SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Duas bases de bombardeiros estratégicos russos usados contra a Ucrânia foram atingidas por explosões nesta segunda (5), pouco antes de Moscou lançar mais uma onda de ataques aéreos contra o país que invadiu há nove meses.
Os detalhes são fragmentários, baseados no cruzamento de dados da mídia estatal, blogueiros independentes e relatos de rede social, mas apontam para um inédito ataque promovido pela Ucrânia dentro do território russo.
As explosões foram registradas nos aeródromos de Diaguilevo, em Riazan, e Engels-2, em Saratov. Ambas as bases sediam bombardeiros estratégicos Tu-22 e Tu-95, e a segunda é o centro de operação dos gigantes supersônicos Tu-160. Engels-2 tem um bunker com armas nucleares para seus aviões, o mais importante da Rússia.
Segundo a agência RIA-Novosti, há pelo menos três mortos em Diaguilevo. Lá, segundo especialistas militares independentes, ao menos quatro aeronaves foram danificadas -a base também tem alguns dos preciosos aviões-tanque Il-78 usados para reabastecimento aéreo nas ações contra a Ucrânia.
Psicologicamente, é um grande golpe: a base fica a apenas 180 km de Moscou, e a 570 km de Kharkiv, a mais próxima cidade ucraniana de grande porte. Já Saratov fica a mais de 500 km de Kharkiv, e segundo blogueiros militares teve dois aviões danificados.
A distância da fronteira ucraniana leva ao estonteante questionamento: se isso foi o ataque que parece ter ocorrido, como Kiev chegou lá? Antes, houve ataques na Crimeia ocupada e na região de Belgorodo, ambas vizinhas da Ucrânia.
O governo de Saratov chegou a mencionar o uso de drones, mas um vídeo em rede social indica algo mais ousado. Gravado por uma câmera de segurança de numa casa a cerca de 6 km da base de Engels-2, ele traz o som que lembra muito o de um míssil sobre a região, seguido da explosão. A essa altura, contudo, não é possível saber o que aconteceu.
O Ministério da Defesa em Moscou não confirmou nada até aqui. A mesma pasta na Ucrânia não comentou, como também não o fez quando houve ataques bem-sucedidos a uma base aérea da Frota do Mar Negro na Crimeia ou à ponte que liga a península anexada em 2014 à Rússia continental.
Depois dessas ações mais ousadas, a resposta padrão dos russos foi retaliação contra infraestrutura civil. Segundo a inteligência ucraniana, um grande ataque já estava sendo planejado para esta segunda, restando assim saber se as explosões foram uma tentativa de adiá-lo.
Isso não foi alcançado, segundo Kiev, que ter sido golpeada por uma grande quantidade de mísseis de cruzeiro lançados pelos bombardeiros baseados exatamente nas duas unidades militares atingidas.
Imagens de satélite feitas ao longo da semana passada mostravam cerca de 24 Tu-95 e Tu-160 lado a lado em Engels-2, no que parecia ser a preparação para um ataque maciço. Ambos os aparelhos podem empregar armas nucleares, mas no conflito ucraniano têm lançado mísseis de cruzeiro sem entrar no espaço aéreo do vizinho.
Segundo os relatos iniciais, Kiev e Odessa foram particularmente atingidas, com estações de energia e de distribuição de água como alvo. Ao menos duas pessoas morreram, disse o governo.
A campanha contra a infraestrutura civil virou sistemática a partir de outubro, justamente após o ataque à ponte da Crimeia, e está sendo acusada na ONU de crime de guerra: o inverno já se faz presente na Ucrânia, com temperaturas na capital em -5 graus Celsius nesta segunda. Sem energia, o aquecimento fica muito mais difícil.
A escalada militar ocorre no mesmo dia em que os países ricos do G7, a União Europeia e a Austrália decidiram impor um teto ao preço do petróleo russo. A medida parece largamente inócua, já que o produto é vendido a menos do que este valor, mas Moscou tem prometido retaliar.
Politicamente, a retórica voltou a subir após uma semana em que Vladimir Putin e Joe Biden trocaram sinalizações públicas de que poderiam sentar-se à mesa para tentar colocar fim ao conflito na Ucrânia, visto na Rússia como um embate direto com o Ocidente, que mantém o fluxo de armamentos para Kiev.
O chanceler russo, Serguei Lavrov, afirmou que a Otan (aliança militar ocidental) é "uma ameaça séria" a seu país e que suas posições na guerra arriscam "um choque direto entre potências nucleares, com consequências catastróficas".
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