SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A um mês do aniversário de primeiro ano da invasão russa da Ucrânia, o governo de Volodimir Zelenski iniciou um expurgo de autoridades acusadas de corrupção ou má gestão. Membros de ministérios e pelo menos cinco governadores regionais foram demitidos ou deixaram seus cargos.

O verniz daquilo que o assessor presidencial Mikhailo Podoliak chamou de sintonia do chefe com os desejos da sociedade parece aplicado sob medida para aplacar as críticas constantes entre governos ocidentais acerca do grau de corrupção do governo, abafadas nesse ano de guerra pela necessidade de união contra os russos.

A mudança vem justamente quando a Otan (aliança militar do Ocidente) debate intensamente os prós e contras de escalar sua ajuda militar a Kiev com o envio de tanques de guerra alemães para o conflito.

Além disso, a Rússia tem tido suas primeiras vitórias em meses, em ofensivas no leste e no sul do país, colocando pressão sobre a cúpula do governo, e a infraestrutura energética ucraniana sente o peso dos ataques constantes de Moscou: nesta terça (24), Lviv (oeste) ficou no escuro por falta de condições de atender o consumo de eletricidade.

Por outro lado, pelo mesmo congelamento das tensões políticas internas na Ucrânia devido à invasão, Zelenski pode estar promovendo o expurgo para alinhar forças em torno de si. O impacto da guerra de Vladimir Putin costuma ofuscar o fato de que o presidente era impopular e enfraquecido pela luta entre facções de seu próprio governo.

"As decisões sobre pessoal de Zelenski testemunham as prioridades chave do Estado. O presidente vê e ouve a sociedade, e responde diretamente a uma demanda pública central: justiça para todos", disse na segunda (23) Podoliak.

O discurso cai como música em Bruxelas e Washington, mas sugere que a posição de Zelenski seja mais instável do que sua persona como comandante da resistência ucraniana sugere. O quadro deverá ficar mais claro nos próximos dias.

A cabeça mais vistosa até aqui é a de Kirilo Timochenko, um aliado da campanha eleitoral do presidente em 2019 que era o adjunto da chefia de gabinete de Zelenski. Ao longo da guerra, ele foi criticado pela mídia local por se deixar fotografar dirigindo carros esportivos.

Houve duas baixas mais sérias por acusações de corrupção: o vice-ministro da Defesa, Viacheslav Chapovalov foi acusado de inflacionar preços de comida para tropas, e o vice-ministro das Regiões, Vasil Lozinski, admitiu ter recebido US$ 400 mil (R$ 2,1 milhões) em suborno.

Caíram também o procurador-geral adjunto, Oleskii Simonenko, que tirou férias na Espanha com a família recentemente, e vice-ministros do Desenvolvimento, da Comunidade, da Economia e da Política Social, todos por má gestão e suspeitas de corrupção.

De forma significativa, foram afastados os governadores de Kiev, Dnipopetrovsk, Sumi, Kherson e Zaporíjia (as duas últimas anexadas ilegalmente por Putin), o que pode ocorrer dentro do estado de emergência em que o país se encontra desde a invasão. Não foi ainda divulgado o que pesava contra eles.

Mais mudanças são previstas, segundo observadores da cena política ucraniana. O expurgo é o primeiro do tipo desde que a guerra começou -antes, houve demissões pontuais de autoridades identificadas com a população russófona da Ucrânia, concentrada no leste do país.


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