SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os efeitos da campanha russa contra o sistema de energia da Ucrânia, com bombardeios semanais desde o começo de outubro, são visíveis do espaço.
Nesta sexta (25), a agência espacial americana Nasa divulgou uma imagem de satélite que engloba a Europa e o pedaço da Rússia que fica no continente na noite da quarta (23). A visão é de um buraco negro no mapa, com alguns borrões de luz em cidades maiores, como Kiev e Lviv, contratando com clarões em volta -particularmente a região metropolitana de Moscou.
O ataque com mísseis de cruzeiro e balísticos contra alvos de geração e distribuição de eletricidade, com o consequente impacto no fornecimento de água, é uma tática adotada por Vladimir Putin após os ucranianos alvejarem com sucesso a ponte que liga a Crimeia anexada em 2014 à Rússia.
Isso ocorreu em 8 de outubro, e dois dias depois dezenas de mísseis e drones caíam sobre a Ucrânia, retomando um padrão não visto desde o começo da guerra. A ação coincide também com as dificuldades militares de Moscou em campo, com o recuo de tropas para posições defensivas na região anexada de Kherson (sul), abandonando a capital regional.
Analistas veem Putin ganhando tempo para reorganizar suas forças, esperando o efeito da mobilização de mais de 300 mil reservistas. O governo em Kiev e a ONU, por sua vez, acrescentam a isso a ideia de que o Kremlin quer submeter o povo ucraniano a grandes dificuldades durante o inverno gélido que já se instala na região.
Com temperaturas já em torno de zero grau, sem aquecimento e iluminação, a insatisfação com o governo de Volodimir Zelenski aumenta. O presidente, por sua vez, aposta no recrudescimento do espírito de resistência sob a adversidade, e trabalha contra o tempo para mitigar os efeitos dos ataques.
Nesta sexta, a estatal de distribuição, Ukrenergo, afirmou que há dificuldades para reparar redes "devido a ventos fortes, chuvas e temperaturas subzero à noite". Segundo informou no Facebook, os trabalhos de emergência possibilitaram elevar a 70% a capacidade de atender as necessidades de consumo do país, obrigando a blecautes programados para economizar luz.
Os ataques russos vêm em ondas, geralmente uma vez por semana. Segundo o alto comissário da ONU para Direitos Humanos, o austríaco Volker Türk, "milhões foram jogados em extrema dificuldade". Ele disse nesta sexta que ao menos 77 pessoas morreram na atual campanha aérea.
"Vistos como um todo, isso [os ataques] levantam problema sérios sob a lei humanitária internacional, que querer um objetivo militar concreto para cada objeto atacado", afirmou em nota.
Türk, por outro lado, também apontou o dedo para Kiev, afirmando que os vídeos que circularam mostrando a execução de soldados russos desarmados por ucranianos "são muito provavelmente autênticos", em uma mostra que crimes de guerra ocorrem de todo lado no conflito.
A Rússia tem tentado pintar a rede energética ucraniana como um alvo militar legítimo, negando intenção de quebrar a vontade da população.
Também nesta sexta, o presidente Putin divulgou uma mensagem pré-gravada de um encontro que teve com mães de soldados russos lutando na Ucrânia. Queixou-se do que chamou de fake news sobre a situação de suas forças em campo e afirmou solidarizar-se com o sofrimento das famílias.
"Eu gostaria que vocês soubessem que eu, pessoalmente, e toda a liderança do país, compartilhamos sua dor", afirmou.
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