SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Se há três meses era criticado por visitar a Arábia Saudita, agora o presidente dos EUA, Joe Biden, dá sinais de que a relação com o país do Oriente Médio pode estar em xeque. A Casa Branca informou nesta terça-feira (11) que Washington deve rever o relacionamento com Riad, mas não estabeleceu uma data para isso.

O motivo é o corte na produção de petróleo anunciado pela Opep+ na semana passada. A notícia criou o temor de que um potencial aumento do preço do combustível nos EUA possa prejudicar os democratas nas midterms, as eleições de meio de mandato marcadas para novembro.

Biden já tem sido alvo de pressão de correligionários. O senador Bob Menendez, presidente da Comissão de Relações Exteriores, defendeu nesta segunda-feira (10) que as relações com a Arábia Saudita sejam congeladas, incluindo a venda de armas, e acusou Riad de cooperar com a Rússia de Vladimir Putin.

O país é outro dos membros da Opep+ e, em meio à Guerra da Ucrânia, tem sido acusado de promover uma guerra energética contra a Europa ao reduzir o volume de gás natural exportado para diversas nações do continente por meio do gasoduto Nord Stream 1.

"Como presidente da Comissão de Relações Exteriores, não darei luz verde para nenhuma cooperação com Riad até que os sauditas reavaliem sua posição a respeito da guerra", disse Menendez.

No mesmo sentido, o senador democrata Richard Durbin, de Illinois, disse à rede americana CNN que a Arábia Saudita "claramente queria que a Rússia vencesse a guerra". "Vamos ser muito sinceros sobre isso: são Putin e Arábia Saudita contra os EUA", afirmou. Antes, a Casa Branca chamou a decisão do corte de "míope".

"O presidente deixou muito claro que esta é uma relação que estamos dispostos a revisar", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby. Segundo ele, Biden planeja começar conversas com o Congresso para rever o grau de relação bilateral.

Veteranos da política externa têm alertado contra o que caracterizam como ações drásticas. O ex-embaixador dos EUA em Israel Martin Indyk, hoje membro do Conselho de Relações Exteriores, disse que o país deveria buscar um novo pacto estratégico com a Arábia Saudita, não um divórcio.

"Precisamos de uma liderança saudita mais responsável quando se trata de produção de petróleo, mas eles precisam de um entendimento mais confiável sobre segurança nos EUA para lidar com as ameaças que enfrentam; os dois devem dar um passo atrás", disse ao jornal The New York Times.

O anúncio de corte de produção da Opep+ --formada pelos 13 membros da tradicional Opep (Organização de Países Exportadores de Petróleo) mais outros dez sócios liderados pela Rússia-- foi visto como um balde de água fria para a política diplomática de Biden.

Em julho, ele esteve na Arábia Saudita e se reuniu com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, recém-nomeado premiê. A viagem veio após o democrata chamar o país de pária e criticar violações de direitos humanos cometidas pelo governo.

O americano alega ter questionado o saudita sobre um dos casos mais notáveis: o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, que escrevia para o jornal americano Washington Post, em 2018. MbS, como é conhecido o agora premiê, é acusado de estar envolvido no crime. A ponderação, no entanto, não foi suficiente para aplacar críticas.

Os laços entre EUA e Arábia Saudita foram fortalecidos após a Segunda Guerra Mundial, conferindo ao país do Oriente Médio proteção militar em troca do acesso americano ao petróleo. A estratégica relação foi fortalecida pelo antecessor de Biden, o republicano Donald Trump, que fez crescer as exportações de armas americanas para o país.

A proximidade foi intensificada também por Biden. Em agosto, o Departamento de Estado anunciou a compra pela Arábia Saudita de 300 sistemas de mísseis Patriot MIM-104, que têm capacidade para derrubar mísseis balísticos, assim como aviões de ataque.


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