BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Se Brasil e Argentina chegaram à Cúpula da Celac em Buenos Aires na tarde desta terça (24) com discursos alinhados sobre a necessidade de combater o avanço da ultradireita, ficou com o Uruguai de Luis Lacalle Pou a tarefa de desafinar o coro dos contentes.

A jornalistas o presidente de centro-direita afirmou que é preciso que nações vizinhas deixem que o país "se abra ao mundo" e disse que essa seria sua principal mensagem a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que, depois de passar pela Argentina, vai ao Uruguai.

O uruguaio se referia a acordos de livre comércio que Montevidéu negocia com países como China e Nova Zelândia, algo que vem sendo criticado por outros membros do Mercosul. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, por exemplo, já sugeriu que tirar uma ideia como essas do papel significaria a destruição do bloco.

Lacalle Pou criticou o que chama de protecionismo do Mercosul e pediu que líderes da região parem de "reclamar para dentro" e compreendam que é preciso avançar na integração global.

Além de recados ao governo brasileiro, sobraram também indiretas ao governo de Alberto Fernández na Argentina. O líder uruguaio disse, por exemplo, que "não é necessário ser de esquerda para defender a democracia", contrariando mensagens ecoadas pelo peronista e também por Lula em Buenos Aires.

Depois, em referência ao comentário do ministro da Economia argentino, Sergio Massa, para quem o Uruguai é um "irmão menor" a quem Brasil e Argentina deveriam "cuidar", Lacalle Pou riu e respondeu "Disneylândia", uma maneira de definir a declaração como infantil.

O próprio Fernández adotou discurso semelhante ao de seu ministro. Em entrevista recente à Folha de S.Paulo, disse que o Uruguai "deve entender que se deve buscar objetivos como sócio de uma região". E seguiu: "Esse é o papel de países menores, enquanto o dos maiores é atender as assimetrias que existem, tirar os obstáculos para países menores."

Lacalle Pou diz não ver o Mercosul como obstáculo em relação às tentativas de seu governo de negociar pactos comerciais de maneira independente. Além do acordo com a China, ele também apresentou recentemente um pedido de ingresso formal no CPTPP (Acordo Abrangente e Progressivo de Parceria Transpacífica), formado por 11 países da Ásia e da América, entre os quais Chile e Peru.

Um dos principais nomes contrários a essas negociações é Fernandéz. Diferentemente de seu antecessor, Maurício Macri, ele defende um bloco mais fechado -os líderes argentino e uruguaio protagonizaram um debate acalorado sobre o tópico na última cúpula do Mercosul, em julho passado.

O Brasil teve postura ambivalente em relação ao tema durante o governo Bolsonaro. Mas Lula, em seus mandatos anteriores, foi um ferrenho defensor de um Mercosul integrado, postura que, como demonstraram as declarações de Mauro Vieira, sustenta-se ainda hoje.

Questionado sobre a compatibilidade do pleito uruguaio em relação às normas do Mercosul, o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT), um dos membros da comitiva de Lula em Buenos Aires, respondeu que "isso nós veremos amanhã".


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