moradores aplaudindo os soldados ucranianos em cidades abandonadas pelos russos. O foco da ofensiva parece ser Kupiansk, um entreposto ferroviário pelo qual passam suprimentos enviados da Rússia para o foco principal de sua ação, os combates no Donbass (leste do país), na fronteira a leste de Kharkiv.

Essa iniciativa foi vista pelo secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, como "encorajadora". Mas a situação da contraofensiva no sul do país não parece tão rósea para Zelenski. O jornal americano The Washington Post entrevistou uma série de soldados feridos na ação, e os relatos são de superioridade das forças russas na região e falta de suprimentos para as ucranianas.

Kiev reagiu enviando a polícia atrás do repórter local que ajudou os americanos na confecção do texto --mantendo o padrão de desrespeito ao jornalismo que marca ambos os lado da guerra.


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