SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A diplomacia de Pequim voltou a atacar nesta segunda-feira (6) a decisão dos Estados Unidos de derrubar um balão chinês, acusado por Washington de atividades de espionagem. Segundo o país asiático, o artefato era civil e destinado a pesquisas meteorológicas.

"As ações impactam e prejudicam seriamente os esforços de ambas as partes e o progresso para estabilizas as relações sino-americanas", disse o vice-ministro das Relações Exteriores da China, Xie Feng, em nota encaminhada à embaixada dos EUA em Pequim e mais tarde publicada no site da chancelaria.

O texto destaca que o país "se opõe firmemente à decisão e protesta de forma veemente contra ela", afirmando ainda que o regime de Xi Jinping vai acompanhar os desdobramentos da situação.

Na tarde de sábado (4), um caça da Força Aérea americana abateu um balão chinês na costa da Carolina do Sul. Dias antes, a descoberta do artefato gerou uma contenda entre as duas partes, com o adiamento de uma viagem a Pequim do secretário de Estado, Antony Blinken.

O deslocamento do responsável pela diplomacia americana se daria justamente num contexto de esforços para reaproximar as potências, depois de Xi ter se encontrado pessoalmente com o presidente Joe Biden em novembro, na Indonésia, na sequência de meses de alta tensão ?ante discussões comerciais, diplomáticas e militares.

Mais recentemente, de todo modo, o clima tinha voltado a azedar, com os EUA tendo anunciado em Manila um acordo para o uso de mais quatro bases militares nas Filipinas, expandindo a presença no mar do Sul da China, região reivindicada por Pequim.

Washington detectou o suposto balão espião de alta altitude em 28 de janeiro. Três dias depois, o artefato passou ao espaço aéreo canadense e voltou ao americano no dia 31. Só na quinta (2) o Pentágono noticiou o caso.

Biden havia dado ordens para os militares derrubarem o balão o mais rápido possível, mas as autoridades de defesa precisaram esperar até que ele passasse a sobrevoar o oceano Atlântico, sob risco de destroços atingirem áreas civis ?o equipamento teria o tamanho equivalente a três ônibus.

O balão percorreu o país ao longo de sete dias, o que provocou reações dentro e fora do governo, com o Pentágono sustentando que ele violava a soberania dos EUA e republicanos criticando a condução do caso.

A descoberta confundiu especialistas em segurança, que afirmam que, embora os países tenham usado satélites para se vigiarem mutuamente, balões soam como uma tática de espionagem algo amadora: as imagens que eles conseguem produzir não são muito mais valiosas em termos de informações do que aquelas produzidas do espaço. Para alguns, então, o artefato seria uma provocação política.

Já no sábado Pequim tinha dado uma resposta dura à decisão de abater o item. "O fato de os EUA terem insistido no uso de força armada é claramente uma reação excessiva, que viola convenções internacionais", disse a chancelaria, em comunicado. "A China vai defender os direitos e interesses legítimos da empresa envolvida e se dá ao direito de responder no futuro em situações semelhantes."

O país asiático vinha dizendo que o objeto era civil e que sua presença no espaço aéreo americano era "totalmente acidental".

Analistas veem o recado chinês, porém, mais como alerta, apontando que qualquer resposta será calibrada nos mínimos detalhes, de forma a evitar uma piora ainda mais grave nas relações.

Neste domingo, autoridades militares dos EUA afirmaram que as operações de resgate dos destroços do balão continuam. A Marinha, responsável pelo caso, conta com o auxílio da Guarda Costeira.

A recuperação dos equipamentos é vista como essencial para se certificar do propósito do artefato derrubado e ter acesso a capacidades de espionagem da China.

O balão foi derrubado por um caça F-22 na costa da Carolina do Sul, a cerca de 6 milhas náuticas (11 km) da orla. Imagens publicadas nas redes sociais flagraram o que seria o momento do abate. A carga e os destroços do balão teriam caído em águas não muito profundas.


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