SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Líder espiritual da Irmandade Muçulmana e um dos mentores da Primavera Árabe em 2011, o xeque egípcio Youssef al-Qaradawi morreu nesta segunda-feira (26), aos 96 anos.

Qaradawi passou grande parte de sua vida no Catar, onde se tornou um dos clérigos muçulmanos sunitas mais reconhecidos e influentes do mundo árabe, graças a aparições regulares na rede Al Jazeera local.

Transmitidos para milhões de pessoas, seus sermões geraram descontentamentos que levaram a Arábia Saudita e seus aliados do Golfo a impor um bloqueio ao Catar em 2017, declarando Qaradawi um terrorista.

A morte foi anunciada em sua conta oficial no Twitter, e a causa não foi divulgada.

Qaradawi, que estudou na Universidade Al-Azhar do Cairo, era frequentemente descrito por seus apoiadores como um moderado que oferecia um contrapeso às ideologias radicais defendidas pela Al Qaeda. Ele condenou veementemente os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos e apoiou a política democrática.

Apesar da moderação, ele também sancionou a violência em alguns episódios. Após a invasão americana do Iraque em 2003, apoiou ataques às forças da coalizão; também defendeu homens-bomba palestinos em suas ofensivas contra alvos israelenses no ano 2000.

Sua postura fez com que diversos países ocidentais o proibissem de entrar.

Qaradawi ingressou na Irmandade Muçulmana ainda jovem. Defendendo o Islã como um programa político, a Irmandade tem sido vista como uma ameaça por líderes árabes autocráticos desde que foi fundada em 1928 no Egito por Hassan al-Banna, que Qaradawi conhecia.

Al-Qaradawi foi preso diversas vezes no Egito, onde os membros da Irmandade Muçulmana são considerados "terroristas" e expostos à pena de morte por fazer parte da organização.

Ele recusou a chance de liderar a organização, concentrando-se na pregação e no conhecimento islâmico e na conquista de seguidores que se estendiam para além do grupo.

Durante os levantes da Primavera Árabe, o xeque pediu que o ditador líbio Muammar Gaddafi fosse morto e declarou luta contra o governo do presidente sírio, Bashar al-Assad.

Sua proeminência cresceu após as revoltas árabes de 2011.

Ao visitar o Cairo após a queda do presidente Hosni Mubarak, ele disse a uma praça Tahrir lotada que o medo havia sido retirado dos egípcios que derrubaram um faraó moderno.

Sua aparição simbolizava as mudanças na região, com islamistas há muito oprimidos desfrutando de novas liberdades e um membro da Irmandade, Mohamed Mursi, sendo eleito presidente em 2012.

Quando os militares, encorajados por protestos em massa, derrubaram Mursi um ano depois, Qaradawi condenou a nova ordem militar e sua repressão à Irmandade. O xeque pediu um boicote à eleição presidencial que tornou o comandante do Exército Abdel Fattah al-Sisi presidente em 2014.

"O dever da nação é resistir aos opressores, conter suas mãos e silenciar suas línguas", disse Qaradawi.


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