SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Polônia pediu à Alemanha autorização para o envio de apenas 14 tanques Leopard-2 para a Ucrânia usar contra os russos. Berlim, que detém a licença de reexportação do modelo germânico, disse que irá analisar o caso rapidamente.

Varsóvia opera 244 tanques do tipo, 97 deles do modelo mais antigo A4 -exatamente o que quer mandar a Kiev. O pedido exíguo pode ser visto como um teste da disposição alemã, já que o governo do premiê Olaf Scholz está adiando a decisão sobre o caso há semanas, apesar da pressão de seus aliados da Otan (aliança militar do Ocidente).

Na sexta-feira passada (20), o chamado Grupo de Contato, que reúne os 30 países da Otan mais outros 20 aliados, discutiu o caso. Kiev pede os tanques, arma ofensiva até aqui não fornecida pelo Ocidente, para montar ataques contra os russos nos próximos meses.

O presidente Volodimir Zelenski pediu pressa, já que Moscou tem colhido vitórias no leste e no sul do país, algo que não acontecia desde meados do ano passado, e sua campanha de degradação da infraestrutura energética do país tem cobrado um preço algo da população civil. Nesta terça (24), ele promoveu um grande expurgo de autoridades no país, o que sugere tensões internas.

A Alemanha diz estar pronta para colaborar, tendo sinalizado que irá liberar o envio de seus tanques em operação nos países aliados, embora não fale nada sobre os 376 que tem. Mas a demora na decisão, apesar de diversas declarações encorajadoras, sugere que Berlim pode enrolar os parceiros.

O motivo central é a inapetência de envolver-se mais no conflito, arriscando um embate direto entre a Otan e Moscou, escalada cujo fim seria uma Terceira Guerra Mundial. Há fatores domésticos também, já que o pacifismo que guiou o país após os desastres do militarismo nos dois conflitos mundiais no século 20 é muito forte, e a ideia de tanques alemães em uso contra russos evoca memórias sombrias.

Mas tudo indica que ao fim Berlim cederá. A questão é saber se outros operadores dos cerca de 2.300 Leopard-2 na Europa fornecerão sua parte para montar uma frota que faça alguma diferença na guerra, a partir da isca lançada pelos poloneses. O Reino Unido já havia dito que vai mandar 14 modelos Challenger-2. Especialistas dizem que no mínimo cem tanques fariam alguma diferença, e Kiev quer três vezes mais.

Kiev tinha quase mil tanques antes da guerra, e perdeu quase metade disso já, segundo dados observáveis coletados pelo site holandês Oryx. No primeiro semestre de 2020, recebeu 230 T-72 soviéticos antigos da Polônia, modelo que já operava. Para usar os blindados alemão e inglês, um treinamento de algumas semanas será necessário para as equipes.

Tudo isso explica a pressa ucraniana. De todo modo, o Ocidente aprovou um suculento pacote militar na reunião de sexta, com blindados de infantaria, artilharia e tanques leves. Só os EUA darão mais US$ 2,5 bilhões (R$ 13 bilhões) a Kiev, elevando a US$ 26,7 bilhões (R$ 139 bilhões) suas doações militares até aqui.

Mas o debate explicita as divisões na Otan, ainda que seu secretário-geral, o norueguês Jens Stoltenberg, tenha dito nesta terça que espera uma "solução rápida" para a questão dos tanques.

Em outra frente de atrito na aliança, a Finlândia disse nesta terça que a decisão de Ancara sobre o ingresso do país escandinavo e de sua vizinha Suécia na Otan só deverá ocorrer depois das eleições parlamentares na Turquia -marcadas para junho, mas que devem ser adiantadas para abril ou maio.

Aqui, o problema é a volta da resistência turca à postulação sueca, depois que Estocolmo permitiu um protesto contra o governo de Recep Tayyip Erdogan coalhado de gestos anti-islâmicos no sábado (21).

O presidente turco disse na segunda (23) que a Suécia não deveria esperar o apoio de seu país após o ato. Ele quer a extradição de até 130 ativistas contrários a seu governo nos dois países nórdicos, sejam da minoria curda ou apoiadores do clérigo muçulmano que inspirou um golpe contra si em 2016.

Até aqui, a Suprema Corte sueca barrou a extradição de quatro acusados de terrorismo pela Turquia. A aprovação dos Parlamento turco e húngaro são as únicas que faltam, na Otan, para que os escandinavos entrem na Otan.

A chantagem de Erdogan havia funcionado no ano passado, alimentada pela esperança de ver os adversários extraditados e de ter sua frota de caças americanos F-16 renovada -o país foi chutado do programa do avançado F-35 depois que decidiu comprar sistemas antiáereos S-400 da Rússia. A segunda parte do acerto parece estar avançando, mas não a primeira.


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