MADRI, ESPANHA, E WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - A vitória de Luís Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial deste domingo (30) deve reaproximar o Brasil de nações com as quais o petista cultivou relações cordiais e teve bom trânsito ao longo dos últimos anos.

Lula já planeja um giro internacional antes mesmo de 1º de janeiro --assim como fez da primeira vez que foi eleito, há 20 anos. Ao votar na manhã deste domingo em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, deu detalhes do plano.

"Antes da posse eu também quero fazer viagens para países da América do Sul para reestabelecer uma aliança e para os Estados Unidos, por mais divergências que tenhamos precisamos nos aproximar dos Estados Unidos, visitar a China, a União Europeia", disse.

O plano ainda na transição dá o tom das relações diplomáticas do novo governo petista --ele defende a retomada do lema que marcou seus primeiros governos, de uma "política externa altiva e ativa", com uma proeminência maior no cenário internacional e em organismos multilaterais.

"Vou conversar com o Biden, com os alemães, com os franceses, com os italianos, com os ingleses, com os japoneses, com os chineses, com os russos, com a Venezuela, com a Argentina, Chile, Peru, Equador, Colômbia, Paraguai, chamar todos, dar um abraço, um tapinha nas costas. Todos os países precisam crescer juntos", afirmou Lula em uma entrevista recente.

Nos Estados Unidos, Lula encontrará na Presidência da maior potência do mundo o mesmo Joe Biden que era vice de Barack Obama quando o petista deixou o poder. Apesar da famosa frase de Obama, que afirmou em 2009 que Lula "é o cara", o presidente eleito não chegou a ter com o democrata a mesma afinidade que tinha com seu antecessor, George W. Bush.

Lula e Biden se encontraram em diferentes ocasiões enquanto o brasileiro ainda estava no governo, como em viagem a Washington ou na Cúpula de Líderes Progressistas em 2009, no Chile, mas não têm relação próxima. No governo Dilma Rousseff, Biden viajou ao Brasil mais de uma vez, mas o que havia de aproximação entre democratas e petistas azedou com a revelação de que a NSA, a Agência de Segurança Nacional, espionava Dilma.

Hoje, ainda que setores do Partido Democrata expressem alívio com a derrota de Bolsonaro, o momento é diferente para Lula. O presidente eleito encontrará nos EUA um país muito mais preocupado com o cenário interno, lutando contra a inflação desenfreada e com Biden amargando avaliações ruins entre eleitores. Além disso, vence a eleição a menos de dez dias das midterms, as eleições legislativas locais, que têm mobilizado a comunidade política no país.

Pesa ainda o fato de que os EUA de hoje têm como seus principais adversários Rússia e China, dois países do Brics, fundado no segundo governo Lula, em 2009.

Ainda que tenha condenado a anexação de áreas da Ucrânia nas Nações Unidas, o Brasil tem adotado posição ambígua em relação à guerra no Leste Europeu, sem criticar de maneira veemente o líder russo, Vladimir Putin --a quem Biden chama de criminoso de guerra.

Com a China, maior parceiro comercial do Brasil, os EUA de Biden mantêm guerra comercial e tecnológica, com acusações mútuas de espionagem e abusos de direitos humanos.

Na Europa, a situação é mais favorável ao próximo presidente do Brasil, que tem boas relações com os principais líderes do continente. Na França, Emmanuel Macron o recebeu com honrarias no Palácio do Eliseu no ano passado, e o brasileiro, por sua vez, parabenizou o francês por sua reeleição neste ano.

Na primeira economia europeia, a Alemanha, a cordialidade se repete. Após encontro com Lula em novembro do ano passado, o premiê Olaf Scholz, que havia sido recém-eleito, escreveu que estava muito satisfeito com as "boas discussões" com o petista e que aguardava "com expectativa" a continuação do diálogo.

O partido de Scholz tem relações históricas com o PT e seu governo, uma ambiciosa agenda ambiental. "Falamos sobre o processo que está em curso para a formação de um novo governo e sobre a importância de fortalecer a cooperação Brasil-Alemanha", esclareceu Lula na ocasião.

Pelo menos dois líderes europeus declararam apoio a Lula nos últimos dias. O primeiro-ministro português, António Costa, disse que "o mundo precisa de um Brasil forte, um Brasil que participe das grandes causas da humanidade, como combater a desigualdade, a luta pela saúde, para enfrentarmos as alterações climáticas". "O Brasil e o mundo precisam de Lula da Silva."

Já o premiê espanhol, Pedro Sanchéz, afirmou que neste domingo o Brasil elegeria seu futuro. "Quero enviar todo o meu apoio ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva nesse pleito decisivo para uma terra tão ligada à Espanha", disse, em vídeo publicado nas redes sociais.

Um manifesto assinado por diversos ex-líderes do continente também manifestou apoio ao petista. "Quando a democracia está em perigo, é preciso juntar os divergentes para vencer os antagônicos. É por isso que nós, ex-chefes de Estado e de governo de diversas tendências políticas, apoiamos a candidatura do ex-presidente Lula à Presidência da República", dizia o documento.


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