SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um dos ganhadores do Nobel da Paz nesta sexta (7), o grupo de direitos humanos Memorial International teve a sua dissolução ordenada pela Suprema Corte da Rússia no final do ano passado.

A decisão representou o ápice um movimento de intensa repressão à oposição liderada pelo presidente Vladimir Putin --ainda que formalmente independente, o Judiciário russo é alinhado ao Kremlin.

A entidade é uma das mais antigas e respeitados do país, conhecida por seu trabalho em expor abusos cometidos na era stalinista. Seu banimento foi abordado pela organização ao se pronunciar sobre o Nobel nesta sexta.

"Ao mesmo tempo em que o mundo inteiro nos parabeniza pelo prêmio Nobel, acontece um julgamento no tribunal de Tverskoi (em Moscou) para confiscar as instalações da Memorial", denunciou o Memorial, que afirmou ainda que a vitória era também um reconhecimento do trabalho de colegas que continuam a sofrer "ataques indizíveis e reprimendas" de Moscou.

A organização vinha sendo perseguida pelo governo ao menos desde 2009, quando uma ativista que trabalhava na sede da entidade na Tchechênia foi sequestrada e assassinada em um crime até hoje não solucionado.

Nos anos seguintes, ela teve vários de seus líderes presos e foi designada como um "agente estrangeiro". O rótulo traz não só conotações negativas da era soviética, como também uma grande carga burocrática, e baseou um dos principais argumentos da promotoria para pedir o fechamento da ONG.

Grupos de direitos humanos internacionais condenaram a decisão à época. John Sullivan, embaixador dos EUA na Rússia, chamou o caso de "uma tentativa trágica de suprimir a liberdade de expressão e apagar a história". O porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, fez coro às críticas, pedindo pelo "fim dos ataques a vozes independentes e defensores dos direitos humanos".

Uma representante do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha também classificou a determinação de "incompreensível" e disse que ela levantava grandes preocupações.

O Memorial chegou a entrar com um recurso contra a resolução da Suprema Corte. A decisão foi mantida, no entanto, em uma revisão do caso feita em 28 de fevereiro deste ano, dias depois da invasão da Ucrânia pela Rússia.


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