WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - No aniversário de dois anos da invasão do Congresso dos Estados Unidos, a Câmara dos Representantes abriu esta sexta-feira (6) ainda mergulhada em caos. Após quatro dias e 12 rodadas de votação, o Partido Republicano não conseguiu ainda chegar a um consenso para eleger o presidente da Casa.
Cada rodada vem se transformando em sessão de humilhação pública do líder do partido na Câmara, o deputado da Califórnia Kevin McCarthy. Como a legenda tem maioria na Casa na legislatura instalada nesta semana, com 222 das 435 cadeiras, em tese deveria eleger o presidente sem surpresas. Mas McCarthy, o candidato natural, enfrenta forte oposição da ala ultradireitista e conquistou sempre em torno de 200 votos nas primeiras 11 votações, bem abaixo dos 218 necessários para chegar ao cargo.
Em um beco sem saída, os deputados republicanos fizeram uma grande conferência por telefone na manhã desta sexta, e o resultado se mostrou positivo para McCarthy. Mesmo que não tenha alcançado o número de votos necessários, virou 14 cadeiras a seu favor, retomando a esperança de ainda poder ser eleito --ao todo, ele teve 213 votos na 12ª rodada, só 5 a menos do que o exigido.
Se assumir o cargo, porém, será um presidente enfraquecido.
Isso porque ele fez uma série de concessões à ala radical. A principal foi prometer alterar o regimento para permitir que a qualquer momento um deputado possa propor a destituição do presidente da Casa. Além disso, acenou com ceder mais espaço aos nomes extremistas no Comitê de Regras, que regula a forma como projetos de lei são encaminhados, e com colocar em pauta um projeto para que deputados tenham um limite de três mandatos, de dois anos cada um.
Isso faria dele um chefe legislativo muito mais débil que a democrata Nancy Pelosi, 82, que deixou o posto e tem entre suas principais marcas o fato de ter unido o partido sob sua liderança. Na noite desta quinta (5), McCarthy foi questionado sobre as preocupações em dar muito poder à ala radical republicana. "Estou muito bem com isso", disse. "Não serei um presidente mais fraco."
Até aqui, porém, permanece o maior impasse na Câmara desde 1859, quando os deputados demoraram dois meses e 44 votações para eleger um presidente -o também republicano William Pennington.
O terceiro Dia da Marmota seguido na Casa acabou ofuscando os dois anos do 6 de Janeiro -data que marca a invasão do Capitólio, por uma multidão de apoiadores de Donald Trump, para tentar evitar à força a confirmação da vitória de Joe Biden na eleição presidencial.
No primeiro aniversário, em 2022, o democrata foi ao Congresso fazer um discurso para marcar a data, cheio de ataques ao antecessor e apelos para "garantir que um ataque assim nunca mais aconteça de novo". Neste ano, porém, com os deputados concentrados na eleição para a presidência, a cerimônia foi muito mais limitada, com um minuto de silêncio em homenagem aos policiais mortos na invasão.
Os dois anos do atentado ao Capitólio e o bloqueio da eleição de McCarthy estão de certa maneira relacionados: quem tem travado a nomeação do líder da legenda é a ala mais radical do Partido Republicano, que repete as alegações sem provas de que a eleição presidencial de 2020 foi fraudada -mesmo discurso que levou à invasão do Congresso.
Trump acabou jogado para o centro da confusão. Na quinta (5), chegou a ser indicado por um deputado, Matt Gaetz, para ser o novo presidente da Casa --não é necessário ser deputado para ser escolhido ao cargo. A ação, apenas simbólica, não teve resultado, e o ex-presidente acabou só com um voto.
Assim, a eleição da Câmara se tornou mais um reflexo direto das dificuldades de Trump dentro do partido que dominou a partir de 2017. Ele entrou em cena para tentar ajudar McCarthy a se eleger, mas nem seus apelos demoveram a ala trumpista de travar a candidatura do parlamentar da Califórnia.
O próprio Gaetz chegou a dizer que era triste que Trump apoiasse McCarthy. Outra deputada, Lauren Boebert (Colorado), afirmou que era hora de o ex-presidente pedir que o líder desistisse da candidatura.
"Acho que uma grande vitória republicana, depois de passar por inúmeras votações, tornou a posição e o processo de se tornar presidente maior e mais importante do que se fosse feito na forma mais tradicional", escreveu na quarta o ex-presidente em rede social, sempre com palavras em maiúsculas aqui e ali, sem que seus apelos fossem ouvidos.
Na mesma publicação, ele voltou a repetir que é uma "grande mentira" que perdeu a eleição para Biden.
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