SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS0 - Os Estados Unidos voltaram a diluir a linha vermelha estabelecida pelo governo de Vladimir Putin acerca de seu apoio militar à Ucrânia no combate à invasão russa, que completa um ano no próximo dia 24. A reação do Kremlin mostra que a aposta ocidental parece estar dando certo até aqui.
Segundo a agência Reuters, um novo pacote de US$ 1,75 bilhão em armamentos está sendo montado nos EUA. Ele inclui uma nova arma desenvolvida pela Boeing americana e pela Saab sueca, a GLSDB (sigla inglesa para Bomba de Pequeno Diâmetro Lançada do Solo).
É uma arma inovadora: um foguete é acoplado a munições antigas, transformando-se em um pequeno míssil que pode atingir alvos a até 150 km --o suficiente para atingir todas as áreas ocupadas por Moscou, a fronteira da Crimeia anexada e, algo que Kiev sempre promete não fazer, cidades na Rússia.
Hoje, os foguetes lançados pelos sistemas americanos Himars são de modelos com até 80 km de alcance, o máximo que a Ucrânia opera. Os GLSDB não chegam ao nível dos ATACMS (Sistema de Míssil Tático do Exército), com 300 km de alcance, mas teoricamente violariam a linha vermelha que o Kremlin havia estabelecido em setembro passado.
As novas armas têm uma vantagem crucial. Como são feitas com munições antigas, seu custo é baixo, de US$ 40 mil por peça. Um míssil ATACMS, US$ 1 milhão. A Ucrânia já dispõe das plataformas de lançamento do GLSDB, como o sistema M270 americano.
O porta-voz do Kremlin, Dmitir Peskov, foi instado por repórteres nesta quarta (1º) a falar sobre o tema. Sua resposta começou pela usual crítica da escalada militar ocidental, mas completou: "Isso não vai mudar o rumo dos eventos".
Das duas, uma. Ou a Rússia está confiante de que sua ofensiva no leste do país pode gerar um avanço definitivo para tomar Donetsk, a menos controlada das quatro áreas que anexou ilegalmente em segtembro, ou apenas está aceitando realidades.
Ao longo dos meses, a resposta padrão de Moscou foi a de se queixar da escalada ocidental e, aqui e ali, fazer ameaça do risco de um conflito nuclear com as forças da Otan (aliança militar ocidental).
Com isso, o fornecimento de armas foi de mísseis portáteis antitanques para sistemas de artilharia, baterias antiaéreas e, nas emana passada, a formação de uma coalizão de países dispostos a entregar tanques de guerra para Kiev.
O governo de Volodimir Zelenski falou na terça (31) em 140 blindados do tipo em uma primeira leva, mas é preciso um grão de sal ao avaliar isso.
Tudo dependerá do tempo de preparo dos tanques, da formação de equipes, levando em conta que a maioria deles será de alemães Leopard-2 usados por países europeus, mas que britânicos prometem 14 Challenger-2 e americanos, 31 complexos M1 Abrams. Ou seja, treinamentos e logísticas à parte.
Como o rugido russo tem ficado nisso, contudo, o Ocidente está acelerando suas tratativas para transformar a Ucrânia numa fortaleza armada. Resta saber se o objetivo é forçar uma negociação com os russos, o que é mais provável, ou para de fato tentar dar uma vitória militar para Kiev --algo mais difícil, em especial quando Zelenski diz que isso só viria com o retorno da Crimeia, anexada há nove anos.
O próximo passo são os caças. Como disse o secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, o lobby ucraniano por armas sempre passa por três etapas no Ocidente: o "não", o "vamos estudar" e o "concordamos".
EUA, Reino Unido e Alemanha já disseram ser contra o plano polonês de enviar alguns de seus 48 caças americanos F-16 para Kiev --algo que também demandaria tempo de treinamento e logística cara. No ano passado, Washington já havia vetado a transferência da frota de 28 caças soviéticos MiG-29, que os ucranianos já operam.
A Força Aérea de Kiev sobrevive aos trancos e barrancos. Segundo o site de observação de dados abertos holandês Oryx, os ucranianos já perderam 57 de seus 124 aviões de combate no conflito.
A França, por outro lado, já está na etapa dois da conversa, tendo dito que está estudando a possibilidade de fornecer caças mais antigos, provavelmente do modelo Mirage, para Kiev. Mas não há nenhum acerto, segundo o governo de Emmanuel Macron, que condicionou qualquer avanço à promessa irrealista de que Kiev não avançaria sobre espaço aéreo russo.
Nesta sexta (3), Zelenski fará o que chamou de cúpula com representantes da União Europeia, bloco em que gostaria de ingressar. Irá prometer reformas na corrupta estrutura política de seu país, que passou por expurgo inicial na semana passada.
Será mais uma oportunidade para reforçar seu lobby por armas, que até aqui já levou só dos EUA quase US$ 30 bilhões --quase dez vezes seu orçamento de defesa pré-guerra.
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