SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O rei Charles 3º nomeou Rishi Sunak como primeiro-ministro do Reino Unido no Palácio de Buckingham, a sede da realeza britânica, nesta terça-feira (25). O novo líder assume oficialmente o cargo ocupado por Liz Truss, que adiantou sua renúncia na semana passada, com a tarefa de enfrentar crises que se acumulam ?inclusive a que atinge a própria sigla dos dois, o Partido Conservador.

Na prática, Sunak tornara-se o novo cabeça da legenda na véspera, depois que sua rival Penny Mordaunt não obteve o número de apoios necessários para seguir em uma eleição indireta e o ex-premiê Boris Johnson abandonou a ideia de um retorno triunfal.

O novo premiê fez seu primeiro discurso logo após a posse, em frente à residência oficial dos chefes de governo britânicos, o número 10 da Downing Street. Em uma fala de menos de seis minutos, prometeu restaurar a confiança da população na política e colocar as necessidades do povo em primeiro lugar.

Também ressaltou seu comprometimento com a estabilidade econômica ?uma resposta indireta ao que levou à queda de Liz Truss, o ousado programa de corte de impostos e novos auxílios anunciado para combater a alta no custo de vida e a crise de energia desencadeadas pela Guerra da Ucrânia.

Sunak ponderou que Truss "não estava errada" em tentar fazer o país crescer. "É um objetivo nobre, e admiro sua vontade de mudar as coisas. Mas alguns erros foram cometidos, nascidos não de má-fé ou de intenções ruins, pelo contrário ?porém, mesmo assim, erros. E eu fui eleito líder do partido e primeiro-ministro para, em parte, consertá-los", afirmou, acrescentando que isso significava tomar "decisões difíceis".

Não são poucos os desafios que Sunak assume com o novo cargo. Ele enfrentará uma crise econômica como poucas, que inclui a maior inflação acumulada desde o governo de Margaret Thatcher. Ao mesmo tempo, a dança das cadeiras na liderança agrava a desconfiança dos britânicos no Partido Conservador.

O premiê tentou contornar o fato de que é o terceiro a ocupar a chefia do país em pouco menos de dois meses ao argumentar que o mandato assumido pela legenda em 2019 e que alçou Boris Johnson ao poder "não é propriedade de um só indivíduo".

Implícito no discurso está o fato de que, se Sunak usasse hoje sua prerrogativa de convocar eleições gerais ?como quer a oposição?, tudo indica que o Partido Conservador perderia as rédeas do Parlamento e, por consequência, o direito de indicar o primeiro-ministro.

Sunak citou brevemente a Guerra da Ucrânia, à qual aludiu como uma das origens dos problemas econômicos que o Reino Unido enfrenta. Mas líderes mundiais fizeram questão de enunciar o conflito com todas as letras ao parabenizar o premiê pela posse ?inclusive o ucraniano Volodimir Zelenski, que em uma mensagem no Twitter disse estar pronto para continuar fortalecendo a parceria estratégica entre os dois países.

Além dele, o francês Emmanuel Macron disse torcer para que as duas nações enfrentem juntas a guerra "e suas consequências para a Europa e o mundo"; seu homólogo americano, Joe Biden, afirmou que espera "intensificar a cooperação em questões críticas para a segurança e a prosperidade global, incluindo forte apoio à Ucrânia". Os dois ainda realçaram que esperam se encontrar na cúpula do G20 na Indonésia, no mês que vem.

Já o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que a Rússia não enxerga na chegada de Sunak razões para nutrir "esperanças de mudanças positivas" na relação entre russos e britânicos. O Reino Unido tem sido um dos aliados mais vocais da Ucrânia desde o início do confronto, há oito meses.

Antes de oficializar a posse de Sunak, o rei Charles também formalizou a renúncia de Truss. A ex-primeira-ministra fez seu discurso de despedida, desta vez sem pedir desculpas pelo caos que deixou para trás. "Acredito no povo britânico. E sei que dias melhores virão", afirmou, antes de desejar sucesso a seu sucessor "pelo bem do país".

À posse de Sunak se seguiu uma série de anúncios sobre mudanças no gabinete. Chefes de ao menos seis pastas deixaram a gestão. Entre os membros da gestão Truss que permanecem está Jeremy Hunt, o ministro das Finanças que ajudou a acalmar a turbulência no mercado depois do anúncio desastroso do programa econômico da ex-primeira-ministra.

Os titulares das pastas das Relações Exteriores e do Interior, James Cleverly e Suella Braverman, também continuam ?ainda que a última tenha usado a desculpa de ter enviado documentos oficiais por um email pessoal para pular fora do governo Truss um dia antes do anúncio da renúncia.

Sunak ainda trouxe de volta ao governo Dominic Raab, que retoma a pasta da Justiça e se torna vice-primeiro-ministro. Um nome dos mais experientes no Partido Conservador, ele chegou a chefiar o governo interinamente quando Boris foi hospitalizado com Covid-19. Deixou o gabinete fazendo críticas severas ao ex-premiê e depois de protagonizar escândalos de violação das restrições da pandemia.

O gabinete montado por Truss havia sido um dos mais diversos da história do Reino Unido ?era o primeiro sem homens brancos à frente dos ministérios mais importantes. Apesar de Sunak ser a primeira pessoa não branca a chefiar o governo no país, o assunto está longe de ser central na sua agenda política, algo compartilhado com muitos de seus colegas de minorias étnicas no Partido Conservador.

CONHEÇA O GABINETE DO NOVO PRIMEIRO-MINISTRO BRITÂNICO, RISHI SUNAK

Quem entra

Dominic Raab, vice-primeiro-ministro e ministro da Justiça

Suella Braverman, ministra do Interior (deixou a pasta um dia antes do anúncio da renúncia de Liz Truss)

Nadhim Zahawi, articulador do Partido Conservador

Mark Harper, ministro dos Transportes

Quem fica

James Cleverly, ministro das Relações Exteriores

Jeremy Hunt, ministro das Finanças

Penny Mourdaunt, líder do Partido Conservador na Câmara

Ben Wallace, ministro da Defesa

Grant Shapps, ministro dos Negócios

Quem sai

Jacob Rees Morgan, ex-ministro de Negócios

Brandon Lewis, ex-ministro da Justiça

Chloe Smith, ex-ministra do Trabalho e das Pensões

Kit Malthouse, ex-ministro da Educação

Ranil Jayawardena, ex-ministro do Meio Ambiente

Simon Clarke, ex-ministro do Desenvolvimento


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