SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Estados-membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU rejeitaram nesta quinta (6) uma moção apresentada por países como EUA e Turquia para que o colegiado iniciasse, no próximo ano, uma rodada de debates sobre a situação da minoria muçulmana uigur na China. O Brasil foi um dos 11 países que se abstiveram.

A proposta, também endossada por Alemanha e pelas nações nórdicas, entre outros, veio após relatório da agora ex-comissária de Direitos Humanos Michelle Bachelet, publicado em agosto após grande expectativa, afirmar que Pequim cometeu graves violações de direitos humanos contra o grupo étnico que ocupa a região de Xinjiang.

Ao todo, o texto da moção era composto por apenas cinco linhas, onde se pleiteava que, após acolher as informações apresentadas por Bachelet, o conselho discutiria o assunto. Dezenove nações votaram contra -entre elas Indonésia, que possui uma das maiores populações muçulmanas do mundo. E 17 votaram a favor.

Para Raphael Viana David, responsável por advocacy para China e América Latina no International Service for Human Rights, que acompanhou a votação, a abstenção brasileira enfraquece a posição do país como promotor de diálogo no cenário internacional. "O Itamaraty indica com isso que se pode conversar sobre direitos humanos em qualquer país, menos na China", diz à Folha de S.Paulo.

Zumretay Arkin, porta-voz do Congresso Mundial Uigur, também criticou a decisão brasileira. "O Brasil falhou com milhões de uigures; como é possível que um país que promove o diálogo se recuse a apoiar isso? É uma hipocrisia que tem de ser denunciada."

A posição brasileira sobre o assunto já vinha chamando a atenção na semana passada. Integrantes do terceiro setor relataram que, quando a moção foi aventada, a missão brasileira, em medida incomum, pediu a palavra para se contrapor ao texto, afirmando que o conteúdo das cinco linhas polarizaria o Conselho de Direitos Humanos.

Xinjiang, região onde vive grande parte dos uigures, é uma província chinesa de 1,6 milhão de km² -área semelhante à do Amazonas- que configura importante polo financeiro. Pequim é acusada por parte da comunidade internacional de reprimir a minoria, que tem diáspora cada vez maior na Turquia, e promover encarceramento em massa.

Além do Brasil, Viana David chama a atenção para a abstenção de Argentina e México no escopo da América Latina. Honduras e Paraguai, no entanto, votaram a favor do diálogo, ainda que também mantenham laços econômicos importantes com o regime chinês.

A Ucrânia, que em meio à guerra iniciada pela Rússia em fevereiro vê uma aproximação cada vez maior entre Moscou e Pequim, foi outro país que se absteve na votação.

Segundo relato da agência Reuters, Chen Xu, embaixador da China, havia dito pouco antes da votação que aprovar o texto abriria um "perigoso atalho" para que a situação dos direitos humanos em outros países também fosse escopo de análise. "Hoje o alvo é a China; amanhã, qualquer outro país em desenvolvimento pode ser."


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