ATLANTA, GEÓRGIA, EUA (FOLHAPRESS) - Os democratas passaram os últimos meses em claro. A baixa popularidade do presidente Joe Biden e as perspectivas econômicas ruins dos EUA apontavam que o partido perderia as midterms, as eleições de meio de mandato que aconteceram na terça (8), de lavada.

Uma "onda vermelha", descrita às vezes como um tsunami, que levaria para os republicanos o controle do Senado e da Câmara e inviabilizaria a segunda metade do governo Biden, segundo as projeções.

E essa onda não veio, ao menos não com a virulência projetada. Manter a maioria do Senado parece mais possível após John Fetterman derrotar Mehmet Oz na Pensilvânia, e na Câmara houve vitórias importantes que devem diminuir o baque da derrota para os democratas. "Definitivamente não é uma onda republicana, com toda certeza", reconheceu o senador republicano Lindsey Graham em entrevista à NBC.

Nas primeiras horas da manhã desta quarta (9) já se falava que os republicanos poderiam ter maioria apertada na Câmara --com 435 assentos, quem conquistar 218 cadeiras controla a Casa, apenas seis a mais do que o partido tem hoje.

É possível ter uma ideia de como essa vitória é mais modesta do que o esperado comparando com as duas últimas vezes que presidentes democratas enfrentaram derrotas nas eleições de meio de mandato. Em 2010, nas primeiras midterms de Barack Obama, os republicanos viraram 63 cadeiras para o partido. No começo do governo Bill Clinton, em 1994, os republicanos conquistaram 54 assentos. O mesmo ocorreu quando os democratas retomaram o controle da Câmara quando Donald Trump enfrentou as midterms em 2018: na ocasião, os republicanos perderam 41 assentos.

Agora, qualquer resultado abaixo de 20 novos assentos para os republicanos tem sido visto como uma derrota simbólica para o partido nas atuais circunstâncias.

O resultado pior do que o esperado deve ter consequências na correlação de forças dentro do partido. Isso porque já era dado como certo que o hoje líder da minoria, o deputado republicano Kevin McCarthy (Califórnia), seria eleito presidente da Câmara no ano que vem. Um resultado ruim, porém, abre espaço no xadrez a outros nomes para ocupar o cargo, como Steve Scalise (Louisiana), hoje "whip" (espécie de articulador) da minoria.

Democratas conseguiram manter cadeiras onde as pesquisas apontavam que haveria uma virada republicana, como Abigail Spanberger (Virgínia), Seth Magaziner (Rhode Island) e Chris Pappas (New Hampshire). Em três corridas apertadas do Texas, os democratas venceram duas.

A performance pesa sobretudo para o ex-presidente Donald Trump, que amargou algumas derrotas. A começar por Oz, na Pensilvânia, trumpista convicto, cuja derrota entregou aos democratas uma cadeira no Senado que hoje é ocupada por um republicano, Pat Toomey. No mesmo estado, Doug Mastriano, negacionista do resultado das eleições de 2020, perdeu para o democrata Joshua Shapiro.

A Pensilvânia é um estado-pêndulo, assim como Michigan, onde a democrata Gretchen Whitmer, venceu a reeleição contra a comentarista política ultraconservadora Tudor Dixon, apoiada pelo ex-presidente. Em Ohio, por outro lado, a vitória do autor de best sellers sobre finanças JD Vance garantiu mais um fiel trumpista, que já repetiu as alegações falsas de fraude em 2020, no Senado a partir do ano que vem.

A performance abaixo do esperado nestas midterms reorganiza a disputa presidencial para 2024 -há a expectativa de que Trump anuncie na próxima semana que será candidato-, e o ex-presidente deve ter como adversário um dos principais vencedores da noite.

Ron DeSantis foi reeleito governador da Flórida com quase 20% a mais de votos que seu adversário democrata, Charlie Crist, performance muito superior à sua primeira eleição, o que o consolida no topo da lista de homens fortes do Partido Republicano e faz dele uma ameaça a Trump na próxima eleição presidencial.

Analistas apontam que a existência de candidatos republicanos muito radicais e a preocupação dos eleitores com a manutenção do direito ao aborto podem ter sido fundamentais para que o partido não tenha alcançado o resultado esperado nesta terça.

Pesquisa de boca de urna feita pela CNN mostrou que 27% dos eleitores apontam o aborto foi o principal motivo para ir às urnas no país onde o voto não é obrigatório. A definição da Suprema Corte em junho de que a interrupção da gravidez não é um direito garantido pela Constituição levou a uma onda de eleitoras se registrando para votar, o que impulsionou candidatos democratas.

A proporção é próxima do que até aqui seria visto como o principal fator de punição aos democratas no poder, a situação econômica do país. Um terço dos entrevistados na mesma pesquisa afirmaram que a inflação é o principal motivo que os tirou de casa neste ano. A inflação está em 8,2% no acumulado de 12 meses, pouco menor do que o pico de 9,1% em junho, mas ainda em patamares altos.


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