WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O reforço no número de incursões militares de Israel na Cisjordânia, em ações classificadas pelas forças do país como de combate ao terrorismo, tem elevado a pressão de observadores internacionais sobre o governo israelense. Mesmo os tradicionais aliados Estados Unidos subiram o tom nesta semana.
Os palestinos afirmam que vivem hoje um dos períodos mais violentos dos últimos anos, com óbitos contados às dezenas. Segundo Israel, o incremento se deu em resposta a uma onda de ataques contra cidadãos do país que deixou ao menos 18 mortos.
Em um raro gesto diplomático, um porta-voz do Departamento de Estado americano afirmou na terça-feira (6) que Washington vai continuar a pressionar Israel para que o país reveja suas regras de combate na Cisjordânia e reduza o risco à vida de civis palestinos e de jornalistas. A pressão vai ser exercida, segundo afirmou Vedant Patel durante encontro com a imprensa, nos mais altos escalões do governo.
Antony Blinken, secretário de Estado americano, já vinha fazendo esse pedido em conversas com as autoridades israelenses, mas a fala do porta-voz trouxe a discussão ao debate público --o que gerou fortes reações de Israel. "Ninguém vai ditar as nossas regras de combate, quando somos nós que estamos lutando para defender nossas vidas", afirmou o primeiro-ministro Yair Lapid ao responder às falas vindas de Washington.
Eytan Gilboa, professor de relações internacionais na Universidade Bar-Ilan, em Israel, disse à Folha que os comentários americanos foram "ridículos" e "ultrajantes". "Criou-se uma crise. Os EUA estão agora tentando voltar atrás. Mas é uma crise, e espero que ela se resolva logo."
O porta-voz da diplomacia de Washington citou as regras de combate ao comentar a morte da jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh, da rede de TV Al Jazeera, em maio. O caso se tornou um dos maiores desafios recentes do governo israelense em termos de sua imagem pública. Nome quase mítico entre os árabes por suas coberturas e figura frequente nas telas da emissora qatari, a repórter foi morta na cidade de Jenin, na Cisjordânia, enquanto acompanhava uma ação militar israelense.
Investigações de jornais de prestígio, de organizações internacionais de defesa dos direitos humanos e mesmo dos EUA e da ONU culparam Israel pelo disparo que matou Abu Akleh. Durante meses, o país negou ter responsabilidade e sugeriu que o tiro era na verdade obra dos palestinos. Nesta semana, o governo admitiu que provavelmente um de seus soldados foi responsável pela morte da repórter, ainda que de modo acidental.
O Ministério Público Militar, por sua vez, anunciou que não viu suspeitas de um ato criminoso "que justificasse uma investigação penal".
A morte de Abu Akleh, porém, não deve sair do radar dos ativistas pró-Palestina, que consideram que o caso engrossa uma lista de fatores que endureceram a visão sobre Israel nos últimos anos. As críticas focam ataques aéreos na Faixa de Gaza, o impacto de ações militares de contraterrorismo em civis e o fato de as forças israelenses terem agredido, com golpes de cassetete e bombas de efeito moral, homens que carregavam o caixão da jornalista em seu funeral, em maio passado.
Israel afirma que suas incursões na Cisjordânia, território que ocupa desde 1967, foram intensificadas como reação a uma recente onda de ataques contra israelenses que deixou 18 mortos. Muitas das operações ocorrem justamente na cidade de Jenin, tida como um bastião militante --e onde Abu Akleh foi morta.
O Ministério da Saúde palestino afirma que cerca de cem palestinos já morreram na mais recente campanha israelense, entre eles militantes e civis. Apesar da pressão internacional, não há sinais de que a tensão na região vá diminuir. O Exército israelense informou, em nota recente, que pode inclusive aumentar seu escopo.
Ecoando a narrativa oficial, Gilboa diz que o país tem sido forçado a agir porque as autoridades palestinas têm sido incapazes de controlar a população. O fato de Israel se preparar para ir às urnas em novembro --o quinto pleito em três anos-- também tem seu peso. "A oposição acusa o governo de não fazer o bastante para prevenir o terrorismo."
Na terça, uma incursão deixou ao menos um palestino morto e feriu 16 em Jenin. O homem foi identificado como Mohammad Sabaaneh, 29. Segundo testemunhas, ele estava filmando as ações israelenses com seu celular quando foi atingido. Israel diz que vai investigar o episódio. Na quarta, palestinos acusaram Israel de matar Younis Tayeh, 21, em uma incursão no vilarejo de Tubas. Segundo a família, ele foi alvejado sem motivo; os israelenses dizem que houve troca de tiros.
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