WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - A renovação da liderança do Partido Democrata na Câmara dos Representantes dos EUA, nesta quarta-feira (30), marcou mais do que a chegada do primeiro parlamentar negro ao comando de uma legenda no Legislativo do país --o deputado Hakeem Jeffries, escolhido líder da legenda.

Os números 2 e 3 na hierarquia serão ocupados por uma mulher e um homem de origem latina. É a primeira vez que não haverá um homem branco no comando do partido no Congresso.

A mudança se dá depois de a atual presidente da Câmara, Nancy Pelosi, ter anunciado que não concorreria novamente à liderança democrata, em movimento que se seguiu à perda da maioria na Casa nas eleições legislativas de meio de mandato, no início do mês.

A nova configuração do Legislativo tomará posse em 3 de janeiro, com a presidência cabendo ao Partido Republicano. Por isso, Jeffries será líder da minoria.

Pelosi era líder dos democratas na Câmara desde 2003, e a indicação da nova liderança marca também uma mudança geracional. A deputada pela Califórnia tem 82 anos, e seu sucessor, de Nova York, está com 52. Ao lado dele, foram alçados aos postos mais altos Katherine M. Clark, 59, de Massachusetts, e Pete Aguilar, 43, da Califórnia.

Este último, descendente de mexicanos e eleito pela primeira vez em 2014, no ano que vem será ainda o latino com cargo mais alto no Congresso dos EUA.

As mudanças podem indicar uma atenção maior a pautas ligadas a minorias étnicas, o que por outro lado não significa um ganho de espaço da ala mais à esquerda do Partido Democrata. Isso porque, apesar de ser ligado a causas do movimento negro, Jeffries mantém uma linha centrista, ao estilo da antecessora, e marca a continuidade dos chamados "democratas mainstream" no comando da legenda.

Nascido no Brooklyn, Jeffries é advogado de formação e tentou entrar para a política algumas vezes antes de ser eleito deputado estadual em Nova York, em 2006. Seis anos depois, chegou à Câmara federal pela primeira vez. Entre seus projetos e bandeiras estão propostas a favor de populações negras, contra o abuso policial e na defesa da garantia do acesso ao voto a minorias.

Ele ganhou projeção sobretudo ao ser nomeado um dos "gerentes" do primeiro pedido de impeachment do então presidente Donald Trump, em 2020 --ele foi um dos sete parlamentares democratas que atuaram como uma espécie de procuradores no caso.

O cargo que assumirá em janeiro pode ainda catapultá-lo a presidente da Câmara --e número 2 na sucessão presidencial--, caso os democratas retomem a maioria nas próximas eleições, que ocorrerão em 2024.

Jeffries se afastou de pautas da esquerda do partido ao não assinar, por exemplo, uma resolução da deputada Alexandra Ocasio-Cortez, estrela dessa ala, demandando a criação do chamado "Green New Deal", pacote de contenção da crise climática com metas de redução das emissões de poluentes. Também já se manifestou a favor de propostas que penalizam empresas e cidadãos que apoiem movimentos de boicotes ao Estado de Israel.

Ainda que Jeffries tenha tido atritos com esse grupo, conseguiu unir a legenda nesta quarta e foi eleito por unanimidade.

Dos três novos líderes, Katherine M. Clark é a única próxima da bancada mais progressista do partido. AOC parabenizou o trio nesta quarta. "Essa é a mudança geracional mais significativa que vimos nos democratas da Câmara em várias décadas. Acredito que nos beneficiaríamos de um debate sobre o que isso significa", afirmou.

Em comunicado, Pelosi também celebrou os colegas eleitos. "Junta, essa nova geração de líderes reflete a vitalidade e a diversidade de nossa grande nação --e eles irão revigorar nossa bancada com sua nova energia, ideias e perspectivas."

O grupo enfrentará uma Câmara dura a partir do ano que vem. O líder do Partido Republicano na Casa, Kevin McCarthy, principal cotado para assumir como presidente em janeiro, tem afirmado que abrirá investigações contra o presidente Joe Biden e bloqueará propostas de aumento de gastos --e que poderá até abrir processos de impeachment contra membros do gabinete do democrata.

Os republicanos também ameaçam reverter políticas do atual governo, por exemplo aprovando medidas para aumentar a segurança nas fronteiras e restringir a imigração. O Senado, vale lembrar, continuará com maioria pró-Biden.


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