ATLANTA, GEÓRGIA, EUA (FOLHAPRESS) - O vice-governador da Pensilvânia, o democrata John Fetterman, foi eleito para o Senado dos Estados Unidos nesta terça-feira (8), apontam projeções da imprensa americana, em uma das disputas mais apertadas dessas midterms, as eleições de meio de mandato que redefinem o controle do Legislativo.
A vitória de Fetterman abre caminho para que o Partido Democrata mantenha o controle do Senado, o que tem sido considerado crucial para que o presidente Joe Biden tenha alguma governabilidade a partir do ano que vem, já que as projeções apontam que deve perder a maioria da Câmara.
Por isso a corrida na Pensilvânia era vista como uma das mais importantes deste ano, e mobilizou os maiores nomes da política americana, como Biden, Barack Obama e Donald Trump.
A disputa foi marcada pelo derrame que Fetterman, 53, sofreu em maio, que o tirou da linha de frente da campanha e comprometeu sua capacidade de expressão. A oposição se concentrou na tese de que o democrata não tem condições de saúde de ocupar o cargo.
As midterms são consideradas um termômetro do governo, e o presidente Joe Biden, que tem baixa aprovação, está na fogueira. Estão em jogo 35 dos 100 senadores, que cumprem mandatos de seis anos. Hoje o Senado está dividido igualmente, com 50 cadeiras para os republicanos e 50 para os democratas --segundo as regras locais, a vice-presidente comanda o Senado, então Kamala Harris tem o poder de desempatar as disputas a favor do partido do presidente.
Lista **** Além disso, há eleições para todos os 435 assentos da Câmara dos Representantes, Casa em que os deputados têm mandatos de dois anos. Para obter maioria, é preciso conquistas 218 dessas cadeiras. As pesquisas apontam que Biden deve perder o comando da Casa.
Antes de se eleger vice-governador da Pensilvânia, em 2018, Fetterman foi prefeito de Braddock, distrito de Pittsburgh com menos de 2.000 habitantes, de 2006 a 2019. Casado com a brasileira Gisele Barreto Fetterman, tem em sua agenda pautas como a defesa da liberação do aborto, a legalização da maconha, a defesa da saúde pública e dos direitos de imigrantes.
Aos 53, o democrata é uma figura curiosa, que destoa do padrão dos senadores que encontrará no Capitólio. Com mais de dois metros de altura, cavanhaque proeminente e muitas tatuagens, costuma participar de agendas públicas vestindo blusa de moletom e, às vezes, bermuda.
Ele venceu o republicano Mehmet Oz, um médico e celebridade da TV apoiado pelo ex-presidente Donald Trump. Foi uma disputa apertada. Fetterman chegou a abrir 12 pontos de diferença nas pesquisas, mas Oz recuperou a desvantagem em meio à frustração da população com a economia do país, e terminou com votação bem próxima da do democrata.
Para manter o Senado, algumas disputas são consideradas cruciais nessas midterms. Além da Pensilvânia, todos os olhos estão na Geórgia, Arizona e Nevada.
A Geórgia pode atrasar a definição do Senado. Isso porque, pelas regras locais, se nenhum dos candidatos atingir 50% dos votos, a disputa vai para o segundo turno, a ser disputado em 6 de dezembro. Esse era o cenário mais provável até a madrugada de quarta, quando nem o atual senador democrata Raphael Warnock nem o ex-jogador de futebol americano Herschel Walker haviam alcançado a meta, mesmo com mais de 96% das urnas apuradas.
Uma notícia ruim para os democratas foi a vitória do republicano JD Vance ao Senado em Ohio, onde também havia alguma esperança para o partido de Biden. As pesquisas o apontavam ao longo da corrida empatado com o democrata Tim Ryan, mas o republicano, autor de bestsellers sobre investimentos e apoiado por Trump, disparou nos últimos dias e venceu a disputa.
Por outro lado, os republicanos perderam em New Hampshire e Colorado, estados onde havia alguma chance para o partido de Donald Trump.
Os dois grandes motivadores do voto neste ano foram o aborto, que favorece candidatos democratas, e a economia do país, que puxa votos para os republicanos. Pesquisa de boca de urna feita com eleitores nesta terça pela CNN apontou que um terço dos entrevistas afirmaram que a inflação é o principal motivo que os fez votar neste ano. A inflação está em 8,2% no acumulado de 12 meses, pouco menor do que o pico de 9,1% em junho, mas ainda em patamares altos. A pesquisa aponta ainda que três quartos dos eleitores acreditam que a economia do país está sendo mal conduzida.
Já para 27% dos entrevistados na pesquisa da CNN, o aborto foi o principal motivo para ir às urnas no país onde o voto não é obrigatório. A definição da Suprema Corte em junho de que a interrupção da gravidez não é um direito garantido pela Constituição levou a uma onda de eleitoras se registrando para votar, o que impulsionou candidatos democratas.
Se perder a Câmara, mas mantiver o Senado, Biden fica na mesma situação de Trump a partir de 2018, o que é útil para evitar uma perda do cargo em uma eventual crise política grave -como aconteceu com Trump, que teve dois impeachments aprovados na Câmara, mas barrados no Senado.
Perder qualquer uma das casas já será um baque para Biden, que verá sua agenda ficar paralisada. Se não tivesse maioria no começo do governo, o presidente não teria aprovado projetos caros à sua gestão, como a Lei da Redução da Inflação, que continha o maior pacote de incentivo à mitigação das mudanças climáticas da história do país. Agora, poderá esquecer as ideias de apertar o controle do acesso a armas ou aprovar uma legislação federal legalizando o aborto.
Há risco também de que os republicanos abram comissões para investigar seu governo, à semelhança da que apura o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio. Entre as possíveis apurações estariam o processo de retirada das tropas americanas do Afeganistão, negócios suspeitos de Hunter, filho do presidente, ou um suposto uso político do Departamento de Justiça em processos contra Trump.
Perder o controle do Legislativo no meio do mandato é comum. Desde Jimmy Carter (1981-1989), só George W. Bush (2001-2009) conseguiu manter maioria do Congresso nas midterms, em 2002, no pós-11 de Setembro -maioria que ele perdeu em outra edição do pleito, em 2006.
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