SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Por unanimidade, os líderes dos blocos políticos do Parlamento Europeu decidiram, nesta terça-feira (13), afastar a grega Eva Kaili do cargo de vice-presidente do órgão. Ela faria parte de supostos esquemas de corrupção envolvendo o Qatar, sede da Copa do Mundo.
Kaili, um dos 14 vice-presidentes do Parlamento, está entre os quatro presos e acusados na Bélgica de receberem propinas e presentes em troca de garantir ao país do Oriente Médio influência no bloco.
A deputada de 44 anos foi presa depois que investigadores belgas encontraram sacolas cheias de dinheiro em sua residência. Na última sexta (9), promotores revistaram 16 casas e apreenderam ao menos EUR 600 mil euros (R$ 3,3 milhões) em Bruxelas como parte da investigação.
Paralelamente, a Grécia congelou ativos financeiros de Kaili. Um dos focos da operação é uma empresa imobiliária recém-criada junto a um italiano pela eurodeputada no bairro de Kolonaki, uma área luxuosa em Atenas -o sócio também é investigado.
No fim de semana, o Parlamento europeu já havia suspendido Kaili de suas funções na Casa, e seu partido, o Pasok (Partido Socialista Pan-Helênico), disse que a expulsaria de suas fileiras.
A defesa da eurodeputada se pronunciou pela primeira vez, nesta terça, e descartou que ela tenha recebido propinas do Qatar. "Ela não tem nada a ver com o financiamento do Qatar, explícita e inequivocamente", disse seu advogado, Michalis Dimitrakopoulos, a uma emissora grega de televisão.
Seja como for, o escândalo provocou indignação em Bruxelas e levantou preocupações entre legisladores e líderes políticos da UE de que o episódio possa prejudicar a imagem do bloco.
Até por isso, a presidente do Parlamento, a maltesa Roberta Metsola, anunciou na segunda (12) que o órgão deve abrir em breve uma investigação interna para apurar o suposto esquema. "Vamos iniciar um processo de reforma para ver quem tem acesso às nossas instalações e como essas ONGs e indivíduos são financiados e que vínculos eles têm com países terceiros", disse. A reforma também foi defendida pela presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen.
Diante do escândalo, a pauta do plenário parlamentar desta terça, em Estrasburgo, foi modificada, e será dedicada a debater o caso. A remoção de Kaili aprovada pelos líderes dos blocos, aliás, deve ser confirmada pelos demais parlamentares. Além disso, na quinta (15), será votado um texto que pede mais transparência nas instituições europeias.
O escândalo, de certa forma, pode também afetar a relação entre o bloco e o Qatar --que, com a Guerra da Ucrânia, se tornou opção para o fornecimento de gás; no mês passado, Doha fechou um acordo com a Alemanha por ao menos 15 anos.
Uma das atribuições de Kaili como vice-presidente era representar a presidente do Parlamento. Em novembro, ao visitar o país-sede da Copa, ela parabenizou o ministro do Trabalho por reformas e disse que o Qatar é um líder no setor. As legislações trabalhistas do país, porém, são alvo de várias críticas de organizações de direitos humanos.
Estariam ainda entre os detidos o ex-parlamentar italiano Pier-Antonio Panzeri e o secretário-geral da Confederação Sindical Internacional, Luca Visentin. Em entrevista na semana passada Visentin também apontou progressos nas leis trabalhistas catarianas.
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!